Cláudio Guilherme Raszl, de Sorocaba (SP), não assistiu ao filme, mas se achou parecido com o vendedor de balões Carl Fredricksen. Aposentado também completou 76 anos ao lado da esposa, Ruth Todesco Raszl. Aposentado completa 100 anos e ganha festa inspirada no filme ‘Up’
Bruna Marcondes
Da Crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque à pandemia da Covid-19, passando pela Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, Ditadura Militar no Brasil, chegada do homem à Lua e pelos atentados de 11 de setembro, a lista de acontecimentos históricos que Cláudio Guilherme Raszl viveu é extensa. Afinal, no último dia 27 de outubro, o aposentado completou um século de vida.
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Para comemorar a data, os familiares decidiram presenteá-lo com uma festa especial na casa da filha mais velha, Ana Virgínia, em Sorocaba (SP), no sábado (26), dia anterior ao aniversário.
Festa foi realizada na casa da filha mais velha, Ana Virgínia, no sábado (26)
Bruna Marcondes
A decoração, inspirada no filme “Up: Altas Aventuras”, da Pixar, foi escolhida pelas netas, que enxergam em Cláudio algumas semelhanças físicas com o protagonista do longa, o vendedor de balões Carl Fredricksen.
“Ele não assistiu ao filme, mas adorou o tema da festa e se achou parecido com o personagem, mas só de aparência. De personalidade eles não têm nada a ver”, conta uma das filhas.
No filme, Carl se mostra um pouco rabugento e teimoso, apesar de muito carinhoso e protetor. Aos 78 anos, ele decide realizar o sonho da falecida esposa, Ellie, de conhecer as Cataratas do Paraíso, amarrando milhares de balões em sua casa para fazê-la voar até a América do Sul. Durante a viagem, o viúvo conhece o escoteiro Russell, de oito anos, com quem desenvolve uma relação de amizade.
Decoração foi escolhida pelas netas, que enxergam em Cláudio algumas semelhanças físicas com Carl Fredricksen
Arquivo pessoal
Segredo da longevidade
Hoje aposentado, Cláudio se lembra com saudosismo do período em que trabalhou na companhia ferroviária Estrada de Ferro Sorocabana. Depois que a indústria fechou, em 1971, ele continuou na ativa: foram 18 anos atuando como mecânico de manutenção em outra empresa até que finalmente decidisse parar de trabalhar por completo.
“Foi isso que facilitou muito o estudo das crianças. Me sinto feliz hoje por cumprir essa obrigação, porque, quando eu iniciei a minha vida, me esforçando pelos filhos, no meu emprego um colega me chamou atenção. Ele falou: Cláudio, você não sabe nem falar direito e vai ter uma filha médica? Eu falei para ele: eu não falo direito, mas meus filhos, netos e bisnetos vão falar”, lembra.
“Eu dediquei a vida inteira pelos filhos, desde o começo do casamento. A minha esposa também se dedicou muito. E foram essas as minhas ideias até hoje: dar educação e exemplos aos filhos. Eu não fui inteligente, tive dificuldade para tudo, a luta foi muito grande, a gente não sabe nem explicar as dificuldades, mas eu consegui. Graças a Deus, hoje sou feliz com a minha família.”
Para Cláudio, o segredo da longevidade está em ‘andar direito e fazer as coisas certo’
Bruna Marcondes
Desde a aposentadoria oficial, a rotina de Cláudio inclui uma alimentação balanceada e caminhadas de meia hora todos os dias, porém, ele garante que o segredo da longevidade é outro.
“Durante toda a vida eu cuidei da saúde. Quando tinha algum problema, já corria para o hospital. Mas acredito que o motivo dos meus 100 anos é andar direito, fazer as coisas cert. Foram 100 anos de acertos e erros. Só que eu aprendi mais com os erros”, explica.
Cravo eternizado
Destes 100 anos de vida, Cláudio passou 76 (e contando!) com a esposa, Ruth Todesco Raszl. Juntos, os dois construíram uma família com quatro filhos, dez netos e sete bisnetos. A esposa sempre foi dona de casa e vendia flores. Hoje, aos 96 anos, está acamada.
Quando pequena, Ruth morava em Votorantim (SP), mas acabou se mudando para Sorocaba quando o pai montou uma mecânica na cidade. Aos 14 anos, conheceu os irmãos e a mãe de Cláudio, e passou a frequentar a casa da futura sogra, com quem dividia o amor pelas flores.
“Na época, a gente frequentava a frente do Cine Eldorado. Ela sempre passava por lá e dava um cravo para mim. Quando ela completou 15 anos, eu fui no aniversário na casa dela e ela me deu um cravo vermelho, que tenho até hoje. Está sequinho, mas é aquele cravo, que representou para mim tudo aquilo que aconteceu na minha vida. Podia jogar fora, mas eu guardei”, conta.
Cláudio e a esposa, Ruth, estão juntos há 76 anos
Bruna Marcondes
Foi então que os dois começaram a namorar. Mas o desejo de Cláudio de “mudar de vida” o levou a morar em São Paulo durante um ano. “Só que vi que não estava dando certo por causa da saudade e resolvi voltar para Sorocaba. Fui trabalhar na oficina de carroça dos meus tios e, um mês depois, arranjei na Sorocabana.”
“Como ela era nova ainda, a gente foi levando até que, um dia, não tinha mais jeito: tive que casar. Eu já tinha 24, ela estava com 20, e achamos melhor nos unir e nos esforçar para criar os filhos, que, graças a Deus, são todos formados hoje. Temos médico, engenheiro, nutricionista, enfermeira, tudo dentro da família”, continua.
História viva
Nascido em 1924, Cláudio acompanhou eventos como a Revolução Constitucionalista de 1932 e a Segunda Guerra Mundial, que começou em 1939 e durou até 1945.
“Na época da Revolução, eu era criança, mas ouvia na indústria que fizeram um trem de ferro blindado, vagões com sacos de areia para o combate nas divisas com o Paraná. Na Sorocabana também construíram granada. Encontrei algumas sem explosivo depois de muito tempo”, relata.
“Também acompanhei a Segunda Guerra. Só não fui ao front porque, quando eu estava me preparando para isso, terminou a guerra, graças a Deus. Mas a minha vida teve de tudo. Vivi com comunismo, com democracia, com ditadura, vivi com tudo na vida.”
Mais recentemente, Cláudio enfrentou a pandemia da Covid-19, que também marcou a história da humanidade. “Eu corri para tomar vacina, procurei me tratar, me alimentar bem para me proteger, e usar máscara quando saía de casa”, completa.
Festa de 100 anos de Cláudio reuniu a família toda em Sorocaba (SP)
Bruna Marcondes
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