21 de outubro de 2024

Primeira eleição presidencial no Brasil teve 205 candidatos e apenas homens alfabetizados votavam; pleito foi em 1894

De acordo com professora da Universidade de Brasília (UnB), não havia requisitos para ser candidato. À época, Prudente de Moraes foi eleito. Último retrato de Prudente de Moraes, feito em São Paulo em 1901.
F. Voltsack /Coleção M. H. P./Agência Senado
O Brasil viveu uma eleição histórica em 1894. 🗳️ O pleito foi o primeiro da República que aconteceu pelo voto direto de parte da população e que elegeu o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes.
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De acordo com Albene Miriam Menezes Klemi, professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), a disputa foi marcada pela baixa quantidade de eleitores e a falta de requisitos para ser um candidato. Segundo a Agência Senado, 205 homens disputaram a presidência, sendo que boa parte recebeu apenas 1 voto.
Apenas homens alfabetizados podiam votar (saiba mais abaixo).
📌 No próximo domingo (27), 52 cidades têm segundo turno das eleições para eleger prefeito e cerca de 34 milhões de eleitores estão aptos a votar. Veja abaixo curiosidades sobre a eleição de 120 anos atrás.
Primeira eleição presidencial com voto direto
Depois que o Brasil saiu da monarquia e se tornou uma República, em 1889, dois militares chegaram a assumir o poder (saiba mais abaixo). Prudente de Moraes foi o terceiro presidente do país, mas é conhecido por ser o primeiro civil a assumir o cargo. A eleição também foi a primeira que elegeu um presidente pelo voto direto.
🔎 Voto direto: população vota diretamente nos candidatos, sem intermediação.
🔎 Voto indireto: população não vota diretamente nos candidatos, mas sim em representantes que, por sua vez, escolhem os candidatos.
Veja linha do tempo dos primeiros presidentes do Brasil:
1889: Deodoro da Fonseca (militar) – considerado líder da Proclamação da República, foi nomeado presidente logo após o ato. A eleição de Deodoro aconteceu pelo voto indireto, isso porque apenas os membros do Congresso Nacional votaram
1891: Floriano Peixoto (militar) – era vice de Deodoro da Fonseca; assumiu a presidência depois que Deodoro renunciou
1894: Prudente de Morais (civil) – eleito pelo voto direto de parte da população
Perfil dos eleitores e candidatos em 1894
Prudente de Moraes foi eleito pela população, mas poucos brasileiros tinham os requisitos para ser um eleitor. À época, só podiam votar:
Homens
Maior de 21 anos
Alfabetizados
👉Segundo a professora Albene Klemi, a “grande massa” da população era analfabeta, por isso muitos não puderam votar. Além disso, poucos habilitados a votar compareceram às urnas.
Outras características que explicam o baixo número de votantes:
O voto não era obrigatório
Não houve mobilização popular
Havia pouca propaganda sobre a eleição
“Por mais baixa que tenha sido a presença de eleitores na eleição de Prudente de Moraes, que foi pouco mais dos 2% habilitados a votar, você tinha, de alguma forma, eleitores votando”, diz Albene Miriam Menezes Klemi.
A professora ainda lembra que os estados do Sul do país não participaram do pleito. Eles estavam envolvidos na guerra civil da Revolta Federalista.
👉 Já para ser um candidato, a professora Albene Klemi diz que não havia requisitos, por isso os 205 candidatos.
“Qualquer nome poderia ser escrito na urna pelo eleitor. Não precisava estar ligado a um partido, não precisava ter se lançado candidato”, diz a professora.
Resultado da eleição
Prudente de Moraes recebeu 82% dos votos no pleito, ganhando a disputa com folga. Em segundo lugar ficou Afonso Pena, com 10% dos votos. Em 1906, Pena se tornou o sexto presidente do Brasil.
Os demais 203 candidatos da eleição de 1894 receberam 1% dos votos ou menos. Segundo a Agência Senado, a maioria recebeu um voto cada.
Albene Klemi explica que a vitória de Prudente de Moraes não é justificada pela sua popularidade, mas sim pela maneira como a eleição foi organizada pela elite. Antes mesmo da eleição, a vitória de Prudente já tinha o apoio da elite votante.
Quem foi Prudente de Moraes
Parte da obra “Compromisso constitucional”, de Aurélio de Figueiredo, 1896. Deodoro da Fonseca (segurando livro); Peixoto à direita de Deodoro (de uniforme); e Prudente de Morais no centro do quadro, à esquerda de Deodoro, de barba.
Acervo do Museu da República
Prudente de Moraes nasceu em 4 de outubro de 1841 nas terras da antiga Itu (SP), região que atualmente pertence a Mairinque (SP). Antes de ser presidente, ele foi responsável por conseguir aprovar a 1ª Constituição Republicana da história do Brasil, em 1891. Isso porque à época ele era o presidente do Congresso Nacional, que aprovou o texto.
Esta constituição promoveu a separação entre a Igreja e o Estado, a educação, a liberdade de culto, e a divisão dos poderes entre legislativo, executivo e judiciário.
O mandato presidencial de Prudente foi marcado por episódios como a Revolução Federalista (1893 – 1895) e a Guerra dos Canudos (1896 – 1897).
Movimento para proclamar a República começou bem antes de 15 de novembro de 1889
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