Bioma vem sofrendo com desmatamento e em Mato Grosso do Sul perdeu 39 mil hectares em 2023, conforme o MapBiomas. Sementes nativas do Cerrado são coletadas em comunidades tradicionais de MS.
Arquivo/Comunidade Quilombola de Furnas da Boa Sorte
Dados do MapBiomas apontam que mais da metade de toda área desmatada no Brasil está localizada no Cerrado. Em 2023, o bioma perdeu 1,8 milhão de hectares de vegetação nativa.
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A degradação do Cerrado vem gerando preocupação entre autoridades, especialistas e sociedade civil. Segundo a WWF-Brasil, apenas deter o desmatamento já não é suficiente devido à proporção de destruição. Entre as soluções apontadas pela ONG está a restauração das áreas degradadas.
Ainda conforme a entidade, o reestabelecimento dessas áreas é um grande desafio e requer toneladas de sementes nativas para plantio. A amplitude do trabalho tem levado organizações da sociedade civil e comunidades locais a se unirem para multiplicar e fortalecer as chamadas redes de sementes.
“Elas promovem a participação ativa das comunidades locais que atuam como guardiãs do território e do conhecimento tradicional, valorizando as espécies nativas e contribuindo para uma economia verde. Além de preservar o conhecimento tradicional, esses grupos são protagonistas na coleta, seleção e disseminação de sementes nativas, promovendo práticas de restauração e conservação que respeitam as dinâmicas naturais do Cerrado e contribuem para a manutenção da sua rica sociobiodiversidade”, explica a analista de Conservação da WWF-Brasil, Carolina Marcial.
No cerrado, parcerias entre a WWF-Brasil com a Rede de Semente do Cerrado e a Associação Cerrado de Pé, apoiam a construção da Rede de Sementes Flor do Cerrado, que atua na Bacia do Alto Paraguai, entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, e em outros locais do estado.
Articulação entre organizações da sociedade civil e comunidades tradicionais contribuem para restauração do Cerrado.
Arquivo/Comunidade Quilombola de Furnas da Boa Sorte
Coleta de Sementes em MS
Em Mato Grosso do Sul, 39 mil hectares foram desmatados no mesmo ano, o que representa 48% de todo o desmatamento ocorrido no estado, que totalizou 83 mil hectares suprimidos. Já o Pantanal 43.293 representa 52,3% da área desmatada total no estado
A recuperação dos biomas é o principal objetivo da Rede de Sementes Flor do Cerrado, que conta com coletores da Comunidade Quilombola de Furnas da Boa Sorte, em Corguinho, do Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec), associação sediada no Assentamento Andalucia e que engloba coletores da região de Nioaque, além de coletores do Assentamento Alambari, em Sidrolândia, e da Comunidade Quilombola Santa Tereza, em Figueirão.
Para a presidente da Associação da Comunidade Quilombola de Furnas da Boa Sorte, Elaine Matheus Teodoro, o projeto de restauração a partir da coleta de sementes vem sendo importante tanto para a preservação ambiental quanto para a geração de renda para as famílias locais.
“Pra mim, uma árvore vale mais em pé do que morta, caída. Então [a Rede de Sementes] ajudou a manter a comunidade preservada. E isso fortaleceu em manter o cerrado de pé. E aí gera renda também. Já chegamos a faturar R$30 mil em um ano”, relata Elaine.
A coleta de sementes, segundo Elaine, também tem ajudado na permanência das pessoas na comunidade, que por vezes acabam saindo de seus territórios em decorrência da ausência de políticas públicas e condições de subsistência.
“Porque os filhos crescem, os filhos precisam estudar, precisam trabalhar. Então vão embora. E com a semente não. Agora dá pra permanecer aqui. Porque está crescendo o nosso projeto”.
A partir da coleta as comunidades repassam as sementes para iniciativas que fazem a distribuição para ações como o plantio em áreas de recuperação. Há, ainda, a produção de produtos como rapaduras e farinhas, além de estudos científicos.
Produtos produzidos a partir de sementes nativas do Cerrado.
Arquivo/Comunidade Quilombola de Furnas da Boa Sorte
Protagonismo feminino
As redes de coleta de sementes têm atuado para promover o protagonismo das mulheres de comunidades tradicionais e contribuem para a autonomia das coletoras. Para Elaine, a atuação das mulheres no projeto contribuiu, ainda, para a liberdade feminina.
Segundo a Rede de Sementes do Cerrado, a coleta tem papel importante na inclusão de mulheres da área rural em atividades que geram renda. “E esse papel vem em uma via de mão dupla, porque há muitas mulheres em comunidades tradicionais que são as grandes detentoras de conhecimento sobre a biodiversidade, sobre quais plantas usar, seus usos medicinais”.
“Aqui na área rural, normalmente a mulher fica em casa e o marido vai trabalhar, vai para o campo. As meninas e as mulheres daqui ficavam em casa e quando veio esse projeto deu autonomia pra elas, deu dinheiro”, conta Elaine.
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