27 de outubro de 2024

Caso Marielle: veja o que disseram ao STF os réus presos por envolvimento no atentado

Irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes do crime, e delegado Rivaldo Barbosa, que seria o mentor do assassinato, estão entre os ouvidos pelo Supremo. STF ouve novos depoimentos sobre assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a ouvir, nessa semana, cinco presos por envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco. No atentado, em março de 2018, o motorista Anderson Gomes também foi morto.
Os cinco réus no processo no Supremo são: os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes do crime; o delegado Rivaldo Barbosa, que seria o mentor do assassinato; o ex-policial militar Robson Calixto, conhecido como Peixe, ex-assessor de Domingos Brazão e que, de acordo com as investigações teria ajudado a dar sumiço na arma do crime; e o Major Ronald Paulo Alves Pereira encarregado de monitorar a rotina da parlamentar, segundo a delação de Ronnie Lessa.
O depoimento do Major Ronald está agendado para a próxima terça-feira (29).
A vereadora Marielle Franco em imagem de janeiro de 2018, dois meses antes de ser assassinada
Ellis Rua/AP
Confira abaixo um resumo do que foi dito até agora.
Chiquinho Brazão
Caso Marielle: STF ouve Chiquinho Brazão
Primeiro a ser ouvido, o deputado federal Chiquinho Brazão chorou algumas vezes durante a audiência, conduzida pelo desembargador Airton Vieira.
Falou que Marielle era uma pessoa muito amável e que tinha uma boa relação com ela.
“Fizeram uma maldade muito grande com ela. Marielle sempre foi minha amiga. Era uma vereadora muito amável e com quem a gente tinha uma boa relação. Ela (Marielle) sempre foi muito respeitosa e carinhosa”.
O deputado garantiu que não conhecia Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, e que se encontrou apenas quatro vezes com Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé — responsável por levar a “encomenda” pelo assassinato de Marielle a Lessa. Macalé foi assassinado em novembro de 2021, em Bangu.
Questionado pelo promotor Olavo Pezzotti, auxiliar da Procuradoria Geral da República, Chiquinho respondeu sobre grilagem e projetos na Câmara dos Vereadores sobre regularização de terrenos. Ele não foi questionado pelo promotor sobre o planejamento da morte de Marielle.
Chiquinho contou que mesmo participando de comissões na Câmara de Vereadores nunca se interessou em receber denúncias contra facções criminosas.
“Caso de polícia eu nunca tratei. Eu nunca me interessei. A Marielle também corria desses assuntos. Tenho família que frequenta Jacarepaguá. Não quero saber o que é milícia ou o que é tráfico”, disse.
Domingos Brazão
Conselheiro do TCE Domingos Brazão prestou depoimento no STF na terça-feira (22)
Reprodução
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estadio (TCE) disse ao STF que não conhecia pessoalmente Ronnie Lessa — o assassino confesso da vereadora — e que só o viu pela televisão.
“Nunca vi esse senhor. A primeira vez que vi a imagem do Ronnie Lessa, me parece que foi no IML, no dia que ele foi preso”.
Falou que Lessa se sentiu “encurralado” após a delação do ex-PM Élcio de Queiroz.
“Ele (Ronnie Lessa) só decide falar após a delação de Élcio de Queiroz. Ele se sentiu acuado, encurralado. E decidiu falar. Foi a oportunidade que o Lessa teve de defender, proteger o seu comparsa, Cristiano Girão (ex-vereador). É a única explicação que vejo. Já perdi noites acordado sem entender o que acontece”.
Durante o depoimento, Brazão se emocionou e desabafou sobre as acusações da Procuradoria Geral da República:
“Eu preferia ter morrido no lugar da Marielle. Ele [Ronnie Lessa] tá destruindo a minha família. Que tipo de gente faz isso? O senhor acha que ia ter coragem de levar e envolver meu irmão nisso? É claro que a família da Marielle sofre, mas ele poderia ter me matado. Eu não sei como ele (Ronnie Lessa) dorme”.
Domingos Brazão contou que perdeu 26 quilos desde que foi preso, há 7 meses, e disse não acreditar no que está acontecendo.
“A gente duvida até de Deus. Não entendo por que estou preso por envolvimento com pessoas que não conheço. Estou perdendo a minha vida aqui sem ter a oportunidade de me defender. Uma vírgula muda uma sentença. O maior alvo da CPI das Milícias (em 2008) foi o Cristiano Girão. Aí em 2010, 2011, o pessoal começa a ser preso, denunciado. Período em que começa um certo encolhimento da milícia”, afirmou o conselheiro do TCE.
Ele admitiu que conhecia Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho, da milícia de Rio das Pedras, que foi preso em uma operação do Ministério Público do Rio (MPRJ), mas negou qualquer envolvimento com o grupo paramilitar.
“Eu não dava essa confiança (a milicianos). Entrava na comunidade e ia aonde tinha que ir, sem olhar para o lado. Seria muita cara de pau alguém me afrontar ali. Eles não querem problema. Eu não ia bater boca com eles (os milicianos). Mas se tivesse acontecido alguma coisa dessas eu iria representar às autoridades sobre esses problemas”.
Rivaldo Barbosa
Delegado Rivaldo Barbosa presta depoimento ao STF sobre assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
O delegado Rivaldo Barbosa começou seu relato dizendo que a sua prisão em março de 2024 significou a sua morte.
“Eu fui assassinado. Me prenderam, me botaram numa viatura e me trouxeram para cá. Me enterraram e vou tentar ressuscitar. Eu acredito na Justiça. A minha liberdade tem que vir em razão da verdade e ela já brotou”.
Rivaldo respondeu a perguntas do desembargador Airton, do promotor Olavo Pezzotti, das assistentes de acusação que representam as famílias de Marielle Franco e de Anderson Gomes, além dos advogados dos outros 4 réus.
“Sou uma vítima das mentiras do Ronnie Lessa. Aliás, hoje eu vejo que todos nós somos: eu, Chiquinho (deputado federal) e o Domingos (Brazão)”, disse.
O delegado também apontou Cristiano Girão como o possível mandante do crime, e não os irmãos Brazão. Girão foi investigado por chefiar uma milícia na Gardênia Azul e seria comparsa de Lessa, de acordo com o delegado da Polícia Civil do RJ.
Robson Calixto, o Peixe
Robson Calixto Fonseca, o Peixe, em depoimento no STF sobre o caso Marielle
Reprodução
Assessor de Domingos Brazão no TCE, o ex-PM Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, iniciou seu depoimento já na noite de sexta-feira (25).
Robson não foi diretamente ligado aos homicídios de Marielle e Anderson, mas, segundo as investigações da Polícia Federal, faz parte do grupo dos irmãos Brazão, apontados como mandantes do crime.
De acordo com a Procuradoria Geral da República (PGR), Peixe tinha a função de gerir as atividades de grilagem do grupo.
Na denúncia, ele é apontado como responsável por determinar pagamentos a diversos construtores e loteadores, utilizando-se de terceiros “como intermediários – com o fim de ocultar a origem dos recursos – e transferindo valores a “laranjas” que são ligados aos reais destinatários do dinheiro”.
Para a PGR, essas nomeações tinham como objetivo criar redutos eleitorais nas áreas por eles controladas, explorar atividades imobiliárias ilegais por meio da grilagem e com o poder armado das milícias. Essa prática teria garantido o ganho patrimonial dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão.
Robson Calixto negou as acusações.
“Eu sou motorista do Domingos Brazão. Estou sempre com ele. E eu atribuo (o Ronnie Lessa ter apontado o seu nome no caso) à citação do meu nome porque eu andava com o Brazão. Eu não faço ideia como o Lessa ouviu falar de mim. Graças a Deus nunca encontrei com ele (Ronnie Lessa)”, disse Robson Calixto.
Robson Calixto ainda complementou:
“Ninguém nunca vai falar que sou miliciano. Eu sou trabalhador. Eu ganho meu dinheiro suado. Nunca me envolvi com milícia”.
Major Ronald será ouvido na terça
Major Ronald Paulo de Alves Pereira, preso na Penitenciária Federal de Campo Grande
Reprodução
Assim que Peixe concluir o seu depoimento na terça-feira (29), Major Ronald começará a falar, seguindo a estrutura dos depoimentos anteriores: perguntas do desembargador Airton Vieira, do representante da PGR, o promotor Olavo Pezzotti, das assistentes da acusação e dos advogados dos outros réus.
Ele pretende esclarecer as acusações de que ajudou a definir data e local do atentado contra Marielle.
Ronald, diz a PGR, era encarregado de obter informações sobre a rotina da parlamentar e monitorou as redes sociais dela. Ele soube que ela participaria de um evento na Casa das Pretas, na Rua dos Inválidos, e “encontrou a oportunidade para a execução do homicídio”.
Com a informação, de acordo com a procuradoria, Major Ronald telefonou para Edmilson “Macalé” – intermediário entre a “missão” da execução de Marielle e Ronnie Lessa – na manhã do dia do atentado. Segundo a PGR, em seguida, Macalé telefonou para Lessa para repassar a informação recebida.
Com o encerramento dos depoimentos, terá começa o prazo para manifestações da PGR, depois das assistentes de acusação e finaliza com as defesas dos réus. Depois, o processo segue para decisão do STF.

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