20 de outubro de 2024

Câncer de mama: entenda os fatores de risco para a doença em pessoas trans e como prevenir

Médico conta que alterações hormonais podem mudar a chance de uma pessoa transexual desenvolver a doença e ressalta a importância de acompanhamento adequado. Pastor trans que teve câncer relata renascimento após retirada da segunda mama
Normalmente associado ao sexo feminino que, de fato, é mais acometido, o câncer de mama também pode se manifestar em pessoas do sexo masculino. Mais do que isso, a doença exige atenção especial entre pessoas transexuais.
Luiz Gustavo Oliveira Brito, doutor em ginecologia pela Unicamp, explica que a terapia de hormonização feita durante a transição de gênero pode colocar essa população em um patamar específico na chance de desenvolver esse tipo de câncer.
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Além disso, fatores como uso inadequado de testosterona e estrogênio, aliado à vulnerabilidade social, que muitas vezes afasta a população dos serviços de saúde e dificulta o autocuidado, também podem elevar a probabilidade de surgimento da doença.
No Dia Mundial de Combate ao Câncer de Mama, data celebrada neste sábado (19) e que dá origem à campanha Outubro Rosa, o g1 explica quais são os riscos para essa população e quais cuidados devem ser adotados para prevenir a doença.
Nesta reportagem você vai ver:
Qual a relação entre a transexualidade e os hormônios
Pessoas transexuais podem ter câncer de mama?
O que os hormônios têm a ver com o câncer de mama
O que você precisa saber sobre o câncer de mama
A transexualidade e os hormônios
Antes de analisar o assunto, é válido relembrar:
Homens transgênero: pessoas que ao nascer foram atribuídas ao sexo biológico feminino, mas que se identificam como homens;
Mulheres transgênero: pessoas que ao nascer foram atribuídas ao sexo biológico masculino, mas que se identificam como mulheres;
Homens e mulheres cisgênero: pessoas que se identificam com o sexo biológico atribuído no nascimento.
Nem toda pessoa transexual deseja modificar características físicas para se adequar ao gênero com o qual se identifica – e isso não a torna menos trans. No entanto, aquelas que desejam transformar o corpo como forma de afirmação de gênero podem optar por terapias hormonais e cirurgias.
Homens trans: podem recorrer à mastectomia masculinizadora (retirada das mamas) e uso de testosterona (hormônio masculino), entre outros procedimentos, para ter uma aparência mais masculina, com aumento da massa muscular e crescimento de pelos.
Mulheres trans: podem recorrer a implantes mamários (silicone) e uso de estrogênio (hormônio feminino) – que também altera a mama, muda a distribuição de gordura no corpo –, entre outros procedimentos, para ter uma aparência mais feminina.
Pessoas transexuais podem ter câncer de mama?
A resposta é sim. Embora a doença seja predominante entre as mulheres cisgênero – segundo tipo mais comum no público feminino, atrás apenas do tumor maligno da pele – o câncer de mama pode se manifestar em qualquer pessoa.
Veja só: dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), mostram que o tumor maligno da mama representa cerca de 28% dos casos novos em mulheres. Entre homens, representa ao menos de 1% do total de casos da doença. O levantamento não especifica se fala de pessoas trans ou cis.
A questão, segundo Luiz Gustavo, é que entre pessoas transexuais essas estatísticas tendem a ser diferentes e o motivo está, justamente, nos hormônios e nas modificações que eles causam no corpo.
“É comum o paciente pensar: ‘se eu estou me transformando para ser um homem [no caso da transição de feminino para masculino], o meu risco risco cai’. Tudo bem que a chance de um homem ter câncer de mama é 135 vezes menor do que uma mulher, então alguns acham que não precisam fazer mamografia, mas não é verdade”.
Afinal, o que os hormônios têm a ver com o câncer de mama?
O médico explica que o câncer de mama pode ser influenciado por hormônios, mas eles não são o único fator. No entanto, pontua dois fatores que os relacionam ao risco da doença em pessoas transexuais:
PRIMEIRO PONTO: o uso de testosterona e estrogênio de forma errada e sem acompanhamento médico pode influenciar o desenvolvimento de diferentes tipos de tumores.
“Quando a gente prescreve hormônio para a pessoa, a gente prescreve dosagens em níveis fisiológicos para aquele gênero que ela deseja. Se a pessoa feminina faz a redespara homem trans, a gente aumenta a testosterona para que seja igual a de um homem cisgênero. O mesmo acontece com o estrogênio, que vão diminuir para ficar como o de alguém que nasceu masculino”.
“Às vezes, o que acontece é que eles usam doses que não são as recomendadas. Esse é o primeiro ponto. A mulher trans exagera no estrogênio achando que vai ficar mais feminina e isso aumenta o risco. O homem trans também. Toma tanta testosterona que o corpo pode transformar em estrogênio, que normalmente é ligado a esse tipo de câncer”.
SEGUNDO PONTO: as mudanças que esses hormônio causam no corpo, aliadas às características do sexo biológico e do gênero para o qual a pessoa está transicionando.
Um estudo publicado em 2023 no European Journal of Cancer Prevention analisou a incidência da doença nesta população e constatou:
Homens trans tem menor probabilidade de desenvolver câncer de mama do que uma mulher cis;
Homens trans tem maior probabilidade de desenvolver câncer de mama do que um homem cis;
Mulheres trans tem menor probabilidade de desenvolver câncer de mama do que uma mulher cis;
Mulheres trans tem maior probabilidade de desenvolver câncer de mama do que um homem cis.
E por que isso acontece? O uso do estrogênio faz com que as mulheres transexuais tenham alterações nas mamas, que passam a ser semelhantes as de uma mulher cis. Por isso, o risco de ter câncer passa a ser mais parecido com o de uma mulher cisgênero.
“Às vezes as mulheres trans pensam assim: ‘como eu sou biologicamente um homem inicialmente, eu não tenho esse risco aumentado’. Porém, os estudos mostram que o risco pode ser diminuído a igual, mas é maior que o do homem cis.
No caso do homem trans que toma testosterona, é o oposto. Ele vai ter alterações na quantidade de gordura, no volume e na composição por causa do hormônio, vai ficar mais próximo de um homem cis, mas as glândulas mamárias continuam e precisam de acompanhamento.
Se o homem trans optar pela retirada das mamas, essa probabilidade diminui, mas ainda dependerá da extensão do procedimento cirúrgico. Se os mamilos forem mantidos e se ainda houver tecido mamário no interior do corpo, a chance de desenvolver a doença ainda vai existir.
Como prevenir a doença
O professor da Unicamp reconhece que as pessoas trans podem enfrentar barreiras na saúde por conta da discriminação ou até da situação de moradia.
Além de dificultar o acesso a uma terapia de transição de gênero correta, esse cenário também atrapalha a busca por atendimento médico preventivo e atrapalha o cuidado com o próprio corpo.
Porém, lembra que a principal forma de prevenir o câncer de mama é manter um estilo de vida saudável, com boa alimentação e atividades físicas, e fazer acompanhamentos de rotina.
Quais são os sintomas do câncer de mama?
Segundo o Ministério da Saúde, o aparecimento de nódulo é o sintoma mais comum de câncer de mama. Ele geralmente é indolor, duro e irregular, mas há tumores que são de consistência branda, globosos e bem definidos. Outros sinais de alerta são:
aparecimento de nódulos na região dos braços (axilas) ou pescoço;
mudanças na pele, que pode ficar avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja
alterações no mamilo
dor;
saída de secreção líquida de um dos mamilos.
Como é o diagnóstico do câncer de mama?
Independentemente do sintoma, o diagnóstico só pode ser feito após investigação. Para isso, pode ser necessária a realização de:
exame clínico das mamas;
exames de imagem (mamografia, ultrassonografia ou ressonância, por exemplo);
biópsia.
Tratamento
O câncer de mama tem cura e o tratamento varia de acordo com cada caso. Apenas um médico pode definir a opção mais adequada para o paciente.
Entre as terapias mais utilizadas estão a mastectomia (retirada da mama), radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e o uso de anticorpos.
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