19 de outubro de 2024

Em vídeo emocionante, cabeleireiro viraliza ao atender jovem com Down e autismo após três sessões: ‘Fui ganhando a confiança dele’

Pai de menina autista e diagnosticado com déficit de atenção, Manoel Neto conseguiu convencer adolescente a cortar o cabelo por meio de brincadeiras e conversas. ‘Fui ganhando a confiança dele’, diz cabeleireiro após atender jovem com Down e autismo
Dono de um salão de beleza especializado no atendimento de crianças e jovens neuroatípicos no Centro do Recife, o cabeleireiro Manoel Neto viralizou na internet ao atender um adolescente com autismo e síndrome de Down. Em vídeo publicado no Instagram, ele disse que levou três sessões para ganhar a confiança de João Victor Barreto, de 16 anos, que tinha aversão à ideia de cortar o cabelo (veja vídeo acima).
Pai de uma menina autista de 7 anos e diagnosticado com déficit de atenção e hiperatividade, Neto aprendeu o ofício com a mãe cabeleireira e durante o período em que serviu no Exército (saiba mais abaixo). Emocionante, o vídeo tinha mais de 182 mil curtidas até a noite de sexta-feira (18).
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“João tinha muito medo de cortar o cabelo. Ele não queria nem entrar no salão. Fui ganhando a confiança dele. (…) Não ia forçar, não ia apertar, não ia puxar, não ia prender para poder cortar o seu cabelo. Foi assim que ele ganhou confiança para poder entrar no salão”, contou o barbeiro no vídeo.
Segundo o profissional, o primeiro desafio foi convencer o jovem a entrar no salão. Depois, foram necessários mais dois encontros, com muitas conversas e brincadeiras.
Ao g1, o pai do adolescente, o funcionário público João Bosco Barreto, disse que o filho não cortava o cabelo há pelo menos quatro anos; desde que começou a pandemia de Covid-19.
“Tinha um salão específico aqui no Recife onde o rapaz cortava muito rápido, mas era aquele corte de só aparar mesmo, para tirar o excesso de cabelo. Mas, com a pandemia, a gente ficou preso em casa, perdeu o hábito. Quando voltou, ele não quis mais, de jeito nenhum. Já ‘grandinho’, não tem como você segurar. Chegava no salão e sentava no chão”, disse João Barreto.
O pai contou ainda que recebeu a indicação de levar João Victor ao salão do “Tio Neto” na clínica onde o rapaz faz terapia, enquanto conversava com mães de outros jovens autistas. No início, não acreditou muito que o profissional conseguiria, mas se surpreendeu.
“Ele [o cabeleireiro] deixou bem claro que iria fazer aquele corte no tempo em que ele [o adolescente] quisesse, no tempo dele. Não seria nada imposto. Ele não seria contido, ninguém ia forçá-lo a fazer o que não quisesse. (…) E também João Victor queria. Tanto que ficou muito feliz depois que cortou o cabelo. Ele queria, mas tinha medo”, afirmou João Barreto.
Depois de todo o trabalho, a felicidade demonstrada por João Victor foi gratificante. “Deu um sorriso, emitiu sons de alegria, uns gritinhos de alegria, passando a mão no cabelo. Chegou para mim, pegou minha mão e colocou para passar na cabeça dele para mostrar”, recordou o pai.
Cabeleireiro Manoel Neto com João Victor, jovem de 16 anos que tem síndrome de Down e autismo
Acervo pessoal
Acolhimento e início do projeto
Ex-militar do Exército e pai de uma menina autista de 7 anos, Maria Júlia, Manoel Neto falou que muitos dos pequenos que chegam ao salão demonstram ter traumas de experiências anteriores e medo da tesoura e das máquinas. Embora não seja um estabelecimento exclusivo para pessoas neuroatípicas, as crianças autistas representam a maior parte dos clientes.
“É muito marcante quando se tem esse extremo. A criança se machucar para não cortar o cabelo e aí ela passar a confiar em você, sorrir, ficar orgulhosa dela mesma porque conseguiu cortar o cabelo. É muito gratificante ver a mãe, o irmão ali, o pai feliz porque a criança cortou o cabelo”, contou.
Segundo o “Tio Neto”, devido à grande sensibilidade que pessoas do espectro autista podem ter a estímulos sensoriais, as crianças podem ter comportamentos autolesivos e se machucarem ao tentar afastar a tesoura ou a máquina. Nesses casos, é necessário tempo e insistência até que se sintam confortáveis para o momento do corte.
A ideia de montar o salão de beleza infantil, que funciona no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife, veio a partir de uma conversa com sua mãe, que trabalhou a vida inteira como cabeleireira. Depois do nascimento da neta Maria Júlia e após conversar com pessoas que convivem com crianças autistas, Dona Terezinha começou a atender outras crianças autistas.
“Eu comecei a perguntar [sobre o atendimento às crianças] e teve um dia que ela falou: ‘Ah, teve uma mãe que veio reclamar porque eu segurei a criança. Não tem como cortar o cabelo da criança sem segurar’. Aí eu falei: ‘Opa! Calma aí, calma aí. Se fosse com minha filha, eu chamava a polícia’”, contou, comentando sobre a conduta da mãe.
Apesar da brincadeira, Neto realmente levou a sério a necessidade de um atendimento especializado e em menos de três meses idealizou o conceito do salão, estudou e inaugurou o espaço que hoje atende cerca de 500 crianças, com pouco mais de sete meses de funcionamento.
A habilidade de barbearia foi aprendida com a mãe e treinada durante os anos em que Neto serviu no Exército Brasileiro, cortando os cabelos dos colegas no quartel.
Neto, que tem diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), aproveitou um pico de hiperfoco na ideia e se debruçou nas pesquisas. Poucos dias após inaugurar o espaço, iniciou um curso técnico em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), concluído no mês de setembro.
“A gente tem quatro pontos importantes no atendimento: a ambientação, o ganho de confiança, a apresentação dos equipamentos e, por último, a aproximação para o corte de cabelo. Cada fase dessa a gente tem vários objetivos e várias técnicas para poder conduzir a criança no atendimento”, explicou.
Manoel Neto levou três sessões para cortar cabelo de João Victor, jovem com síndrome de Down e autismo
Acervo pessoal
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