No Dia Nacional do Livro, o g1 conta as experiências literárias das integrantes do grupo Nossas Vozes, de Araraquara. Grupo “Nossas Vozes” reune há 6 anos mulheres leitoras de Araraquara
Arquivo pessoal
Discutir obras de autoras femininas e firmar uma rede acolhedora de amizade e vivências foram os motivos que levaram um grupo de mulheres apaixonadas por literatura a criar um vínculo em Araraquara (SP).
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No Dia Nacional do Livro, comemorado nesta terça-feira (29), o g1 conta a trajetória do grupo “Nossas Vozes”, que há seis anos realiza encontros mensais com trocas que vão além das impressões literárias.
A bibliotecária Rebeca Chibeni, de 37 anos, é responsável pela mediação do clube e organiza as leituras coletivas que reúne outras 15 mulheres.
“Sou apaixonada por literatura e vejo na difusão da leitura hoje como um propósito pessoal. É muito rica a troca e partilha entre as mulheres, são coisas que só a leitura coletiva pode proporcionar, além do contato com obras de gêneros diversos”, afirmou.
Os encontros são gratuitos. Para participar é preciso se inscrever pelo e-mail nossasvozesclubedeleitoras@gmail.com. O grupo mantém um perfil no Instagram com a programação mensal.
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Rede de mulheres literárias
A cada mês, um livro é escolhido por meio de indicações e votação. Em outubro, foi a vez de “Cartas para minha avó”, de Djamila Ribeiro. Para o mês de novembro, o livro escolhido foi “Fim”, de Fernanda Torres.
Mas o grupo não sobrevive apenas da leitura de livros. Da rede de mulheres que se formou nos encontros resultam muitas trocas de experiências e amizades.
Encontro literário de mulheres de Araraquara é recheado de muita prosa e café
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Em 2022, o grupo foi o apoio para a recém-chegada a Araraquara Vanessa Romualdo de Oliveira, de 38 anos, que, no final de 2021, grávida da pequena Yanne, havia acabado de se mudar para a cidade. Sem conhecer ninguém e buscando interações na pós-pandemia, ela encontrou o Nossas Vozes em pesquisas pela Internet.
“Naquele período, sem família e amigos próximos na cidade, sentia muita falta de interações. Foi então que, navegando pelo Instagram, encontrei o clube. Pareceu a oportunidade perfeita para retomar a leitura e conhecer novas pessoas. E eu estava certa: fui acolhida de braços abertos por mulheres incríveis e, desde então, o clube se tornou parte essencial da minha vida”, comentou.
A advogada levou várias vezes a pequena Yanne, de 3 anos, para os encontros quando não tinha com quem deixar a bebê. Acostumada com os livros desde a barriga, a garotinha adora as leituras da mãe.
“Minha filha estuda em uma creche municipal que tem um projetinho de leitura semanal. Todas sexta eu leio um livrinho para ela. A Yanne adora”, disse.
Vanessa e a filha Yanne que desde a barriga acompanha a mãe em rodas literárias em Araraquara
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Pós-leitura
Para a advogada, participar do clube é uma experiência enriquecedora, pois seu trabalho envolve muita leitura técnica e os encontros literários ampliam as vivências pessoais.
“Os encontros vão muito além da leitura. A troca de perspectivas entre as participantes é o que mais me fascina. Também discutimos temas do cotidiano e partilhamos nossas vivências, o que criou um espaço seguro e acolhedor, onde podemos falar sem medo de sermos julgadas. E, claro, sempre há boa comida e bebida para acompanhar essas conversas profundas. É um momento para nos conectarmos de forma genuína”, disse.
Grupo Nossas Vozes celebra 6 anos de encontros literários em Araraquara
Arquivo pessoal
“É maravilhoso poder mergulhar em livros escolhidos por outras mulheres, muitas vezes de autoras e gêneros que eu não teria selecionado por conta própria. Isso amplia meus horizontes literários. Muitas vezes, alguém levanta um ponto que nunca me passou pela cabeça, o que enriquece a experiência de leitura”, comentou.
Autoras preferidas
Uma unanimidade entre as leitoras é o livro “Quarto de despejo” de Carolina Maria de Jesus. A escritora mineira foi uma catadora de papel marginalizada e escreveu uma das obras mais impactantes da literatura negra feminina sobre a sua realidade como moradora da favela Canindé, em São Paulo, nos anos 1950. A obra foi traduzida para mais de 13 línguas e foi um sucesso de vendas.
A escritora Carolina Maria de Jesus nasceu em Minas Gerais em 1914
Divulgação
Há ainda outras obras e autoras que marcaram os anos do clube Nossas Vozes: “Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista negra do Brasil; “Todas as cores do céu”, da indiana Amita Trasi; “A morte é um dia que vale a pena viver”, de Ana Claudia Quintana Arantes; “O peso do pássaro morto” de Aline Bei e “A estrutura da bolha de sabão”, de Lygia Fagundes Telles são alguns deles.
“Cada um deles me tocou profundamente de maneiras diferentes”, disse Vanessa.
Doce leitura
Estimulando a formação de novos leitores, o grupo organiza, há dois anos, a campanha solidária “Doce Leitura”, que consiste em doar doces, livros e gibis para crianças de lares e escolas da cidade e região.
Neste ano foram doados mais de 70 kits com livro, gibis e doces sortidos ao Lar Escola Rita Maria de Jesus em Araraquara, orfanatos e uma instituição para crianças em vulnerabilidade em Buritama (SP).
“Uma forma que acredito importante para estimular novas leitoras e o acesso a leitura são iniciativas de popularizar a literatura, que ela possa chegar a cada vez mais pessoas e que as pessoas também estejam abertas para deixá-la entrar. Como diz um poema de Emily Dickinson ‘abrir amplamente minhas mãos para acolher o paraíso’, disse a idealizadora do clube, Rebeca.
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