6 de novembro de 2024

‘Previsão do tempo na Amazônia é um desafio’, diz especialista sobre vendaval em Belterra que deixou dois desaparecidos


Segundo o doutor em Clima e Ambiente Raoni Aquino Silva de Santana, o evento foi causado pela passagem de um sistema de nuvens convectivas, o que resultou em fortes ventos. Barraqueiros tentando salvar cadeiras arrastadas pelo vendaval e a forte correnteza
Reprodução / Redes sociais
Na tarde da última segunda-feira (4), um vendaval atingiu as cidades de Santarém e Belterra, no oeste do Pará, surpreendendo banhistas e causando momentos de tensão e medo. Em Belterra, na praia de Pindobal, o fenômeno derrubou barracas e formou ondas pouco comuns no rio Tapajós, que normalmente possui águas calmas. As ondas alagaram embarcações ancoradas na margem, assustando quem estava por perto.
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Segundo o doutor em Clima e Ambiente Raoni Aquino Silva de Santana, o evento foi causado pela passagem de um sistema de nuvens convectivas, o que resultou em fortes ventos.
“Houve uma grande passagem de nuvens convectivas próximo de Santarém. Esse sistema gerou uma perturbação na atmosfera, conhecida como downdraft, que provoca ventos fortes como os que observamos. É como quando alguém joga uma pedra em um lago, criando ondas que se propagam até a margem”, explicou Santana.
O climatologista apontou que a seca prolongada e o calor persistente, agravados pelo fenômeno El Niño, intensificam eventos extremos na Amazônia.
“O ano de 2023 já foi marcado por um El Niño e a extensão desse fenômeno ainda se faz sentir em 2024. Isso, combinado com as mudanças climáticas, favorece períodos de seca, aumento nas temperaturas e eventos como o vendaval recente”, afirmou Santana.
O especialista acrescentou que a seca também reduz o volume dos rios e aumenta a energia na atmosfera, alimentando eventos intensos como o aconteceu.
Santana ressaltou ainda que a previsão do tempo na Amazônia é um desafio particular, dada a natureza tropical da região.
“Os sistemas convectivos se formam e mudam de direção rapidamente, tornando as previsões complexas. É diferente do Sul do Brasil, onde a chegada de frentes frias pode ser prevista com dias de antecedência.”
Na Amazônia, sistemas climáticos podem surgir e desaparecer no mesmo dia, tornando a previsão e o acompanhamento por imagens de satélite importantes para antecipar eventos severos como o vendaval que atingiu Santarém e Belterra.
Forte vendaval registrado na tarde de segunda-feira (4) no município de Belterra – PA
Naufrágio
O vendaval registrado em Belterra na segunda-feira também levou a pique uma embarcação do tipo empurrador que estava carregada de brita. O acidente aconteceu em frente à praia do Pindobal. Duas das cinco pessoas que estavam no empurrador desapareceram após serem arrastadas pela força dos ventos e das águas do Rio Tapajós.
A mudança brusca no clima trouxe um alívio à população em relação ao calor intenso que Santarém vem enfrentando nos últimos meses. A região, afetada por uma seca extrema, há tempos não registra chuvas significativas. Embora as condições atmosféricas tenham se alterado temporariamente, as precipitações não chegaram à cidade.
Com a ocorrência do vendaval, moradores e frequentadores das praias da região ficaram em alerta. Especialistas orientam a população a acompanhar atualizações e alertas meteorológicos, uma vez que mudanças rápidas podem trazer novos fenômenos como este, especialmente em períodos de seca e altas temperaturas.
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