25 de dezembro de 2024

O socorro que vem do ar: resgates aéreos salvam vidas em comunidades remotas e cidades isoladas do AC


Ciopaer e Samu atuam em conjunto para chegar em locais de difícil acesso e conseguirem resgatar pessoas em situações urgentes de saúde. Atuação integrada ocorre desde 2019, se intensificou na pandemia de Covid-19 e alcançou todos os municípios acreanos. Ciopaer resgata em média 100 pessoas no Acre, segundo a Sejusp
Arquivo/Secom
A Constituição de 1988 preconiza o acesso à saúde como direito fundamental a toda a população brasileira. Mas, por questões geográficas, o Acre e sua imensidão em meio à floresta amazônica abafa, por vezes, pedidos de socorro urgentes. Afinal, como pedir ajuda médica quando não se é possível fazer uma simples ligação ao Disque 192, número do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), por falta de sinal telefônico?
Salvar vidas, independente das condições, é um dos pilares do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), integrado à Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp-AC). Implementado em setembro de 2009, o Helicóptero João Donato tinha a finalidade de salvar vidas ao ser usado como suporte aéreo.
Em 15 anos, o serviço resgata em média 100 pessoas por ano em todos os municípios acreanos, o que coloca o número de atendimentos próximo a 1.500, segundo a Sejusp.
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Desde então, histórias de superação têm sido escritas nos ares acreanos em conjunto com os profissionais do Samu, igualmente importantes no processo do socorro que vem do ar. Uma delas foi a de uma indígena da etnia Jaminawá. Na época com 15 anos, ela esperava por resgate após o bebê nascer com o intestino para fora do corpo na comunidade Icuriã, próximo ao município de Assis Brasil, distante em linha reta 200 km da capital.
O resgate foi feito pelo helicóptero do governo estadual João Donato, e o pouso foi feito em um ramal, já que o acesso por terra era praticamente impossível, e de barco duraria seis dias. Mãe e filho foram encaminhados para a maternidade pública de Rio Branco após o procedimento de urgência desenvolvido na aldeia.
A enfermeira Solange Silva, profissional do Samu, estava diante de um dos casos mais desafiadores e emocionantes de sua carreira, e que marcou igualmente a trajetória de 15 anos do Ciopaer. Em entrevista ao g1, ela diz que relembrar este caso ainda a emociona, já que a criança ainda estava caída no chão, suja de areia.
“O bebê estava hipotérmico e exposto a condições adversas, mas conseguimos estabilizá-lo e transportá-lo para a maternidade. Foi difícil, pois o espaço para a aeronave pousar era muito pequeno. O operador teve que abrir caminho cortando mato enquanto sobrevoávamos a área. Conseguimos resgatar um bebê em condições críticas e estabilizá-lo, utilizando soro e cuidados adequados”, conta.
Bebê indígena é resgatado, após nascer com intestino para fora do corpo
Arquivo/Ciopaer
Solange faz parte de uma equipe de emergência que atua no Samu-192. A complexidade de seu trabalho começa já com a recepção dos chamados.
“Tanto o resgate aéreo nas áreas de difícil acesso, ou sem acesso terrestre, quanto os transportes de casos graves, dão entrada no Samu-192. Temos nossa equipe já de plantão na base, médico e enfermeiro”, explica ela.
Os desafios são muitos: condições climáticas adversas, terrenos acidentados e a urgência em salvar vidas.
“Após receber a solicitação, comunicamos à equipe da aeronave para planejar o voo, levando em conta as coordenadas e a autorização necessárias. O resgate exige coordenação e agilidade”, complementa.
Meninos com TEA atendidos por centro em Rio Branco passeiam em helicóptero do Ciopaer
Outros casos
Este ano, um dos resgates que também emocionaram foi a das vítimas do acidente aéreo em Manoel Urbano, em março deste ano. Suanne Camelo, de 30 anos, foi a primeira a ser transferida para Rio Branco, ainda entubada e em situação grave.
A transferência foi feita com equipes do Samu e do Ciopaer e a aeronave pousou no heliponto do Pronto Socorro de Rio Branco no início da noite de 18 de março, dia do acidente.
Mulheres em trabalho de parto também são atendidas pelo serviço. Uma adolescente indígena de 14 anos, que estava nesta situação há dois dias, foi resgatada na Aldeia Santa Rosa, que fica na Terra Indígena Riozinho, às margens do Rio Iaco, em Assis Brasil, e levada para a Maternidade Bárbara Heliodora.
Na pandemia de Covid-19, também houve muitas transferências de helicóptero, inclusive de pacientes gravíssimos, onde os profissionais iam até à unidade e complementavam com a estabilização do paciente para fazer o transporte, inclusive até com entubação, caso necessário.
Centro tem média de 100 resgates por ano, segundo estimativa da Sejusp
Reprodução
Equipes integradas
O sucesso dos resgates aéreos deve-se, em grande parte, ao treinamento da equipe, avalia a enfermeira Solange
Arquivo pessoal
Solange perdeu as contas de quantos resgates já participou, justamente por na época só ter ela como enfermeira habilitada para fazer esses transportes. Mas, apesar de não conseguir quantificar, destaca que todos são marcantes à sua maneira. O sucesso dos resgates aéreos deve-se, em grande parte, ao treinamento da equipe.
“Todos os profissionais que fazem parte do aeromédico são escalados mensalmente e têm habilitação específica. Eles passam por cursos de capacitação em transporte aéreo e resgate”, destaca.
Após dar entrada à solicitação, o Ciopaer é comunicado justamente para que a equipe da aeronave veja a condição de voo e faça o plano de voo, traçando todas as coordenadas mediante autorização.
Depois, a equipe segue até o Centro Integrado de Ensino e Pesquisa em Segurança Pública (Cieps), onde a aeronave fica na base com todo o material de suporte médico: material, medicamentos e demais equipamentos. Depois, eles se deslocam até o local onde a vítima se encontra.
Desde 2009, o Ciopaer cresceu e se aprimorou com a aquisição de novas aeronaves, além do imponente João Donato, e na formação de mais pilotos também. Segundo dados do centro, atualmente são 11 novos pilotos e três helicópteros.
Diante de tantos casos marcantes, a profissional diz que o sentimento que fica após cada vida salva é de gratidão, principalmente pela missão que se comprometeu a cumprir quando tornou-se enfermeira: o de salvar vidas.
“Realização de poder contribuir para salvar vidas. Uma profissão que escolhi e que exerço com muita dedicação, muito amor. Sou muito feliz, realizada por poder contribuir sempre, dar o meu melhor nas condições que eu tenho para aquele momento. É muito gratificante”, finaliza a enfermeira.
VÍDEOS: g1

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