Neste sábado (30), data em que o teatro completa 95 anos, Ana Paula Cruzeiro relembra o primeiro encontro, as sensações e o que ainda espera do que ela chamou de ‘jovem amizade de 23 anos’. Ana Paula Cruzeiro no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora
TV Integração/Reprodução
Querido amigo, Cine-Theatro Central, neste sábado (30) você completa 95 anos. Nove décadas sendo palco de tantos encontros e histórias. Nossa amizade ainda é jovem, 23 anos desde o nosso primeiro encontro, mas hoje, no dia do seu aniversário, além de te parabenizar, quero te agradecer por tudo que já me proporcionou e tudo que tenho certeza que ainda iremos viver juntos.
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Sabe, Central, eu já estive em muitos teatros. A minha paixão pela arte me fez conhecer muitos palcos, mas nenhum foi capaz de despertar em mim o que sinto todas as vezes que estou com você.
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Faz um bom tempo que nos conhecemos. Te vi pela primeira vez por foto, na verdade era um folheto entregue na sala de aula. Disciplina de história, e você veio majestoso nos pensamentos daquela menina que aos 14 anos não imaginava o tamanho da sua importância.
Eu não sei se você se lembra, mas nosso primeiro encontro foi em 2002, quando a mesma professora de história nos apresentou pessoalmente. Busco na memória e lembro da sensação: grande, belo! Meus olhos ficaram cheios d’água e senti minha pele arrepiar. E sinto até hoje, em todos os nossos encontros.
Ana Paula Cruzeiro durante entrevista no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora
Arquivo Pessoal
No início éramos apenas colegas e nos encontrávamos pouco, apenas quando alguém se formava. Fico imaginando quanta gente colou grau no seu palco, você é testemunha de muitas conquistas.
Com o tempo nossa relação foi se estreitando… A cada novo encontro eu descobria mais sobre você. Me encantei quando soube que quando nasceu, você só recebia visitas de óperas. Eu já tinha ouvido falar de muitas, mas conhecer pessoalmente foi com você. Eu estava na primeira fila, lembra?
Falando em conhecer, quando eu soube de detalhes sobre a sua restauração, descobri muito sobre você. Soube que era quase um cinquentão e começava a se cansar. Foi então que se despiu para profissionais que te fizeram renascer!
Ana Paula Cruzeiro e o pintor Carlos Bracher no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora
Arquivo Pessoal
Soube também que esses mesmos profissionais redescobriram suas pinturas. Um presente do Angelo Bigi que você, sempre muito grato, retribuiu dando a ele recentemente um espaço seu. Ainda não fui conhecer, mas soube que a galeria ficou linda… Me espera, estarei aí em breve!
Sim, estarei porque me sinto muito bem quando estamos juntos, e como uma boa amiga, fico imensamente feliz com suas conquistas, afinal não é qualquer templo que tem seus títulos. De todos, acho o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, o mais importante: assim você será pra sempre preservado.
Outro dia acordei logo cedo com notícia sua, infelizmente, devastadora. Me desesperei com o princípio de incêndio! Fiquei com tanto medo de te perder. E mesmo sabendo que estava tudo bem fui te encontrar pra ver de perto. Você ainda se recuperava, mas acalmou meu coração quando o vi intacto.
Foto tirada por Ana Paula Cruzeiro durante apresentação do pintor Carlos Bracher no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora
Arquivo Pessoal
Tratei logo de marcar um novo encontro 20 e poucos dias depois. Você me recebeu com Toquinho no palco e adivinha: me arrepiei e chorei. Primeiro ao te ver e depois quando ele cantou Aquarela.
No nosso último compromisso você me recebeu com toda pompa e circunstância, tinha até orquestra sinfônica tocando Milton Nascimento, e aí, adivinha? Pois é! Não consigo conter minha emoção!
Falando em Milton Nascimento, sei bem que ele já te visitou mais de uma vez, né? E muitos outros artistas como Chico Buarque, João Bosco e até o João Gilberto! Pena que não éramos tão amigos nessa época.
Ana Paula Cruzeiro durante entrevista no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora
Arquivo Pessoal
De todos os nossos encontros, para mim o mais especial foi quando você fez 93 anos. Fui comemorar seu aniversário direto do palco. Apresentei o jornal de lá, lembra? Eu me lembro de tudo, principalmente de imaginar a honra dos artistas que quando estão com você, te enxergam por essa perspectiva. Do palco você fica ainda mais lindo: que arquitetura, que iluminação, que tesouro!
Espero te reencontrar muitas vezes, com a certeza que sempre me emocionarei.
Com amor,
Ana Paula Cruzeiro.
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