Levantamento de 2024 mostrou queda de 80% no número de aves habitando a Ilha do Pinheiro, principal dormitório da espécie. Contagem ocorre desde 2003. Papagaio-de-cara-roxa
Edvaldo de Souza/ TG
A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) lançou uma campanha de arrecadação de recursos para realizar o censo populacional do papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), na Grande Reserva Mata Atlântica em 2025.
A campanha de financiamento coletivo ocorre de forma online, por meio da plataforma Nature Invest, e aceita doações de pessoas físicas e jurídicas. A meta é arrecadar R$ 25 mil até abril de 2025, época em que o levantamento deve ser iniciado. Clique aqui para doar.
Dados do último censo, realizado entre maio e junho deste ano, apontaram uma redução de quase 80% dos indivíduos na Ilha do Pinheiro, principal dormitório da espécie no país. A ilha está localizada dentro do Parque Nacional do Superagui, no litoral paranaense.
Na contagem anterior, feita em 2019, o número de papagaios-de-cara-roxa totalizou 2265 indivíduos. Após quatro anos interrompido pela pandemia, o censo foi retomado pela SPVS em 2024, quando foram registrados somente 455 aves se abrigando na ilha.
Ilha do Pinheiro fica no Parque Nacional do Superagui, litoral paranaense
Gabriel Marchi
Para Elenise Sipinski, coordenadora de projetos de conservação de fauna na SPVS, os papagaios se reúnem nessa ilha por ser historicamente um local seguro e silencioso. No entanto, moradores relataram à ONG a presença crescente de embarcações na região, com visitantes utilizando buzinas, som alto e até fogos de artifício.
“Isso provavelmente vem fazendo com que os papagaios estejam diminuindo o uso desse dormitório, porque são animais extremamente sensíveis. A ideia é intensificar esse monitoramento e descobrir o que está acontecendo, pra onde esses papagaios estão indo”, comenta a pesquisadora.
A queda no número de indivíduos na Ilha do Pinheiro acabou influenciando na contagem total de papagaios-de-cara-roxa nos seis dormitórios tradicionalmente ocupados. Enquanto em 2019 foram registradas 7493 aves, em 2024 esse número passou para 5245. Entretanto, a coordenadora afirma que é cedo para dizer que essas aves simplesmente sumiram.
Destruição das matas coloca papagaio-de-cara-roxa em risco de extinção
Vagner Bordin/VC no TG
“Provavelmente eles se espalharam na região, estão usando outras áreas. Então a gente tem que fazer outras contagens, novos monitoramentos pra poder afirmar de forma mais qualificada o que está acontecendo de fato”, completa.
Monitoramento e outras ações
O monitoramento de ninhos da espécie vem sendo feito desde 1998, nesse e em outros dormitórios, enquanto os censos anuais começaram em 2003. A ação tem efeito protetivo em uma das principais ameaças à sobrevivência desse e outros papagaios: o roubo de filhotes.
Filhotes de papagaio-de-cara-roxa registrados durante monitoramento
Zig Koch/Arquivo Pessoal
“Quando você monitora os ninhos, envolve os moradores locais que nos ajudam a proteger, a gente tá fazendo com que esse tráfico ilegal, que vem de fora, diminua. Então, isso é uma ação que a gente faz pra recuperar a espécie”, explica Elenise.
Outra ação que visa facilitar o crescimento das populações é a instalação de ninhos artificiais. Os papagaios não fazem cavidades para nidificarem, mas usam cavidades que estão disponíveis na natureza. O problema é que não existem mais tantas disponíveis.
“Então, colocar ninhos artificiais também é uma ação de manejo que ajuda o incremento de filhotes na população. Além de atividades de educação ambiental e incentivo a um turismo de base comunitária”, finaliza a coordenadora.
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