A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, afirmou que a família dela e do Anderson seguirá lutando pela memória dos assassinados. Nesta quinta-feira (31), o 4º Tribunal do Júri do Rio condenou nesta quarta-feira (30) os assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Anielle Franco fala após condenação de executores da irmã
A ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle Franco, Anielle Franco, comentou, logo após a condenação de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, que seguirá buscando Justiça e que espera a condenação dos mandantes dos assassinatos de Marielle e do motorista Anderson Gomes.
“A gente sabia que tinha que lutar e batalhar por Justiça e hoje a gente sai daqui com esse sentimento. A gente sabe que não acaba aqui, ainda tem uma parte, saber quem pensou, quem mandou, quem pagou por esse crime”, disse Anielle.
São acusados de mandarem matar Marielle e Anderson os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, que seria o mentor do assassinato. Os acusados serão julgados no Superior Tribunal Federal (STF). (Veja mais detalhes nesta reportagem).
Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa, acusados de mandar matar Marielle Franco
Reprodução
No começo da noite desta quinta-feira (31), o 4º Tribunal do Júri do Rio condenou o ex-policial militar Ronnie Lessa, o autor dos disparos naquela noite de 14 de março de 2018, que recebeu a pena de 78 anos e 9 meses de prisão.
Já o também ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o Cobalt usado no atentado, foi condenado a 59 anos e 8 meses de prisão. Como firmaram acordos de delação premiada, no entanto, os tempos de execução de pena serão reduzidos.
“A gente sempre falou desde o começo que a gente não ia desistir e não ia parara até que minimamente a Justiça começasse a ser feita. Foram muitas noites, dias, anos dos meus pais vendo essa dor que não tem nome”, comentou Anielle.
“O maior legado que a Marielle deixa para esse país é que mulheres, pessoas negras faveladas, quando chegam em seus postos merecem permanecer vivas”, comentou.
Famílias de Marielle e Anderson se emocionam após anúncio da condenação dos assassinos
Diante do anúncio das sentenças, familiares das vítimas caíram em lágrimas no tribunal.
O pai (Marinete e Antônio), a irmã (Anielle Franco) e a filha de Marielle (Luyara), e as viúvas dela (Mônica Benício) e de Anderson (Ágatha Reis) se abraçaram e aplaudiram, muito emocionados.
“Quando assassinaram a minha irmã com aqueles quatro tiros na cabeça eles não imaginavam a força que esse país e esse mundo se levantariam. A Justiça começou a ser feita e, eu repito mais uma vez, Justiça mesmo seria se a gente não tivesse aqui hoje”, reforçou Anielle.
“As pessoas precisam parar de normalizar corpos sendo tombados nesse país, de normalizar uma criança que toma bala perdida, uma vereadora assassinada, uma pessoa negra sendo tombada e virando piada”, acrescentou a ministra.
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Mandantes serão julgados no STF
Após a condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz nesta quinta-feira (31) pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, o Supremo Tribunal Federal (STF) cogita julgar ainda este ano os mandantes e mentores do crime.
O objetivo, porém, pode não ser cumprido caso eventuais diligências impeçam a conclusão do julgamento.
A Corte – que começou a ouvir os cinco presos em 27 de outubro – realiza o julgamento devido ao foro privilegiado de Chiquinho Brazão.
São réus no processo:
Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes do crime;
O delegado Rivaldo Barbosa, que seria o mentor do assassinato;
O ex-policial militar Robson Calixto, conhecido como Peixe, ex-assessor de Domingos Brazão e que, segundo as investigações teria ajudado a dar sumiço na arma do crime;
E o Major Ronald Paulo Alves Pereira, encarregado de monitorar a rotina da parlamentar, segundo a delação de Ronnie Lessa.
As audiências de instrução terminaram na terça-feira (29). Isso quer dizer que todas as partes foram ouvidas (testemunhas, defesa e acusação). E, conforme o trâmite processual, a defesa dos réus tem cinco dias para pedir diligências ao ministro relator.
Passada essa fase, o Supremo ouvirá as alegações finais da defesa e da acusação.
Os crimes
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
Brunno Dantas/TJRJ
Ronnie e Élcio foram enquadrados nos seguintes crimes:
duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima)
tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado e prestou depoimento nesta quarta-feira.
receptação do Cobalt prata, clonado, que foi usado no crime
R$ 3,5 milhões em indenizações
Além da prisão, Lessa e Élcio terão que pagar:
uma pensão, até os 24 anos, para o filho de Anderson, Arthur
R$ 706 mil de indenização por dano moral para cada uma das vítimas — Arthur, Ághata, Luyara, Mônica e Marinete. As indenizações somam R$ 3.530.000 para os dois dividirem
custas do processo e mantenho a prisão preventiva deles, negando o direito de recorrer em liberdade.
Delação pode reduzir penas
Apesar das penas, Lessa e Élcio devem sair bem antes da cadeia. Os dois assinaram um acordo de delação premiada, que levou ao avanço das investigações – principalmente em relação aos mandantes.
No acordo, está previsto, entre outras coisas, que:
Élcio Queiroz ficará preso, no máximo, por 12 anos em regime fechado;
Ronnie Lessa ficará preso por, no máximo, 18 anos em regime fechado – e mais 2 anos em regime semiaberto.
Esses prazos começam a contar na data em que foram presos, em 12 de março de 2019 – um ano após o crime. Ou seja, 5 anos e 7 meses serão descontados das penas máximas.
Assim, Élcio pode deixar a cadeia em 2031, e Lessa iria para o semiaberto em 2037, e fica livre em 2039.
O acordo de cada réu, no entanto, pode ser anulado caso uma das obrigações dos delatores não seja cumprida. Por exemplo, caso fique comprovada alguma mentira na delação premiada.
Ambos ganharam também o benefício de deixar os presídios federais de segurança máxima – já foram transferidos para penitenciárias estaduais.
Lessa conseguiu ainda ter de volta a casa da família na Zona Oeste do Rio que estavam entre os bens bloqueados pela Justiça.
O acordo de cada réu, no entanto, pode ser anulado caso fique comprovada alguma mentira na delação premiada e que não leve à elucidação de casos.