26 de outubro de 2024

Estudo indica que mulheres de 65 anos da região Sul são até 10 anos ‘mais novas’ do que as do Norte e Nordeste; entenda o por quê

Pesquisa da Unicamp levou em consideração a idade relativa – indicador que ajusta a idade cronológica de acordo com as condições de saúde, qualidade de vida e fatores ambientais de uma determinada população. Idosas sentadas em banco: um terço dos casos de demência pode ser evitado com a adoção de um estilo de vida saudável
Candid Shots para Pixabay
Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) captou as diferenças do envelhecimento nas cinco regiões do Brasil. De acordo com o estudo, o resultado obtido foi a constatação de que mulheres da região Sul têm características de saúde e vitalidade que as fazem parecer até 10 anos mais jovens em comparação com mulheres da mesma idade no Norte e Nordeste.
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A tese de doutorado foi defendida por Anderson Gonçalves, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), que utilizou uma nova metodologia para analisar o envelhecimento, levando em consideração a idade relativa – indicador que ajusta a idade cronológica de acordo com as condições de saúde, qualidade de vida e fatores ambientais de uma determinada população.
O estudo mensurou o envelhecimento no país com base em indicadores regionais, socioeconômicos e de gênero. Entenda abaixo como o pesquisador chegou aos resultados, o por quê da diferença existir e como medir a idade relativa.
“Precisamos considerar que só a idade cronológica é insuficiente para mensuração do envelhecimento. Nós precisamos de outras medidas para mensurar o processo de envelhecimento, e também precisamos discutir sobre medidas nacionais”, explicou o pesquisador.
Nesta reportagem você vai ver:
Quais são as diferenças regionais?
Por que a diferença existe?
Diferença entre subgrupos de escolaridade
Como calcular a idade relativa?
Quais são as diferenças regionais?
No caso de mulheres de 65 anos, as que foram analisadas na região Sul apresentaram idade relativa de 58,3 anos, enquanto que as do Norte e Nordeste, na mesma faixa etária, atingiram idade relativa de 68,9 anos, o que indica uma diferença de 10,6 anos entre elas.
A diferença mostra como o processo de envelhecimento acontece de forma diferente entre a população, apesar do período cronológico ser igual. Veja as características de cada uma das idades:
🔎 Idade relativa: a idade que a pessoa apresenta dependendo de fatores ambientais, socioeconômicos, de saúde e qualidade de vida aos quais ela é submetida. Ela pode ser maior ou menor do que a idade cronológica.
🔎 Idade cronológica: é calculada pela data de nascimento da pessoa. Por exemplo, quem nasceu em 1999, tem idade cronológica de 25 anos.
“Isso dá uma noção de como o processo de envelhecimento ocorre em velocidade diferente para as populações. Pessoas da mesma idade cronológica têm características de pessoas relativamente mais envelhecidas ou relativamente mais jovens do que a média da população brasileira”, explicou.
Confira, abaixo, o gráfico que mostra a idade relativa das mulheres por região.

Por que a diferença existe?
De acordo com a pesquisa, as diferenças entre as cinco regiões no processo de envelhecimento se dão por conta da transição demográfica. No Sul e Sudeste do país houve um declínio de fecundidade, ou seja, uma queda nos nascimentos, de forma antecipada. Com isso, há uma proporção maior de pessoas idosas em comparação com as outras regiões.
Além disso, fatores como as desigualdades socioeconômicas podem impactar a velocidade do envelhecimento. Falta de infraestrutura de serviços na área da saúde e educação condicionam o processo e o deixam mais acelerado.
Diferente das outras regiões, no Norte e Nordeste, por exemplo, a população tem características de pessoas relativamente envelhecida.
Diferença entre subgrupos de escolaridade
A diferença não ocorre somente entre as regiões. O estudo mostrou ainda que pessoas do sexo masculino com idade cronológica de 55 anos também sofrem distinção por conta do grau de escolaridade.
O homem com menos estudo tem característica de alguém com 60,7 anos. Já o homem com mais estudo, com a mesma idade, tem aspectos de 50,1 anos, gerando uma diferença de 10,6 anos entre eles. [veja no gráfico abaixo]

Nesse caso, a tese observou quem teve até quatro anos de estudo e quem teve nove anos ou mais. “A diferença no processo de envelhecimento se dá mais nas idades mais jovens”, explicou.
Como calcular a idade relativa?
Anderson explica que, para calcular a idade relativa, é necessário ter um indicador de características fisiológicas, biológicas e físicas. A diferença foi mensurada com base em biomarcadores.
No caso da pesquisa, foi utilizado a força de preensão manual, um biomarcador de saúde para avaliar a condição de adultos e idosos, no qual foi coletado pelo Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI) dados de 9.412 pessoas de 50 anos ou mais, através de um equipamento chamado dinamômetro.
“A força de preensão manual é um bom preditor de mortalidade, e também um bom preditor de declínio da capacidade funcional na medida que as pessoas avançam a partir dos 50 anos. Na idade cronológica, elas têm uma curva da força de preensão manual que ela é inversamente proporcional à idade. A idade aumenta e a força diminui”, pontuou.
Apesar da pesquisa não estar relacionada com políticas públicas, Anderson entende que ela pode ajudar na elaboração de novas alternativas.
“O desafio para as próximas décadas para o Brasil será conseguir assegurar direito a pessoas idosas considerando a sua heterogeneidade. Não dá pra gente classificar uma pessoa idosa como um grupo homogêneo. É cada vez mais um grupo heterogêneo”, finalizou.
*sob a supervisão de Marcello Carvalho
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