20 de outubro de 2024

Mãe, filha, irmã e sobrinha reconstroem as mamas após descoberta de gene cancerígeno: ‘Hoje somos mais fortes’

Moradora de Sorocaba (SP), Maraiza Meneguel teve que retirar as mamas após a descoberta através da sua irmã, que recebeu o diagnóstico de um câncer hereditário. Hoje, ela, a irmã, a filha e a sobrinha reconstruíram o órgão depois de um tratamento bem sucedido. Mãe, filha, irmã e sobrinha fizeram o procedimento cirúrgico
Arquivo pessoal
Quatro mulheres da mesma família de Sorocaba, no interior de São Paulo, precisaram unir forças para enfrentar o diagnóstico de um gene que poderia causar câncer nas mamas. Para evitar a doença, mãe, filha, irmã e sobrinha tomaram uma decisão corajosa: a retirada dos seios.
Neste sábado (19), Dia Mundial de Combate ao Câncer de Mama, o g1 conta a história dessas mulheres que encontraram força na família para evitar a doença.
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Fernanda (à esquerda) e Maraiza (à direita) são irmãs e fizeram o procedimento de retirada das mamas
Arquivo pessoal
A auxiliar administrativa Maraiza Meneguel, de 40 anos, descobriu a anomalia por meio da irmã Fernanda, que foi diagnosticada com câncer de mama nos Estados Unidos, onde vive atualmente.
“No laudo, havia dito que era hereditário. Por isso, os médicos dos EUA nos aconselharam a fazer o exame para ver se também possuíamos o fator. E no fim, eu, minha mãe e minha sobrinha testamos positivo”, acrescenta.
Elas contam que foram diagnosticadas com uma diferença no gene BRCA1, responsável por codificar proteínas que reparam o DNA danificado e previnir doenças. No caso de Maraiza, a anomalia poderia desencadear câncer.
“Quando descobrimos tudo, nosso chão desabou. Passamos por diversos médicos e todos eles nos aconselharam que, para prevenir, nós deveríamos fazer a mastectomia total, ou seja, a retirada das mamas. Por ser uma genética muito forte e agressiva, uma hora, nós teríamos a doença. Seria inevitável”, explica.
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A auxiliar lembra que teve medo de fazer o procedimento. Seu sofrimento era ainda maior quando pensava na maternidade, sonho ainda não realizado. No entanto, ela tomou coragem ao ver a força que a irmã Fernanda teve.
“Eu não aceitava que teria que retirar as mamas, pois eu ainda não sou mãe. À época, a Fernanda já tinha retirado. Vendo todo o sofrimento dela, tão longe, passando por tudo sozinha, sendo sempre positiva, me fez mudar de ideia. Virei para a Neide, minha mãe, e disse ‘Temos que fazer, Deus nos deu essa chance de descobrirmos antes’”, relembra.
Maraiza comenta que, apesar de necessário, pensou em desistir inúmeras vezes, mesmo sabendo que as mamas seriam reconstruídas com próteses de silicone no mesmo procedimento.
“Eu fiquei por último. Fiz quatro meses depois da minha mãe e da Winy. Até pensei em desistir. Acabando a mastectomia, o médico já fez a reconstrução com uma prótese de silicone em cada lado. Felizmente, deu tudo certo”, comenta.
A retirada das mamas chamou a atenção do mundo em 2013, quando Angelina Jolie decidiu realizar o procedimento, considerado extremamente caro para a época.
Maraiza ficou sabendo do gene após sua irmã ser diagnosticada
Arquivo pessoal
Resultado
Desde então, Maraiza afirma que está feliz e aliviada com o resultado da reconstrução das mamas. De acordo com ela, o processo de recuperação foi tranquilo e bem acompanhado, graças à atenção de seu cirurgião responsável.
“Quando vi o resultado pela primeira vez, fiquei apaixonada. O médico tirou todas as minhas dúvidas de forma muito didática e tranquila. Ele me deixou confiante. Graças a Deus, deu tudo certo para nós quatro”, celebra.
Hoje, já recuperada do procedimento, a mulher pontua a força que cada uma das integrantes da família possui. Apesar de ser um tema delicado, ela encoraja outras pessoas a não terem medo de realizarem os exames e enfrentarem o que for necessário.
“Hoje nós somos mais fortes. Para uma mulher, perder a mama é muito sofrido. Mexe demais com a autoestima. Por isso, eu falo para todas as mulheres realizarem os exames periodicamente. Ele salva vidas! O câncer é uma doença sofrida”, finaliza.
Mãe, filha, irmã e sobrinha fizeram o procedimento cirúrgico
Arquivo pessoal
Cuidados e prevenções
Delmo Sakabe fez a reconstrução das mamas de Maraiza
Arquivo pessoal
Ao g1, o médico Delmo Sakabe, especialista na retirada e reconstrução de mamas, explica que a quantidade de pessoas que possuem a anomalia pode ser de uma a cada 1 mil pessoas, considerado como uma condição rara.
“Na população geral, a incidência é bem rara, em torno de uma pessoa a cada 1 mil. Porém, em famílias com três ou mais mulheres com câncer de mama ou ovário, a incidência chega a atingir 16 pessoas a cada 100, tornando necessária a investigação genética das mulheres da família”, destaca.
A anomalia, continua Sakabe, pode afetar os genes BRCA1 e BRCA2, sendo necessária investigação médica.
Delmo comenta que a cirurgia, feita por um mastologista ou um cirurgião oncologista, pode ser usada para a retirada e a reconstrução de uma só vez, especificamente para pacientes em estágio inicial. Em pessoas já avançadas, a segunda fase é feita em um momento posterior.
De acordo com o cirurgião, a recuperação costuma ser rápida e curta em pacientes iniciais, devido ao trauma cirúrgico ser reduzido. No entanto, as pessoas que passarem pela cirurgia precisam estar preparadas para um período de repouso.
“A reconstrução feita em estágios iniciais certamente possui uma evolução mais rápida e mais curta já que o trauma cirúrgico tende a ser menor e a capacidade de recuperação do corpo é maior. Não é uma cirurgia que costuma evoluir com muita dor ou desconforto, mas é importante que a paciente esteja preparada para esse pós operatório”, diz.
Apesar de ser um procedimento tranquilo, Sakabe afirma que existem particularidades, que podem variar. Para uma melhor reação do organismo, a prática de exercícios físicos regularmente é um fator essencial.
“Além disso, existem diversas outras dicas. Evitar o tabagismo, manter uma alimentação saudável e equilibrada, manter o peso corporal adequado, amamentar quando possível e realizar o autoexame das mamas podem ajudar bastante”, complementa.
Com relação à parte psicológica, o médico diz que a palavra câncer é capaz de assustar muitas pessoas. No entanto, o trauma pode ser menor se a doença for descoberta de maneira precoce.
“Certamente existe uma implicação psicológica importante se tratando da palavra ‘câncer’ em que muitas pessoas associam esse nome ao sofrimento. Porém, quanto antes for o diagnóstico e a prevenção, menor será o trauma psicológico dessas mulheres. É uma doença solucionável, e deve ser encarada dessa forma para não afetar o emocional das mulheres”, finaliza.
*Colaborou sob supervisão de Matheus Arruda
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