22 de outubro de 2024

Lista de seguranças de Adilsinho tem 42 nomes; 23 são PMs da ativa

Atividade de segurança não é crime, mas investigações da Delegacia de Homícidios da Capital revelaram que vários integrantes da lista têm histórico de crimes, além de indícios de ligações com casos investigados envolvendo a máfia de cigarros ilegais e o jogo do bicho. Adilson Oliveira, o Adilsinho
Reprodução/Fantástico
Em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, 42 homens cadastrados como seguranças fizeram visitas ao apartamento de Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, entre janeiro de 2020 e abril de 2023. Entre os cadastrados, 23 são PMs da ativa.
A atividade de segurança privada não constitui crime. No entanto, as investigações da Delegacia de Homícidios da Capital revelaram que vários integrantes da lista de seguranças têm histórico de crimes, além de indícios de ligações com casos investigados envolvendo a máfia de cigarros ilegais e o jogo do bicho.
Em nota, a Polícia Militar informou que acompanha as investigações e que os PMs respondem a processo disciplinar.
Adilsinho, segundo escutas da Polícia Federal, defende a criação de uma nova cúpula da contravenção.
Desde 2021, o nome de Adilsinho já foi associado a:
Jogo do bicho;
Máfia de cigarros ilegais;
Escolas de samba (Salgueiro);
Clube de futebol (Barra da Tijuca Futebol Clube)
Festa luxuosa no Copacabana Palace.
Convite da festa de Adilsinho tinha vídeo com ares de ‘Poderoso Chefão’
Reprodução
A Delegacia de Homicídios da Capital encontrou indícios da participação de Adilsinho nos assassinatos de Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, em 2022 e de Fernando Marcos Ferreira Ribeiro, na Tijuca, em 2023. Os dois homicídios, segundo as investigações, estão ligados à guerra da contravenção por pontos do jogo do bicho na Zona Sul e na Zona Norte do Rio.
Os processos seguem em andamento na Justiça. A DH investiga outros casos de homicídios com suspeita de envolvimento da contravenção e a máfia de cigarros ilegais.
Dados da lista
Dos 42 nomes na lista, 30 indivíduos respondem a processos judiciais ou têm investigações anteriores contra eles.
23 dos integrantes da lista são PMs da ativa, de diferentes batalhões e departamentos
7 dos PMs ou ex-PMs que atuaram como seguranças no período estão lotados ou já trabalharam no 15º BPM (Duque de Caxias)
Alguns dos visitantes do apartamento de Adilsinho já foram processados ou estão sendo investigados por crimes ligados à contravenção e à máfia de cigarros:
Rafael do Nascimento Dutra, o Sem Alma
Wanderson Ribeiro Marques de Lemos, o Chacal
José Gomes da Rocha Neto, o Kiko
Flávio Serafim da Silva Júnior, o Bu
Maxwell Ferreira da Silva, o Maxwell PM
As investigações da Polícia Civil mostraram que Sem Alma, apontado como chefe de um grupo de extermínio ligado a Adilsinho, tinha documentos relativos ao suposto chefe guardados em seu celular: um registro de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) em nome dele e um contrato de locação de um apartamento na Flórida, nos Estados Unidos, para Adilson e sua família.
Os casos reunidos pelo g1 envolvem acusados e investigados por crimes como:
tráfico de animais silvestres
ameaça
organização criminosa
tráfico de drogas
receptação qualificada
homicídio qualificado
estupro
lesão corporal grave
extorsão
corrupção passiva
porte ilegal de arma de fogo
1. Rafael do Nascimento Dutra, o Sem Alma
Rafael do Nascimento Dutra, conhecido como Sem Alma
Reprodução/TV Globo
O ex-policial militar, conhecido como Sem Alma, possui atualmente cinco mandados de prisão por crimes relacionados à atividade de contravenção e máfia de cigarros ilegais; quatro por homicídios e outro por porte de munição ilegal. Nunca foi preso e está foragido.
Ele possui pelo menos 113 registros de entrada no prédio onde mora Adilsinho, sob dois nomes diferentes: Rafael do Nascimento Dutra e somente Rafael Dutra.
Dutra foi denunciado pelo Ministério Público pela morte de Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, e seu segurança Alexsandro José da Silva.
Catiri era apontado como segurança de Bernardo Bello, e o assassinato dele é apontado como um ponto importante na guerra entre contraventores entre 2022 e 2023 no Rio de Janeiro.
Dutra ainda tem mandados de prisão pelos homicídios do empresário Cristiano de Souza, do policial penal Bruno Kilier da Conceição e do ex-PM Daniel Mendonça.
No caso de Cristiano, segundo a Polícia Civil, ele teria contrariado os interesses da máfia de cigarros ilegais ao vender os produtos em territórios explorados pelo grupo de Adilsinho, como Itaperuna, Campos dos Goytacazes e Três Rios.
Bruno Kilier foi morto após ser monitorado por pelo menos três dias. Dutra, segundo a investigação da DH, foi o responsável por colocar um rastreador no veículo da vítima. A morte estaria ligada à disputa pelo comércio de cigarros ilegais.
Daniel Mendonça foi morto em abril de 2023 em Marechal Hermes. A Delegacia de Homicídios encontrou, no local da morte, munições idênticas às que foram encontradas em outros locais de execuções de vítimas ligadas a conflitos no comércio de cigarros ilegais no Rio.
Informações obtidas pela Polícia Federal indicam que Dutra fazia parte da chamada Equipe B de seguranças de Adilsinho.
2. Wanderson Lemos, o Chacal
Lemos, conhecido como Chacal, é um PM da ativa que sofreu busca e apreensão em sua casa durante as investigações da morte de Marquinho Catiri.
Chacal possui uma passagem por receptação qualificada e concussão, além de inquéritos por morte por ação de agente do Estado (antigamente conhecido como auto de resistência).
Foto de Sem Alma e Chacal juntos na festa de aniversário de Adilsinho em 2021
Reprodução
Chacal esteve presente junto com Sem Alma na festa de aniversário de Adilsinho no Copacabana Palace. As investigações da DH chegaram a um registro dos dois juntos, após a quebra de sigilo do celular de Sem Alma.
Chacal tem dois registros de entrada e saída no condomínio da Barra da Tijuca, no dia 20 de março de 2020.
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Investigações da DH revelaram que, logo após os assassinatos de Marquinho Catiri e seu segurança, Alex Sandro, conhecido como Sandrinho, um áudio foi enviado para um dos presos pelo crime, José Ricardo Gomes Simões. Os apelidos de Sem Alma, Chacal e outros membros do grupo são citados em uma música:
““A notícia eu vou te dar agora como é que foi. SEM ALMA está de luneta pra te buscar em casa. CORINGA tá de AK, com pentão de goiabada. PQD e CACHOEIRA palmeando não passa nada. Enquanto KING dá rajada, o PESTINHA taca a granada. CHACAL e PELO DE RATO progredindo de cantinho. Retaguarda o TH junto com o mano NOVINHO (…)”
3. José Gomes da Rocha Neto, o Kiko
Velho e Kiko são procurados por morte de empresário no Maranhão
Reprodução
José Gomes da Rocha Neto, conhecido como Kiko, foi 111 vezes ao endereço de Adilsinho, listado pelo nome completo ou por uma versão mais curta, Jose Gomes.
Ele foi indiciado e denunciado pelo Ministério Público do Maranhão como um dos autores da execução de Bruno Vinicius Nazon Moraes Borges. Com ele, atuou Alfredo dos Santos Júnior, conhecido como Velho, que também visitou o endereço de Adilsinho pelo menos três vezes.
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A Polícia Civil e o Ministério Público maranhense afirmaram que a razão seria uma disputa por lucros de apostas de futebol e o dinheiro das bancas do Jogo do Bicho na cidade. O bicheiro apontado como mandante do crime, Márcio Augusto Guedes Gregório, conhecido como Márcio Careca, é de Duque de Caxias.
Polícia desarticula milícia em Duque de Caxias
Kiko foi preso nas operações Capa Preta 1 e 2, em 2010 e 2013, contra uma milícia que atuava em Duque de Caxias.
Ele também foi preso pela morte de um empresário de São Paulo no Rio de Janeiro em 2012, mas posteriormente foi despronunciado na Justiça do Rio.
4. Flávio Serafim da Silva Júnior, o Bu
Flávio Serafim da Silva Júnior, conhecido como Bu
Reprodução
Flávio Serafim da Silva Júnior, o Bu, é indicado em investigações da Polícia Civil como um dos integrantes da organização criminosa da qual fazem parte Sem Alma, Chacal e outros. Ele tem quatro registros de entrada no condomínio de Adilsinho, em julho e agosto de 2020.
Em trecho de anotação encontrada no celular de Rafael do Nascimento Dutra, o Sem Alma, aparece uma inscrição: Bu e o número 200 (possivelmente, segundo investigadores, indicando R$ 200) e o numero 7,500 carro Bu (possivelmente indicando um valor R$ 7,5 mil) na anotação despesas encontrada no celular de Sem Alma
Bu também responde a um processo de lesão corporal e homicídio por ter participado de um tiroteio que terminou com duas pessoas mortas e 19 feridos no carnaval de Magé, na Baixada Fluminense, em 2023.
Criança e mulher morrem em tiroteio no carnaval de Magé, no RJ
5. Maxwell Ferreira da Silva, o Maxwell PM
Maxwell foi alvo de mandados de busca e apreensão na investigação da morte de Rodrigo Marinho Crespo, advogado executado no início de 2024 no Rio.
Agentes da DH foram até a casa da mãe dele e no 39º BPM (Belford Roxo).
A denúncia do Ministério Público sobre o caso cita que Maxwell foi um dos nomes encontrados como responsáveis pelos aluguéis de veículos na Locadora Horizonte 16, onde o carro utilizado para monitorar a vítima foi alugado.
Maxwell, conhecido como Maxwell PM
Reprodução
O que dizem os envolvidos
Em nota, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Polícia Militar informou que “a Corregedoria da Corporação acompanha o caso. Os policiais respondem a Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD). A Polícia Militar reitera que não compactua com desvios de conduta ou cometimento de crimes por parte de seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos”.
O advogado de Adilson Oliveira Coutinho Filho informou que não irão se manifestar por ora.
O g1 não conseguiu contato com as defesas dos outros citados na reportagem.

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