Além de ser uma doença que precisa de cuidado por toda a vida, a condição pode estar associada a diversas causas e não se resume a “comer demais e exercitar-se de menos” Publicitária de 28 anos viveu por muito tempo se sentindo culpada pelo peso até entender que a obesidade é uma doença.
Arquivo Pessoal
Gordura excessiva, falta de fôlego, cansaço e dores corporais estão entre os tantos sintomas da obesidade¹. Além de todos os desafios e riscos associados, pessoas impactadas muitas vezes lidam com o sentimento de culpa, muitas vezes por não enxergarem a condição como a doença que é classificada assim pela Organização Mundial de Saúde¹.
A publicitária Alessandra Nascimento, 28 anos, viveu por muito tempo com esses dilemas. Foram anos se sentindo culpada pelo peso até entender que a obesidade é uma doença complexa, que tem várias causas², e não deve ser relacionada apenas a atitudes e comportamentos individuais.
“Faz uns três anos que tenho essa clareza. Entender como doença tira a questão da culpa, porque não é só o que você está comendo ou fazendo, o teu corpo está trabalhando contra você”, afirma.
Com o entendimento, ela iniciou um processo em busca de saúde, bem diferente do que acontecia quando, ainda na adolescência, em Curitiba (PR), foi buscar soluções, muito por questões estéticas e comparações dentro da família.
“Fiz dietas restritivas, consegui perder peso, mas não era pra mim. Estava fazendo um esforço que não conseguia manter e estava gerando compulsão alimentar, mas eu não tinha essa ideia”, conta, relatando que teve um reganho superior a 30kg.
Morando em Dundalk, no interior da Irlanda, ela buscou orientação e se organizou financeiramente para um tratamento com uma equipe multidisciplinar com médico endocrinologista, terapeuta, psiquiatra, personal trainer e nutricionista.
Hoje, Alessandra pesa 106kg, mas não vê resultados apenas na perda de peso – com 1,72m, ela chegou a pesar 120kg. Ela ganhou autoestima, a mobilidade melhorou e os exames clínicos já demonstram a diminuição da gordura no fígado (esteatose hepática), uma das preocupações.
Trabalhando com atendimento em um call center e com uma rotina mais saudável, ela nota a diferença em tarefas comuns do cotidiano, como amarrar o tênis e subir escadas, e sabe que os resultados dos cuidados terão reflexo também no futuro.
“Hoje sou jovem, mas, algum dia, não vou ser mais. Tenho que controlar uma doença para que ela seja menos danosa para mim a longo prazo. Daqui a 30 anos, vou ter quase 60 anos e quero ter boa mobilidade e uma vida saudável. É o que eu busco, criar um estilo de vida que me permita ter qualidade de vida”, completa.
Obesidade vai muito além do estilo de vida
O despertar para os riscos nem sempre acontece e, muitas vezes, só chega com o surgimento de alguma doença relacionada. Prova disso é que os diagnósticos de obesidade ainda são baixos se comparados ao número de pessoas impactadas, conforme pesquisa publicada em junho pelo Instituto Datafolha em parceria com a Novo Nordisk³.
O estudo aponta que 59% da população pode ter sobrepeso ou obesidade, levando em conta o Índice de Massa Corporal (IMC) – a medida relaciona peso e altura para classificar se um adulto está abaixo do peso, com sobrepeso ou obesidade – calcule o seu. Dos entrevistados, apenas 11% afirmaram ter recebido um diagnóstico médico formal.
A forma como a obesidade é vista também colabora para os números. A médica cardiologista Fabiana Hanna Rached, do Instituto do Coração (InCor) – HCFMUSP destaca o estigma em torno da doença.
“A obesidade, há muito tempo, tem sido mal interpretada, banalizada e estigmatizada como um problema de estilo de vida, e a maioria das pessoas fala: se você comer menos e se movimentar mais, você vai emagrecer. Mas isso é uma visão muito simplista da obesidade”, avalia.
Pensar assim, conforme a médica, acaba por desconsiderar as experiências vividas pela maioria das pessoas com obesidade e evidências científicas que demonstram tratar-se de uma doença crônica, isto é que precisará de cuidados por toda a vida.
“É uma condição heterogênea resultante de uma interação complexa de múltiplos fatores sócio, psíquico e biológico que promovem o ganho de peso excessivo e, em última instância, comprometem a saúde”, explica.
Diretora científica do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Fabiana ressalta que a obesidade, além de exigir cuidado contínuo ao longo da vida, tem alto potencial de voltar a se manifestar depois de um período de controle, provocando o conhecido efeito-sanfona. De maneira geral, os fatores neuro-hormonais importantes defendem o organismo de forma eficaz contra a perda de peso, tornando a obesidade um problema para toda a vida.
Como a doença afeta o corpo inteiro, tratá-la também significa cuidar da saúde como um todo.
“É importante enfatizar que é uma doença crônica, recidivante, com impacto negativo na saúde, e maior risco de doenças cardiovasculares. Mas também leva diretamente ao aumento de doenças do coração, entre elas arritmias como, por exemplo, a fibrilação atrial, a insuficiência cardíaca, a doença aterosclerótica, que leva a infarto, ao AVC e também está associada à estenose aórtica”, exemplifica.
Para saber mais sobre os riscos, acesse o site Meu Peso, Minha Jornada, calcule seu IMC e encontre um médico especializado.
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REFERÊNCIAS
1. Obesity and overweight. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight. Acesso em: 14/10/2024
2. Ministério da Saúde. O impacto da obesidade. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-ter-peso-saudavel/noticias/2022/o-impacto-da-obesidade. Acesso em 14.10.2024
3. Instituto Datafolha. Pesquisa Meu Peso, Minha Jornada, realizada pela Novo Nordisk.