Neste artigo, professoras da Universidade Nebrija discutem as consequências nocivas do hábito de comer rápido. Entre os principais malefícios estão excesso de gases e maior tempo gasto para digestão. Comer rápido pode causar diversos problemas à saúde.
Freepik
Nossas vidas modernas e aceleradas frequentemente nos roubam tempo para atividades básicas, e essenciais, como as refeições.
Muitos de nós engolimos algo rápido no café da manhã ao sair de casa, ou devoramos o almoço para ganhar um pouquinho mais de tempo para sermos produtivos no trabalho, ou para nos dedicarmos às nossas vidas pessoais.
Além de reflexões mais filosóficas sobre nossa cultura de pressa, vale a pena avaliar os impactos de comer muito rápido em nossa saúde. Você já sentiu gases em excesso? Sofre frequentemente de digestão difícil e pesada ou inchaço? Há quanto tempo você não presta atenção na fome ou na saciedade que realmente sente?
Excesso de gases
Em relação ao primeiro desses problemas, há uma condição que envolve a deglutição de quantidades excessivas de ar durante e entre as refeições rápidas, conhecida como aerofagia.
Ela pode causar desde um leve desconforto e uma sensação de peso e inchaço a dor e distensão abdominal (um aumento visível no tamanho do abdome após comer).
A quantidade normal de gás no trato digestivo, quando nossos estômagos estão vazios, é de cerca de 200 ml. Se essa quantidade aumentar significativamente, os mecanismos fisiológicos para sua expulsão podem se tornar muito desconfortáveis.
O quanto de ar engolido depende do equilíbrio entre a ingestão, a produção e a eliminação de gás por meio de arrotos, flatulência ou seu consumo pela microbiota intestinal.
Comer rapidamente é um dos principais fatores que aumentam a ingestão de ar e a produção de gases, embora mascar chiclete, fumar e, também, as alterações na microbiota intestinal possam contribuir.
Problemas com gases afetam a maioria dos adultos
Não mastigar o suficiente
Ao comer com pressa, temos menos tempo para mastigar, o que significa que o alimento chega ao estômago quase inteiro. Portanto, são necessários mais ácidos estomacais para digeri-los adequadamente.
Além de exigir um esforço metabólico maior, isso também causa a sensação incômoda de peso e indigestão que acompanha as refeições apressadas.
Outro efeito de não mastigar o suficiente – não permitindo, assim, que as enzimas orais façam seu trabalho – é a absorção de alimentos no intestino delgado. Apesar dos esforços do estômago, os alimentos não mastigados podem chegar ao intestino sem serem suficientemente digeridos.
Não saber quando parar
Quando se trata de sensações de fome e saciedade, o eixo intestino-cérebro entra em ação – o cérebro é responsável por enviar os sinais que governam os processos digestivos, além de nos fazer comer ou parar de comer.
Dois hormônios regulam a sensação de saciedade ou fome – o grelina desencadeia a sensação de fome, enquanto o hormônio leptina nos faz sentir saciados. Desde que vemos, sentimos o cheiro e começamos a comer, leva de 20 a 30 minutos para a leptina se tornar ativa.
Isso significa que, quando comemos muito rápido, ingerimos mais do que realmente precisamos – a leptina não tem tempo suficiente para entrar em ação e nos dizer que já comemos o suficiente e estamos satisfeitos.
Os vilões do estômago: seis hábitos que atrapalham a digestão
Consequências mais graves
Comer muito rápido pode ter repercussões mais severas para nossa saúde. Vários estudos mostram uma relação entre a velocidade com que comemos e os fatores de risco cardiovascular, níveis elevados de triglicerídeos e maiores chances de desenvolver síndrome metabólica (até 59% maior), ou ficar acima do peso ou obeso, especialmente entre os diabéticos.
Portanto, definitivamente, vale a pena desacelerar e reservar um momento para desfrutar de um café da manhã, almoço ou jantar mais tranquilo. Mastigue devagar e preste atenção em quão você se sente saciado. Invista um pouco de tempo, e isso renderá dividendos para sua saúde.
*Esther Martínez Miguel é doutora em Ciências da Saúde, diretora do curso de Enfermagem na Faculdade de Ciências da Vida e da Natureza na Universidade Nebrija.
*Silvia Gómez Senent é médica do aparelho digestivo, diretora do Máster em Microbiota Humana e professora do curso de Enfermagem da Universidade Nebrija.
**Este texto foi publicado originalmente no site da The Conversation Brasil.
Feijão é sinônimo de indigestão?