Caetano Ribeiro Aurungo, de 21 anos, morreu após bater no carro de João Pedro Donatone, que avançou o sinal vermelho em Santos (SP). Em depoimento, o autor detalhou momentos antes da colisão. Vídeo mostra momento em que carro avança sinal vermelho
João Pedro Donatone, o motorista de 19 anos que colidiu e matou o motociclista Caetano Ribeiro, de 21, ao avançar um sinal vermelho em Santos, no litoral de São Paulo, prestou depoimento à Polícia Civil. Para a delegada Liliane Doretto, do 3º Distrito Policial (DP), o homem está contribuindo com a investigação e ‘certamente continuará em liberdade’.
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O caso ocorreu, na madrugada de 19 de outubro, no cruzamento entre as Ruas Álvaro Alvim e Conselheiro Lafayette, no bairro Embaré. Caetano morreu no local do acidente. Já João Pedro, que avançou o sinal vermelho, não ficou ferido.
De acordo com o boletim de ocorrência, João Pedro foi submetido a exame clínico no Instituto Médico Legal (IML) que deu negativo para embriaguez. O laudo, porém, constou que havia sinais indicativos de que ele estava sob efeito de álcool. Ele passou por audiência de custódia e teve a liberdade provisória concedida mediante fiança de R$ 42 mil.
Inicialmente, o caso foi tratado como homicídio culposo – quando não há intenção de matar –, mas a Polícia Civil solicitou a prisão preventiva de João Pedro após analisar as imagens do caso.
A conclusão foi de que o jovem agiu com dolo eventual – quando o autor “assume o risco” de matar. Apesar disso, a delegada acredita que a Justiça deve mantê-lo solto.
“Certamente continuará em liberdade, porque ele está sendo muito solícito, muito tranquilo, em colaborar com as investigações. Ele não tem antecedentes criminais e foi um fato que ocorreu em trânsito, que pode ocorrer com todo mundo. Então isso não dá margem para que o juiz tenha outra posição senão mantê-lo em liberdade”, disse a autoridade policial.
Depoimento
Motorista de carro passou no sinal vermelho, colidiu e matou Caetano Ribeiro Aurungo (à direita) em Santos (SP)
Ariane Andrade e Redes sociais
João Pedro prestou depoimento no 3º DP de Santos por volta de 12h de quarta-feira (30), ocasião em que detalhou a colisão. Segundo a delegada da unidade, durante o procedimento ele negou ter bebido álcool ou usado drogas, mas confessou ter dado uma ‘bicada’ em um copo de uísque.
O jovem revelou ter ido a uma casa noturna com amigos e, depois, em um quiosque no bairro Embaré. Ele comeu e partiu rumo à casa onde vive, momento em que aconteceu a colisão.
Um dos questionamentos levantados pela delegada Liliane Doretto foi o fato de, após a colisão, João Pedro ter se recusado a fazer o teste do bafômetro.
“Ele falou que sempre ouviu dizer que não que não seria uma boa fazer o bafômetro, mas que simplesmente deu uma ‘bicada’ no uísque dentro do Moby Dick [casa noturna] e tomou água. Até agora isso confere, ele só pagou no Moby Dick R$ 8 em uma água com gás que ele tomou”, disse ela.
Acostumado com o percurso
No depoimento, João Pedro disse que estava andando em baixa velocidade na hora de voltar para casa. Porém, como viu que não havia ninguém no cruzamento, acelerou para evitar ser surpreendido.
Naquele momento, ainda de acordo com ele, a moto da vítima apareceu em alta velocidade e alcançou o ‘finalzinho’ do automóvel, batendo na lateral direita.
“Ele fala que está acostumado a fazer esse percurso há um ano […], só não estava fazendo há duas semanas, agora. Que sempre passou no farol vermelho, nunca colheu [atingiu] ninguém porque foi cauteloso”, disse a delegada.
De acordo com a autoridade policial, foi solicitado um novo teste de DNA para ajudar nas investigações. Saindo do depoimento, João Pedro foi até o Instituto Médico Legal (IML) para fazer a coleta de sangue. Ela informou não saber em quanto tempo sairá o laudo com os resultados.
“Eu tinha pedido um mandado de busca para a apreensão do celular para ver se ali conseguia alguns elementos que comprovem se ele estava embriagado, se usava droga e tal. Ele se prontificou a entregar o celular, deu a senha e ainda se dispôs a fazer o exame de DNA, que é mais preciso para saber se, quando da conduta, ele estava embriagado”, afirmou.
Por meio de nota, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) disse que o caso se trata de inquérito policial em andamento. “Nessa fase, as informações nos autos são de acesso restrito às partes e advogados. Portanto, não temos informações disponíveis”.
Sinal vermelho
Carro avançou com o carro no sinal vermelho em cruzamento de ruas no bairro Embaré, em Santos (SP)
Reprodução
Durante a investigação da Polícia Civil, equipes do 3º Distrito Policial coletaram imagens de monitoramento da região na hora do acidente para comprovar quem passou no semáforo vermelho.
Câmeras de segurança de um prédio, localizado na esquina entre as duas ruas, flagraram o acidente em dois ângulos diferentes, um em cada via. Nas imagens capturadas da Rua Álvaro Alvim, é possível ver que o sinal estava vermelho para o carro.
Por conta disso, a delegada Liliane Doretto revelou, em entrevista à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo, que a tipificação do crime foi alterada de “homicídio culposo” para “homicídio qualificado com dolo eventual na direção de veículo automotor”.
A decisão foi tomada após a corporação concluir que o carro conduzido por João Pedro causou o acidente, não respeitando a sinalização, o que também caracterizou o dolo eventual — quando o autor não busca diretamente o resultado, mas está indiferente ou assume o risco.
“Ele assumiu o risco. É como se fosse uma roleta-russa. Ele passou em alta velocidade, no semáforo vermelho, colheu [atingiu] uma vítima, o motociclista, sem que ele tivesse, no mínimo, a chance de se defender”, disse a delegada.
Obrigações
Segundo a decisão que arbitrou a fiança para João Pedro, ele deverá comparecer em juízo bimestralmente e justificar as atividades. O juiz ainda definiu que João Pedro deverá comparecer a todos os atos de eventual processo instaurado e não poderá mudar de endereço sem avisar a Justiça.
O TJ-SP também suspendeu o direito de João Pedro dirigir por pelo menos 180 dias. Foi determinado, inclusive, que ele entregue em juízo a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Defesa do motorista
Caso aconteceu no cruzamento entre as ruas Álvaro Alvim e Conselheiro Lafayette, no bairro Embaré, em Santos
Ariane Andrade
Em nota, os advogados Genivaldo Silva e Santos Carvalho, que representam o motorista João Pedro Donatone no caso, afirmaram que “não houve atropelamento” na ocorrência, mas sim uma colisão entre o carro e a motocicleta.
“O que pode ser verificado pelos danos no carro, que se encontram todos na parte lateral direita e não na parte dianteira”, apontaram os advogados. Eles acrescentaram que o condutor do veículo “não estava embriagado” e que isto foi constatado em exame do IML.
Por fim, os advogados ressaltaram que as circunstâncias do acidente ainda estão sendo apuradas pelas autoridades.
Família da vítima
A família de Caetano garantiu que irá lutar para que o suspeito responda pelo crime. Segundo a avó Vanda Freire Aurungo, testemunhas do acidente disseram que o motorista chegou a tentar fugir a colisão. “Conseguiram pegá-lo porque ele bateu o carro. […] Ele falou que era mais uma morte. Ele não parece estar muito preocupado com o próximo”, afirmou.
Vanda afirmou que pretende acompanhar as investigações do caso. “Vou acompanhar todo o andamento para poder fazer Justiça, porque ele era o meu príncipe, o meu neto, ele morava comigo desde que nasceu, então eu não vou deixar isso para lá”, finalizou Vanda.
Vanda Freire Aurungo tinha a guarda do neto Caetano Ribeiro Aurungo
Arquivo Pessoal
Quem era Caetano?
Caetano deixou dois irmãos caçulas, sendo uma menina de 14 anos e um menino de 11. O trio morava com os avós paternos no bairro Aparecida. Vanda contou ao g1 que possuía a guarda dos três netos, apesar de todos terem contato com os pais biológicos.
O pai de Caetano morreu no dia 14 de agosto após adoecer. No entanto, semanas antes de ficar doente, o pai do jovem havia voltado a morar na casa da mãe e, consequentemente, ter mais convívio com Caetano.
“Eles conversaram, desabafaram um com o outro e o Caetano estava até feliz com essa situação. Ele comentou isso comigo essa semana que passou, falou que estava contente de ter essa aproximação com o pai, aí aconteceu isso do pai adoecer e falecer […]. Ele ficou muito mal, acho que esperava uma aproximação, que aconteceu, mas não teve continuidade”, afirmou Vanda.
Vanda perdeu o filho e o neto em dois meses
Arquivo Pessoal
Vanda é auxiliar de secretaria na Universidade Santa Cecília, onde Caetano cursava Engenharia da Computação. Ela disse que o neto sonhava em ter uma profissão e ser independente, mas acabou trancando a faculdade semanas antes de morrer.
Ela descreve o neto como um jovem caseiro, tranquilo e que tinha como principal hobby jogar no computador com os amigos. “Um menino bom, tranquilo mesmo, ele era uma pessoa incrível, calado, fechado, mas uma pessoa incrível”, relembrou. Segundo Vanda, o sonho dele era se sustentar e ser independente.
Caetano Ribeiro Aurungo morava com os irmãos caçulas e os avós paternos em Santos (SP)
Arquivo Pessoal
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