5 de novembro de 2024

Teste sugere que jejum intermitente pode ter elo com desenvolvimento de tumores


Conduzida em Massachusetts, pesquisa com camundongos constatou aumento das células-tronco do intestino ao fim do jejum, o que pode ser perigoso para alguns pacientes. Jejum intermitente é técnica em que pessoa come em períodos determinados
Divulgação
Um estudo conduzido por cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, sinalizou uma contraindicação do jejum intermitente (alimentação após longos períodos de intervalo) para pessoas com histórico de câncer intestinal ou que não seguem uma boa alimentação.
🔬 O trabalho, publicado na revista científica Nature, analisou o comportamento celular do intestino durante a interrupção alimentar e no período pós-jejum, mostrando que:
comer bem após um longo período de jejum faz com que as células-tronco do epitélio se multipliquem mais, o que é benéfico para o corpo;
porém, essa multiplicação pode gerar tumores em pacientes com histórico de câncer ou que consomem muitos alimentos carcinogênico ao fim do jejum.
O g1 conversou com o pesquisador brasileiro Renan Oliveira Corrêa que é doutor em genética e biologia molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coautor do trabalho para entender ponto a ponto. Confira na reportagem abaixo.
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Como o estudo foi feito
O estudo avaliou os efeitos do jejum intermitente nas células-tronco em uma das camadas que compõem o intestino, a parede epitelial. Entenda:
A parede epitelial separa o lado de dentro – por onde passam alimentos e fezes – da parte de fora. O epitélio é repleto de células-tronco que, segundo o especialista, têm a função de renová-lo constantemente;
Para isso, essas células se dividem intensamente e de forma rápida, mantendo o epitélio sempre ‘novo’ e íntegro. “Entre três a cinco dias, praticamente toda a nossa parede intestinal é renovada por causa delas”;
Quando comemos, os alimentos e fezes que passam pelo intestino vão danificando o epitélio, o que é absolutamente normal. Porém, para não deixar que um buraco se abra nessa camada, as células vão se renovando.
Para a análise, os pesquisadores usaram camundongos, que foram separados em três grupos:
no primeiro, os animais puderam comer à vontade, quando e o quanto quisessem;
no segundo, os animais ficaram sem comer por 24 horas;
no terceiro, os animais ficaram sem comer por 24 horas e, depois, passaram 24 horas comendo à vontade.
A resposta não está no jejum, mas, sim, no fim dele
Outros estudos já haviam mostrado que a prática de jejuar leva a uma alta na proliferação das células-tronco intestinais e, consequentemente, na renovação do epitélio. A nova pesquisa confirmou isso, mas trouxe uma novidade: os cientistas perceberam que essa multiplicação não ocorre durante o jejum em si, mas, sim, na realimentação.
“O animal, quando ele passa pelo jejum, passa por um estresse fisiológico. Ele está sem se alimentar, ele diminui a quantidade de calorias, de nutrientes e tudo mais. No momento que ele volta a comer, as células-tronco aumentam [em quantidade]”.
Essa alteração só ocorreu entre os animais que voltaram a comer após o jejum. Corrêa diz que é como se as células entendessem que, por terem passado pelo estresse do jejum, precisam se multiplicar. Como não tiveram energia suficiente para esse processo ao jejuar, a volta da alimentação se torna o momento mais propício “para tentar reparar qualquer tipo de dano que tenha sido gerado”.
O que o câncer tem a ver com isso?
A descoberta traz dois cenários, um positivo e um negativo.
A parte boa tem a ver com a proliferação das células, “que vão passar a se dividir mais e vão regenerar e fechar qualquer dano, qualquer problema que tenha sido causado no epitélio”.
A parte ruim é que essa multiplicação pode ser, eventualmente, perigosa para pessoas com risco aumentado para tumores no intestino ou que levam uma alimentação ruim.
“Se mutações acontecerem exatamente nesse momento de realimentação, em que as células estão com atividade de proliferação aumentada, por exemplo, devido ao tipo de comida que o indivíduo vai ingerir ou por fatores genéticos, isso vai levar a um maior desenvolvimento de tumores”.
Então, o jejum intermitente causa câncer?
Não exatamente. O estudo não demonstra que o jejum intermitente causa câncer. De acordo com o pesquisador, na verdade, o trabalho indica que a proliferação de células no intestino é maior ao fim do jejum. Assim, se o paciente tem uma mutação genética, como a probabilidade de ter câncer, ou segue uma alimentação inadequada, pode ser que essa multiplicação leve ao surgimento de tumores.
Além disso, é importante ressaltar que a pesquisa foi realizada em camundongos e serve de referência para os cientistas sobre o que pode ocorrer com pessoas. Porém, o especialista lembra que estudos com humanos são necessários para comprovar a tese. “Não é porque a gente vê um resultado em camundongos que a gente pode, automaticamente, dizer que o mesmo vai acontecer com humanos”.
Devo parar de fazer jejum intermitente?
Depende. A orientação do pesquisador não é deixar de fazer o jejum intermitente, uma vez que o próprio estudo indica benefícios. Ele recomenda que, assim como outras formas de dieta, a prática não seja levada sem acompanhamento médico ou com uma alimentação ruim. Aliás, isso vale para toda a população e não apenas para pessoas com histórico de tumores intestinais.
“As pessoas devem tomar um pouco mais de cuidado no que elas vão comer depois do jejum. A gente sabe hoje em dia vários estudos que mostram que tem alguns alimentos que são considerados alimentos praticamente carcinogênicos, alimentos que ao longo prazo, como em gestão contínua, eles aumentam a sua chance de ter desenvolvimento de tumor.”
Renan afirma que, de modo geral, há estudos que indicam impactos positivos do jejum intermitente na nossa saúde. No entanto, vale destacar que a técnica pode não ser eficiente na perda de peso, como apontam especialistas nesta reportagem do g1.
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