Estradas cruzam os seis distritos e mais de 120 bairros rurais da cidade. O g1 percorreu alguns quilômetros delas para contar histórias e tradições de famílias que resistem e prosperam no campo. Itapetininga é o terceiro maior município do estado em extensão territorial
Carla Monteiro/g1
O município de Itapetininga, no interior de São Paulo, é o terceiro maior do estado em extensão territorial: são 1.789 km². Além desta área, a cidade também tem quase cinco mil quilômetros de estradas vicinais que cruzam seus seis distritos e mais de 120 bairros rurais.
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Nesta terça-feira, 5 de novembro, Itapetininga completa 254 anos e, para celebrar esta data, o g1 percorreu alguns quilômetros destas estradas vicinais para contar histórias e tradições de famílias que resistem e prosperam no campo.
Rota de tropeiros e mercadores
História de Itapetininga começa com estrada de passagem, uma rota para tropeiros e mercadores
Beatriz Pereira/g1
A história de Itapetininga começou com uma estrada de passagem, uma rota para tropeiros e mercadores.
A professora e historiadora Alba Regina Franco Carron Luisi explica que a origem do município está intimamente ligada ao movimento dos tropeiros que cruzavam o Rio Itapetininga pela Ponte dos Tropeiros (hoje revitalizada e em estudo de tombamento como patrimônio). Esse local, além de ser uma travessia, também tinha um posto de cobrança de pedágio.
Alba Regina destaca que o tropeirismo foi essencial para o desenvolvimento da cidade. Afinal, os tropeiros transportavam mulas do sul até Sorocaba (SP), e Itapetininga era o último pouso antes desse destino.
“Para os tropeiros, os pousos eram fundamentais. Esses pontos de parada eram preparados com cuidado, pois a perda de uma mula representava um prejuízo enorme. Com o tempo, esses pousos temporários tornaram-se vilarejos e, eventualmente, cidades.”
Bairro Sabiaúna
Família Amâncio tem as raízes no bairro Sabiaúna, na zona rural de Itapetininga
Beatriz Pereira/g1
Seu Dirceu Amancio da Silva nasceu e cresceu na área rural de Itapetininga, no bairro que leva o nome de um pássaro, o Sabiaúna. Nele moram mais de 100 famílias, que, segundo Dirceu, sempre se ajudam com o que quer que seja necessário.
“Estou com 60 anos e nunca saí daqui. Ia para a cidade de charrete, de cavalo. Agora que tem o carrinho, é mais fácil de conseguir as coisas. Antigamente não conseguia. Meu pai era farinheiro e entregava farinha de cavalo ou de burro na cidade. Agora tem o caminhãozinho nosso. Vendo milho, faço feira em Itapetininga e vivo minha vida boa”, conta Dirceu.
O agricultor aprendeu tudo o que sabe sobre a vida no campo com seu pai. Ele é o caçula de 11 irmãos e foi o único que ficou morando em Sabiaúna, bairro que é acessado a partir de uma estrada municipal que é motivo de orgulho para a família.
“Hoje a estrada aqui ficou o nome do meu pai, Antonio Amancio da Silva, porque ele que abriu a estrada na época. Ele falou: vou fazer tudo para a turma, vou ajudar. E foi fazendo no rumo e, aí, na época, emancipou o nome dele na estrada”, conta.
Quintas e domingos são dias de acordar bem cedo e ir à feira vender milho e hortaliças. A família acorda às 2h e faz os preparativos para ir ao Centro de Itapetininga, pois precisa descascar o milho antes de começar a vender, uma forma de garantir que ele estará fresco para o consumo.
Placa da Estrada Vicinal ‘Antônio Amancio da Silva’, do bairro Sabiaúna, em Itapetininga (SP)
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O bairro que recebe nome em homenagem a uma espécie de pássaro, Sabiauna, é lar de uma família tradicional do campo, que tem ancestrais que cresceram e morreram ali. Os Domingues são produtores de milho verde e hortaliças e são importantes para a história da Estrada Vicinal “Antônio Amancio da Silva”.
A comunidade do Sabiaúna é unida a todo momento – inclusive, ajudou na construção de uma capela com a família Domingues, que precisava de orações depois que um dos filhos sofreu um acidente.
“Todo mundo se uniu em oração e ele ficou ótimo, mas, naquele momento, pensamos: vamos construir, foi em homenagem a ele, a capela do Menino Jesus. Sempre vem gente rezar um terço e é aberto para todo mundo”, conta Eliane de Oliveira Domingues da Silva, esposa de Dirceu.
Comunidade do Sabiaúna é unida a todo momento – inclusive, ajudou na construção de capela
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A capela foi chamada de Menino Jesus de Praga, e é um cantinho para que os moradores do bairro rural se conectem com a fé católica.
“Aqui é um paraíso, não tem do que reclamar. A gente é muito feliz. Graças a Deus, a estrada está ótima e a estrada também uniu a gente. A gente sempre foi unido, a comunidade toda se ajuda”, finaliza.
Além de trabalhar no sítio, em Itapetininga (SP), João Vitor também é influenciador digital e publica vídeos nas redes socais
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Filho do casal, João Vitor Domingues tem 21 anos e é um “agroboy” com orgulho. Acostumado com a rotina de acordar bem cedo, lidar com o plantio, a colheita e a criação de animais, ele não planeja sair dali tão cedo.
“Eu tenho gosto de acordar cedo, ouvir os barulhos do passarinho já cedo, tirar leite. Depois nós tratamos do gado, tocamos eles para lá e para cá, e é uma rotina que é todo dia, acordar cedo e ir para lida, e não pode faltar o café com leite espumado direto da teta da vaca”, conta João.
Morar no interior não impede João de também estar conectado com as redes sociais. Ele cria conteúdos de humor no seu dia-a-dia no campo e com a família.
“Eles [amigos] falam: o João não pensa em sair do sítio. Fiz muitos amigos no trabalho, na faculdade, mas o coração ficou no sítio. Eu sou bem flexível para essas coisas, não tenho muito nojo de mexer com as coisas, dou vacina no gado, limpo o chiqueiro dos porcos. Para mim é uma terapia, eu gosto mesmo”, destaca.
Bairro Pinheiro Alto
História da família Macedo se confunde com as raízes da criação do bairro Pinheiro Alto em Itapetininga
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No bairro Pinheiro Alto, na zona rural de Itapetininga, a história da família Macedo se mistura com as raízes do lugar. Com poucos descendentes ainda residindo no local, os filhos que permanecem são firmes na decisão de manter a tradição e o vínculo com o campo. A tranquilidade e a riqueza natural da zona rural sustentam a identidade de quem escolhe viver ali.
Juvenal de Macedo, um dos membros mais velhos da família, guarda na memória os tempos em que seu pai trabalhava na lavoura.
“Lembro do meu pai na lavoura, nós fazendo rapadura, e minha mãe, costureira, sempre por perto. Sempre fomos felizes; essa terra era a herança do meu pai. Hoje, só vou à cidade se realmente precisar”, conta.
Capela do bairro foi construída pela família Macedo em Itapetininga (SP).
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O ramo da olaria foi o escolhido pela família e é mantido até hoje pelo casal Davino e Ilda Vaz Bicudo Macedo. Davino conta que nunca teve planos de sair do sítio.
“Me criei aqui, casei e fiquei na casa do meu pai. Trabalho em família, com meu filho e minha filha ao meu lado”, explica. A história de vida no bairro envolve também a capela local, construída por seu pai.
Já Ilda Vaz Bicudo Macedo, também oleira, destaca a satisfação de viver no campo e seguir com a tradição familiar. “É uma vida de trabalho e de união, e é onde a gente se sente em casa”, diz ela. A olaria e a capela são exemplos do legado da família Macedo no Pinheiro Alto.
Capela do bairro foi construída pela família Macedo em Itapetininga (SP)
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Relevância do agronegócio
Leandro Feichtemberg, chefe da agência do IBGE em Itapetininga, destaca a relevância do agronegócio para o município. Segundo ele, “a diversidade e a força do agro impulsionam a economia da região, com destaque para culturas como soja, milho e laranja, além da pecuária de corte e produção de leite”.
Com uma população estimada em 163.774 pessoas para 2024, Itapetininga é caracterizada pela riqueza de sua produção agrícola, que também inclui cana-de-açúcar, batata, trigo e criação de aves e gado bovino.
Em 2021, o PIB do município alcançou R$ 6,35 bilhões, reforçando a importância do setor para o desenvolvimento local e a sustentabilidade econômica da região.
Plantação de milho verde em sítio do bairro Sabiaúna em Itapetininga (SP)
Beatriz Pereira/g1
*Colaborou sob supervisão de Carla Monteiro
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