Bloco chega ao seu cinquentenário sendo referência em negritude no país, além, de ser símbolo da cultura baiana no mundo, da resistência do povo preto e da luta contra o racismo. Ilê Aiyê faz do carnaval uma celebração da ancestralidade
Max Haack/Ag Haack
Nascido nos primeiros dias de novembro de 1974, o bloco afro Ilê Aiyê celebra nesta sexta-feira (1º), 50 anos de fundação e chega ao seu cinquentenário sendo referência em negritude no país.
Em comemoração ao aniversário do bloco que é símbolo da cultura baiana no mundo, da resistência do povo preto e da luta contra o racismo, o g1 destaca momentos marcantes do “Mais Belo dos Belos”. [Veja ao final da matéria]
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Ainda para festejar os 50 anos do Ilê, aTV Bahia lançou o documentário “Ilê Aiyê: a casa do mundo”. O filme reúne registros inéditos e relembra a trajetória do bloco afro. A equipe de jornalismo da TV Bahia ouviu quase 60 pessoas, entre anônimos e famosos, que buscaram nos seus arquivos e lembranças os melhores momentos e relatos sobre o sobre o “Mais Belo dos Belos”.
Imagem do documentário “Ilê Aiyê: a casa do mundo”, da TV Bahia
Reprodução/TV Bahia
Entre as participações estão nomes como Caetano Veloso, Daniela Mercury, Lazzo Matumbi, Carlinhos Brown, Mãe Hildelice e Vovô do Ilê. O casal de atores Lázaro Ramos e Taís Araújo também está no elenco, com narrações de trechos.
Ilê, história e o Curuzu
Bloco afro mais antigo do país, Ilê Aiyê se prepara para celebrar meio século
✊🏾 O Ilê foi criado em 1º de novembro de 1974, quando Antônio Carlos Vovô, Apolônio de Jesus (1952-1992) e outros moradores do entorno da ladeira do Curuzu decidiram montar um bloco de carnaval formado apenas por negros. Até hoje, apenas pessoas negras podem desfilar no Ilê.
✊🏾 É considerado o primeiro bloco afro do Brasil e foi criado no começo dos anos 70, no bairro da Liberdade, em Salvador. Hoje a região do Curuzu já é considerada bairro. Por muitos anos, o Curuzu foi conhecido com uma rua do bairro da Liberdade, mas, desde 2017, foi incluído na lista de bairros oficiais da capital baiana.
✊🏾 O 1,1 km de extensão da rua direta do Curuzu passou por requalificação desde a Avenida General San Martin à Estrada da Liberdade. Com a remodelação urbanística, o bairro ganhou as cores amarelo e vermelho, as mesmas da fachada da Senzala do Barro Preto, sede do bloco.
✊🏾No bairro do Curuzu estão importantes terreiros de candomblé do Brasil: o terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe (o primeiro a ser tombado com base na Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Salvador) e o Vodun Zô, um dos únicos da nação Jeje Savalu que mantém os ritos originais, assim como o dialeto africano Ewe-Fon preservado nas expressões e cânticos.
Bloco afro mais antigo do país, Ilê Aiyê se prepara para celebrar meio século
Divulgação/André Frutuoso
✊🏾 Desde a fundação, o Ilê Aiyê se tornou referência na luta contra o racismo, fazendo uma representação positiva do negro e enaltecendo as raízes africanas da cultura nacional.
✊🏾Com música, dança, ilustração e vestuário, o Ilê ainda desenvolve projetos de extensão pedagógica.
Ilê Aiyê no Campo Grande
Sérgio Pedreira/ Ag. Haack
🥁”Sou Ilê Aiyê da América Africana! Senzala Barro Preto Curuzu, sou negro Zulu! Gravey Liberdade, Brooklin Curuzu Aiyê!”
✊🏾 Os fundadores do Ilê foram inspirados pelas lutas por direitos civis nos Estados Unidos, pelas guerras de libertação contra o colonialismo na África e pelos movimentos estadunidense Black Power e Panteras Negras.
✊🏾 Ao saber da iniciativa do filho Vovô e seus amigos, a ialorixá Mãe Hilda, do terreiro Ilê Axé Jitolu, aprovou a iniciativa, mas pediu que invés de “Povo Negro”, o bloco se chamasse Ilê Aiyê, que em língua iorubá significa “casa” (ilê) e “terra” (aiyê).
Bloco afro mais antigo do país, Ilê Aiyê se prepara para celebrar meio século
Vitor Santos/Ag Haack
✊🏾 Por conta do Ilê, o bairro da Liberdade adquire status de espaço negro de resistência, um quilombo, um “Harlem baiano”.
✊🏾O Ilê tem como objetivo do Ilê Aiyê ‘africanizar’ o carnaval de Salvador e transcende a festa. É tempo de exibir tranças, cabelos black e rastafári, batas africanas e búzios.
🥁”Que bloco é esse? (Ilê) Eu quero saber (Ilê Aiyê). É o mundo negro que viemos mostrar pra você”, diz a letra de Paulinho Camafeu.
✊🏾 No carnaval de 1975, o Ilê saiu às ruas pela primeira vez.
Bloco afro mais antigo do país, Ilê Aiyê se prepara para celebrar meio século
Max Haack/Ag.Haack
✊🏾 Em 1977, Gilberto Gil gravou “Que bloco é esse”, composição de Paulinho Camafeu. A música estourou e mostrou a força do “mundo negro Ilê Aiyê”.
✊🏾Em 1979, foi criada a Noite da Beleza Negra, que é realizada até hoje para a rainha do bloco, em um evento onde a beleza da mulher negra é exaltada.
Deusa do Ébano do Ilê Aiyê
Gilmar Castro / Ag Haack
✊🏾A identidade visual do bloco foi criado em 1978, pelo artista Jota Cunha. A máscara africana com quatro búzios abertos na testa e que formam uma cruz foi batizada de Perfil Azeviche.
✊🏾O azeviche é um tipo de mineral negro que é associado ao barro preto das terras de Liberdade e, ao mesmo tempo, à pele negra. O nome da sede do bloco é justamente Senzala do Barro Preto.
✊🏾Dete Lima, estilista do Ilê Aiyê, desenvolveu os turbantes com amarração e as fantasias com tecidos estampados que destacam os integrantes e se tornaram a marca registrada do bloco.
✊🏾Mais que um bloco: o Ilê tem um projeto amplo que defende questões éticas, de educação e transformação social, oferecendo educação e arte aos jovens do bairro do Curuzu.
Documentário da TV Bahia sobre o Ilê Aiyê é exibido pela primeira vez
Bloco afro mais antigo do país, Ilê Aiyê se prepara para celebrar meio século
Sérgio Pedreira/ Ag. Haack
Ilê Aiyê desfile no Campo Grande após sair do Curuzu
Sérgio Pedreira/ Ag. Haack
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