5 de novembro de 2024

Pesquisadores identificam microplástico em todos os tubarões pescados no litoral de Pernambuco durante um ano


Poluição estava no estômago e no intestino de 135 animais da espécie cação-rabo-seco, uma das mais comuns no Brasil. Microplásticos são encontrados no estômago de tubarões no litoral de Pernambuco
Todos os tubarões “cação-rabo-seco”, uma das espécies mais comuns do Brasil, pescados no litoral de Pernambuco durante um ano apresentaram contaminação por microplástico. O levantamento feito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aponta que este tipo de poluição pode estar afetando toda a população da espécie na região.
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A investigação faz parte da dissertação de mestrado do oceanógrafo Roger Melo, publicada por meio do programa de mestrado do Departamento de Oceanografia (veja vídeo acima). Ao g1, ele contou que, por quase um ano, foram coletadas amostras de 135 animais capturados de forma acidental por navios pesqueiros ao longo de toda a costa de Pernambuco. A maior parte das coletas foi extraída do estômago e do intestino dos tubarões capturados.
“No estômago dos tubarões encontramos alguns peixes em estado de decomposição com plástico dentro deles. Ou seja, esse plástico está inserido no ambiente, não tem como tirar. […] Desse nível [de contaminação], não há nada próximo nos estudos que temos no mundo hoje em dia”, afirmou o pesquisador Roger Melo.
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As análises foram realizadas entre agosto de 2021 e junho de 2022. Segundo o oceanógrafo, a região costeira de Pernambuco serve de berçário para esses peixes, que vivem em áreas próximas ao litoral e são bastante comuns entre o sul do Brasil e o Caribe.
“A gente teve que levar em consideração alguns fatores: a dieta do animal; a fase de desenvolvimento desse tubarão – se ele é filhote ou adulto; a estação do ano; e a questão espacial. Em época de chuva, tem mais contaminação porque é quando esse plástico está sendo escoado para a região costeira. E quanto mais próximo da costa, onde há atividade humana, também a contaminação é maior”, detalhou o especialista.
Plásticos em toda a cadeia alimentar
Imagem da praia de Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco (arquivo)
Reprodução/TV Globo
Chamados pelo nome científico de Rhizoprionodon porosus, os tubarões “cação-rabo-seco” se alimentam principalmente de plantas, algas e outros peixes menores. De acordo com Roger Melo, ao ocupar o topo dessa cadeia alimentar, eles acabam ingerindo os microplásticos de diferentes formas.
“Alguns tubarões se contaminam porque confundem o microplástico com alguma presa. E há mudanças nas presas também. Ou seja, o tubarão é contaminado tanto pelo microplástico que está no ambiente, quanto pela presa que está contaminada”, informou o pesquisador.
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Conforme o estudo, o plástico encontrado no organismo dos animais é o polietileno, o tipo de material presente em boa parte dos utensílios utilizados no dia a dia, como embalagens de alimentos, tubos e tampas. Embora inofensivo à primeira vista, uma vez dentro do corpo, pode causar danos à saúde.
“Algumas pesquisas mostram que tem perda de fertilidade em algumas espécies porque o microplástico nunca vem sozinho. Ele pode estar com algumas partículas que interferem na questão hormonal dos peixes. […] O microplástico acaba sendo um corpo estranho, pode causar uma inflamação numa mucosa. Numa escala maior, pode trazer problemas alimentares”, explicou o pesquisador Roger Melo.
Para o especialista, apesar de não ser possível mais retirar todo o microplástico dos oceanos, é necessário investir em soluções que reduzam a produção e a emissão desse tipo de material no ecossistema marinho.
“O que pode ser feito é a mitigação: as campanhas de coleta de plástico, conscientização da população, maior fiscalização das indústrias. Porém, a gente sabe que essas medidas são difíceis de fazer em larga escala”, afirmou o pesquisador.
Efeitos do microplástico no corpo humano
Walter Ruggeri Waldman, professor associado da Universidade Federal de São Carlos, SP; Maíra Carneiro Proietti, professora adjunta do Instituto de Oceanografia – Universidade Federal de Rio Grande; Geyer et al. (2017); Plastic Soup Foundation | Infografia: Ben Ami Scopinho
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