19 de outubro de 2024

Polícia Civil conclui primeira parte da investigação sobre órgãos transplantados com HIV; saiba o que dizem os depoimentos

Justiça manteve a prisão temporária dos 4 funcionários do laboratório PCS Saleme. Polícia Civil conclui primeira parte da investigação sobre órgãos transplantados com HIV
A Polícia Civil concluiu a primeira parte da investigação sobre os órgãos transplantados com HIV e, nesta sexta (18), e a Justiça manteve a prisão temporária dos quatro funcionários do laboratório PCS Saleme.
O último a ser preso, Cleber de Oliveira Santos, disse em depoimento ao que o RJ2 teve acesso, que não trabalhava mais no PCS Saleme na época dos exames errados.
O biólogo aposentado disse que só foi contratado verbalmente e que foi substituído no dia 20 de janeiro de 2024 com a chegada da nova coordenadora Adriana Vargas dos Anjos. O primeiro exame com o falso negativo foi feito de três dias depois, em 23 de janeiro.
Cléber também informou que durante sua gestão como coordenador sempre exigiu que fosse feito o controle de qualidade dos equipamentos diariamente.
A equipe de reportagem teve acesso aos depoimentos da Jacqueline Bacellar, que também está presa. O depoimento dela coincide com o de outro funcionário preso, o técnico de laboratório Ivanílson Fernandes dos Santos. Os dois disseram que receberam ordens para economizar no controle de qualidade.
Jaqueline afirmou que foi o próprio Walter Vieira, dono da clínica que também está preso, que deu ordem a todos os setores para economizar custos e que a ordem era que a calibragem dos aparelhos, que deve ser diária, fosse feita uma vez por semana, o que compromete a segurança e a qualidade dos resultados.
Bacellar disse também que os funcionários do PCS Saleme souberam antes de uma fiscalização da Vigilância Sanitária na sala dentro do Instituto Estadual de Cardiologia (Iecac). Ela disse que soube no dia 5 de outubro, através de um grupo de Whatsapp, e que tudo foi arrumado para que a fiscalização tivesse uma boa impressão.
Em depoimento, a coordenadora técnica do PCS, Adriana Vargas, foi acusada por Ivanilson Santos de ter dado a ordem para economizar no controle de qualidade.
Adriana não foi presa, mas foi chamada para depor. Ela disse que sua tarefa era apenas supervisionar os técnicos, que nunca soube de mudanças nos protocolos de controle de qualidade e que nunca deu ordem para que esse controle fosse semanal.
Filho de Walter Vieira e também dono do laboratório, Matheus Vieira havia ficado em silêncio no primeiro depoimento e apareceu novamente para depor. Ele negou veementemente que o controle de qualidade tenha sido reduzido de diário para semanal por questões de economia. Matheus também negou que o laboratório tivesse sabido antes da fiscalização da vigilância sanitária.
O Ministério Público enviou à Justiça uma representação com novas acusações. Os promotores afirmam que os investigados e o PCS Saleme já emitiram dezenas de resultados com falso positivo e falso negativo para HIV, inclusive em exames de crianças e estão respondendo a inúmeras ações indenizatórias por danos morais e materiais, de forma que a reiteração dessa conduta demonstra total indiferença com a vida de seus clientes e da população como um todo.
O MP conclui dizendo que “os erros nos laudos representam total desrespeito à vida, movida pela ganância e pelo lucro, algo sem precedentes no Brasil”.
Controle de qualidade dos testes
O RJ2 esteve em um laboratório na Zona Norte do Rio para mostrar como devem ser feitos os exames de HIV, de acordo com as normas e com o controle de qualidade.
O Rio de Janeiro tem três laboratórios de tamanho parecido com este, sendo três empresas privadas concorrentes, que fazem exames em grande escala e são submetidas a controle rigoroso de qualidade. Sem falar no principal, o Hemorio, uma instituição pública de grande capacidade.
Diante disso, causa espanto que exames tão importantes quanto os da Central Estadual de Transplantes fossem feitos em uma pequena sala, a cargo de um laboratório de muito menor escala.
A salinha funcionava dentro do Instituto Estadual de Cardiologia, no bairro do Humaitá, na Zona Sul do Rio. A direção do instituto comunicou à polícia que o PCS Saleme nunca informou ao hospital que os exames para transplantes eram feitos ali, já que a finalidade da sala eram os exames do próprio Iecac.

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