Na sexta (1), Itamaraty disse que considera “surpresa” os ataques venezuelanos à Lula e a diplomatas brasileiros após o país ter atuado para bloquear entrada da Venezuela no Brics. Presidentes Lula e Maduro durante encontro em Brasília, em maio de 2023, antes da escalada de tensão entre Brasil e Venezuela
Ueslei Marcelino/Reuters
O governo de Nicolás Maduro, que comanda a Venezuela, voltou a criticar neste sábado (2) o Brasil afirmando que o país comete uma “agressão descarada e grosseira” contra o presidente do país e promove uma “campanha sistemática e violadora dos princípios” das Nações Unidas.
O texto foi postado nas redes sociais do chanceler da Venezuela, Yván Gil Pinto. O g1 questiou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil sobre as declarações do chanceler venezuelano. O ministério não havia respondido até a última atualização desta reportagem.
Em comunicado neste sábado (2), o governo venezuelano diz que o Itamaraty interfere na “soberania nacional e a autodeterminação dos povos, inclusive violando a própria Constituição brasileira em seu mandato de não ingerência em assuntos internos dos estados”.
Itamaraty diz que vê com surpresa tom ofensivo da Venezuela
“O governo Bolivariano exorta, mais uma vez, a burocracia do Itamaraty a desistir de se imiscuir em assuntos que dizem respeito apenas aos venezuelanos, evitando deteriorar as relações diplomáticas entre ambos os países, para o que devem adotar uma conduta profissional e diplomática respeitosa, tal como demonstrou a Venezuela por meio de sua política externa”, diz trecho do texto.
Na última quinta-feira (31), a policia da Venezuela publicou uma foto com a bandeira do Brasil com a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal” e com a silhueta de um homem que aparenta ser o presidente Lula (PT). No entanto, o rosto dele foi escurecido.
O governo brasileiro respondeu ao ataque e definiu como “tom ofensivo” o teor das declarações dadas pelo presidete Nicolás Maduro contra o presidente da República, Lula, diplomatas brasileiros e assessores do Palácio do Planalto.
“A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo”, se posicionou o governo brasileiro, que ressaltou respeitar “plenamente a soberania de cada país”.
Governo venezuelano diz que Brasil pratica ‘agressão descarada e grosseira’ contra Maduro
Reprodução
Relação entre Maduro e Lula
Maduro, que foi recebido por Lula com honras de chefe de Estado em maio de 2023, começou uma ofensiva contra o Brasil nos últimos meses.
Nesta semana, a Venezuela agravou a crise diplomática ao convocar o embaixador do país no Brasil e afirmou que o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, atua como “um mensageiro do imperialismo norte-americano”.
A crise entre os países se agravou quando o Brasil não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro na eleição do país, em julho deste ano.
Além disso, o Brasil se posicionou contra a entrada da Venezuela, no Brics, bloco de países emergentes.
Em resposta, a Venezuela publicou um comunicado criticando o Brasil pelo veto ao ingresso do país no Brics. No texto, o país compara as políticas do governo Lula às de Bolsonaro e diz que o Itamaraty reproduz “o ódio, a exclusão e a intolerância promovidos pelos centros de poder ocidentais”.
Cronologia da crise
Relembre abaixo alguns dos episódios que mostram momentos de maior proximidade entre Lula e Maduro e momentos de maior distância:
29 de maio de 2023: Maduro faz visita ao Brasil e é recebido com honras de chefe de Estado;
29 de maio de 2023: Lula defende Maduro e diz que venezuelano precisa construir a própria “narrativa” sobre cenário no país;
29 de junho de 2023: Brasil defende publicamente a entrada da Venezuela no Mercosul;
17 de outubro de 2023: Lula envia Celso Amorim a Barbados para mediar acordo eleitoral na Venezuela;
29 de janeiro de 2024: Corina Machado, opositora de Maduro, é inabilitada e não pode disputar eleição;
1 de março de 2024: Lula e Maduro se reúnem em São Vicente e Granadinas e discutem processo eleitoral;
26 de março de 2024: Substituta de Maria Corina Machado, Corina Yoris não consegue registrar candidatura;
26 de março de 2024: Itamaraty manifesta ‘preocupação’ com desenrolar do processo eleitoral na Venezuela (com opositores sendo impedidos de participar do pleito);
24 de julho de 2024: Maduro não apresenta provas e mente ao dizer que o Brasil não tem eleições auditáveis;
28 de julho de 2024: Eleição presidencial da Venezuela;
29 de julho de 2024: Conselho Nacional Eleitoral reconhece vitória de Maduro nas eleições;
30 de julho de 2024: Lula cobra divulgação das atas eleitorais pelo governo Maduro;
22 de agosto de 2024: Suprema Corte da Venezuela declara Maduro vencedor e proíbe divulgação das atas eleitorais;
23 de outubro de 2024: Brics se reúne e barra entrada da Venezuela após articulação do Brasil;
24 de outubro de 2024: Venezuela chama veto do Brasil de ‘agressão inexplicável’ e diz que governo Lula reproduz ‘ódio de Bolsonaro’
28 de outubro de 2024: Maduro cobra explicação pública de Lula sobre episódio envolvendo o Brics;
29 de outubro de 2024: Assessor de Lula diz que houve “quebra de confiança” entre os dois países.
30 de outubro de 2024: Governo da Venezuela convoca o embaixador em Brasília para retornar ao país.