Mapeamento da Emdec e Defesa Civil mostra 43 pontos de alagamentos, nove a mais do que o registrado em 2022. Durante temporal de quinta (24), cidade registrou estragos com enxurradas e duas mortes. Placa com alerta sobre ponto de alagamento em Campinas
Edvaldo de Souza/EPTV
Um mapeamento da Defesa Civil e da Emdec apontou áreas de Campinas (SP) que costumam registrar alagamentos e devem ser evitadas em dias de chuva forte e temporal. E houve aumento de 26,4% nos locais de risco nos últimos dois anos.
Ao todo, 43 pontos receberam sinalização de orientação para motoristas e pedestres – veja a lista abaixo.
Em 2022, a cidade havia sinalizado 34 locais. Segundo a administração, o aumento ocorre por mudanças na estrutura das vias e em características locais, inclusive pela “ação de temporais”.
“Desse modo, é normal que essa quantidade de pontos seja dinâmica. Esse mapeamento ocorre em função das ocorrências de chuva com alagamento, atendidas em campo e por meio das observações dos agentes da Mobilidade Urbana”, informa, em nota.
📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp
Na última quinta-feira (24) o temporal de 120 milímetros que atingiu Campinas provocou a morte de dois jovens levados em enxurradas, interditou vias e afetou o funcionamento de escolas, hospitais e postos de saúde
Locais de risco
Segundo o levantamento, oito dos 43 pontos mapeados são considerados os mais críticos. São eles:
Av. Orosimbo Maia x Av. Dona Libânia
Av. Orosimbo Maia x Av. Brasil/R. Santa Cruz
Av. Orosimbo Maia (entre R. Dr. Carlos Guimarães/R. Paula Bueno e R. Rafael Sampaio)
Kartódromo x Av. Dr. Heitor Penteado
Av. Heitor Penteado Int. entre Av Almeida Garret até balão 4º DP
Região do Curtume – Av. Sylvio Moro e Av. Dr. Carlos de Campos
Av. Prefeito Magalhães Teixeira sob o viaduto da Av. Prestes Maia
Av. Princesa D’Oeste x Av. Dr. Antônio Carlos Sales Jr.
Foi em um desses pontos críticos, na Av. Sylvio Moro, na região do Curtume, que a jovem Sara Gabrielli de Souza Silva, de 18 anos, foi arrastada pela força das águas em uma enxurrada.
O corpo dela foi encontrado no Rio Capivari, na região do Jardim Campina Grande, a cerca de 18 km do local do desaparecimento.
Já o corpo de Jair Samuel da Silva Oliveira Marques, de 22 anos, que desapareceu durante a enxurrada na rua Ademar Pereiro de Barros, na Vila Formosa, foi encontrado no dia seguinte ao temporal.
Mulher é arrastada pela enxurrada durante temporal em Campinas
Outros pontos com risco mapeados
Av. Pref. José N. L. Maselli x R. Côn. Cipião
Av. Anchieta (entre R. Gal. Osório e Av. Benjamin Constant)
Av. Orosimbo Maia x R. Delfino Cintra
Av. Orosimbo Maia x Av. Francisco Glicério
R. Álvaro Muller (entre R. Barata Ribeiro e R. Sacramento)
R. Visconde de Taunay x R. Coelho Neto
Av. Orosimbo Maia x R. Coronel Quirino
Av. Barão de Itapura x Av. Brasil
Av. Dr. Moraes Sales x Viaduto SP
Av. Rosa Belloto Grandex R. Contabilistas (próximo Av. José de Souza Campos)
Av. Mons. Jerônimo Baggiox Av. Dr. Heitor Penteado
Av. Dr. Heitor Penteado x Av. Barão de Itapura
Av. Júlio Prestes (sentido Guarani/Taquaral) próximo Av. Dr. Heitor Penteado
Av. Theodureto de Almeida Camargo (sentido Taquaral/centro, após Bambini)
Av. Lix da Cunha sob viaduto Pça. João dos S. Teixeira
Estrada da Rhodia x R. Dr. Alcindo Soares
Av. das Amoreiras (entre R. Dr. Alves do Banho e R. Guararema)
Av. das Amoreiras x R. Jacy Teixeira de Camargo
R. Padre Donizete Tavares de Lima x R. Laranjal Paulista
Av. John Boyd Dunlop (sob Viaduto Perimetral BRT)
Av. John Boyd Dunlop (sob Viaduto Rod. Anhanguera)
Av. John Boyd Dunlop (sentido Centro/Bairro) x R. Ivo Cipriano
Av. Ruy Rodrigues (sentido Centro/Bairro), posterior ao viaduto da Rod. dos Bandeirantes
Av. Ruy Rodrigues, próximo a Av. Itacuruçá
R. João Caboclo da Silva x R. 9
Rua João Caboclo da Silva, aproximação da Rua Yves Montand
Av. Ruy Rodrigues x Rua Rachel Grimaldi Benites de Cará
Av. Camucim xR. Georg Wilhelm Friederich Hegel
Rod. Heitor Penteado x R. Jean Mermoz
R. Buriti x R. Antônio Roge Ferreira
Av. Dr. Jesuino Marcondes Machado x R. Piquete
Av. José de Souza Campos x Av. Orosimbo Maia
R. Ernani Pereira Lopes x R. João Rodolfo Forster
R. Arlindo Carpinox Rua Leonardo da Vinci
R. Maneco Rosa x Av. Isabelita Vieira
A Defesa Civil de Campinas divulgou orientações sobre o que fazer no caso de inundações.
“A população deve ficar alerta pois elevação do nível da água ocorre rapidamente, e não deve ser arriscar! Deve procurar um terreno ou andar de prédio mais alto e aguardar o temporal passar e a água baixar. O cidadão jamais deve andar ou dirigir em áreas de inundação. Entrar nas águas pode resultar em ferimentos ou morte”.
O que fazer?
A Defesa Civil de Campinas dividiu as orientações sobre o que fazer antes, durante e depois das inundações.
O que fazer antes:
É importante ter definido um lugar seguro onde você e sua família possam se abrigar;
Coloque documentos e objetos de valor em sacos plásticos bem fechados e em local protegido;
Ao sinal de inundação, deixe móveis, eletrodomésticos, produtos de limpeza e alimentos fora do alcance da água;
Desconecte os aparelhos elétricos da tomada;
Feche portas e janelas da casa caso seja necessário o abandono, para evitar a entrada de escombros e de animais peçonhentos;
Ao evacuar uma residência, feche os registros de gás e água e, se possível, acione a companhia elétrica para desligar a luz do local;
Lembre-se de garantir a segurança também dos animais de estimação.
O que fazer durante:
Proteja a sua vida, a de seus familiares e amigos indo para um terreno ou um andar mais alto;
Evite contato com águas de inundação para não contrair doenças;
Não cruze pontes, ruas ou avenidas alagadas. Procure sempre um lugar elevado para estacionar;
Águas de inundação são pesadas e violentas. Mesmo que você saiba nadar, não se arrisque em travessias ou brincadeiras. Apenas 15cm de água em movimento podem derrubá-lo, e 30cm de água em movimento são suficientes para arrastar o veículo;
Se estiver fora de casa, em um local seguro (escola/empresa), permaneça e avise sua família que está em segurança.
O que fazer depois:
Não volte para casa até as águas baixarem e o caminho estar seguro;
Tenha cuidado: procure por trincas e estufamento nas paredes, para verificar se sua casa não corre risco de desabar;
Remova a lama e o lixo do chão, das paredes, dos móveis e utensílios e lave e desinfete os objetos que tiveram contato com as águas da inundação;
Bebidas e alimentos que tiveram contato com as águas da inundação devem ser descartados, pois podem estar contaminados;
Não use equipamentos elétricos que tenham sido molhados;
Após as águas baixarem, faça a limpeza usando botas e luvas de borracha. Animais peçonhentos podem estar escondidos em sua casa.
O que provoca os alagamentos?
Na avaliação de representante da prefeitura e uma professora da Unicamp, os alagamentos são problemas que, diante das mudanças climáticas e da atual estrutura da metrópole, com solo impermeabilizado e galerias antigas, podem se agravar nos próximos anos.
“Esses alagamentos que ocorrem na Princesa d’Oeste, Norte-Sul e Orosimbo Maia se dão por conta de uma quantidade muito grande de chuva que cai em muito pouco tempo. A média histórica para outubro em Campinas é de 110 milímetros. (…) choveu 80mm, ou seja, quase a totalidade do mês inteiro caiu em muito pouco tempo”, destacou Ernesto Paulella, secretário de Serviços Públicos.
Segundo Paulella, a região foi muito impermeabilizada, com muitas áreas asfaltadas, onde praticamente não há infiltração da água no subsolo, e toda a água da chuva corre para os canais, formados por galerias antigas, projetadas para a média histórica.
“As redes não suportam essa quantidade de água no período muito pequeno, por isso o alagamento”, diz o secretário.
Avenidas da região central de Campinas ficam embaixo d’água
CIMcamp
Gabriela Celani, professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, enfatiza o cenário de mudanças climáticas agrava um problema que já existia.
“Não tem como negar que a gente está vivendo um período de mudanças climáticas extremas. O padrão de chuvas se alterou claramente nos últimos anos. Em vez de chuvas mais distribuidas ao longo do ano, elas estão se concentrando em pequenos períodos, e agrava um problema que já existia. Não tem como um córrego dar vazão a uma chuva tão intensa em tão pouco tempo”, explica.
Assim como o secretário municipal, a professora da Unicamp destaca a questão da impermeabilização do solo como um agravante para os alagamentos.
“Antes de a cidade estar aqui, esse solo tinha uma cobertura vegetal, ele podia receber essa chuva e absorver, impedindo que grande parte dela se dirigisse rapidamente às linhas de drenagem, que são os córregos”, detalha Gabriela.
O que pode ser feito?
De acordo com a Prefeitura, obras de piscinões, o primeiro deles em andamento, devem amenizar os impactos na região do ribeirão Anhumas, que provoca os alagamentos entre as avenidas Princesa d’Oeste, Norte-Sul e Orosimbo Maia – a entrega é prevista para 2026.
“Esse piscinão representa 80% do problema de inundação da Princesa e Norte-Sul. A conclusão é prevista para 2 anos. Até lá nós viveremos, infelizmente, essa situação”, disse Paulella.
Campinas autoriza início das obras do plano antienchente e prevê 1º piscinão entregue em julho de 2026
Questionada sobre outras ações para minimizar impactos das chuvas, a Prefeitura de Campinas informou que realiza, além das obras antienchente, trabalhos de limpeza em bocas de lobo, desassoreamento do piscinão da Norte-Sul, manutenção dos córregos, treinamentos da Defesa Civil, monitoramento de áreas de risco, pavimentação e drenagem e podas de árvores.
Placa com sinalização sobre alagamento em Campinas
PMC/Arquivo
VÍDEOS: confira outros destaques da região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas.