Primeiro episódio da série de reportagens mostra principais caminhos pelos quais produtos ilícitos chegam ao RJ e táticas novas dos bandidos para disfarçá-las. ROTAS: criminosos dividem trajetos e disfarçam armas e drogas em carros e até brinquedos para burlar fiscalização
Criminosos que contrabandeiam armas e drogas para o Rio de Janeiro tem investido em novas estratégias para burlar a fiscalização. Além de investir em tecnologia para colocar os itens ilegais de forma cada vez mais escondida em bens como veículos e até brinquedos, os bandidos estão fracionando pedaços das rotas no caminho para o destino final.
Os caminhos do contrabando são o tema da série de reportagens “Rotas”, que estreou no RJ2 desta segunda-feira (21). A reportagem conversou com
A série mostrou que os bandidos chegaram a tentar esconder um fuzil em um dinossauro de plástico comprado no Estados Unidos. Outro caso descoberto pela polícia foi um compartimento dentro de um carro que só era aberto com cartão magnético, usado para ocultar drogas, armas e dinheiro do mercado ilícito.
Peça de arma dentro de um brinquedo em fiscalização no RJ
Reprodução/RJ2
O transporte de drogas e armas tem origem em diferentes estados e os caminhos pra entrar na cidade do Rio são muitos.
De acordo com os investigadores, atualmente são três rotas principais usadas por criminosos:
A mais utilizada, segundo os investigadores, fica no Sul do país. A origem é o Paraguai, em regiões de fronteira com Paraná e o Mato Grosso do Sul. Por ali os traficantes enviam cocaína e fuzis. Ao entrar no Brasil, a droga segue até chegar ao seu destino final: o Rio
Uma segunda rota sai da tríplice fronteira, entre Brasil, Peru e Colômbia, passando pelo Rio Solimões, segue pela região central do Amazonas, Tabatinga, Manaus até entrar na região Sudeste e chegar ao Rio. A polícia diz que os bandidos utilizam esse caminho para transportar principalmente cocaína e skank. Armas também são enviadas pra cá, principalmente o fuzil AK47. O trajeto mostra a aliança entre duas facções criminosas: o Comando Vermelho do Rio de Janeiro e Comando Vermelho do Amazonas.
A terceira rota sai do Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia, passa por São Paulo até chegar no Rio. Nesse caso, o Comando Vermelho do Rio age com o PCC. Cocaína, maconha e fuzis são transportados por meio desse caminho.
O delegado da Polícia Federal Bruno Humelindo de Oliveira conta que muitas vezes após chegar a capitais como o Rio, os itens ilícitos são armazenados para serem enviados ao exterior.
“Nesse sentido que a gente observa que as organizações criminosas elas começaram a se especializar. Em vez de eu ter uma organização criminosa voltada exclusivamente para todo esse caminho cada organização criminosa responsável por uma fração desse trajeto. Então eu tenho uma organização criminosa que consegue a droga na origem uma, uma outra que consegue trazer da origem até a fronteira, e aí eu tenho uma pessoa que fornece um serviço legal da droga da fronteira até a capital. Aqui a gente tem a principal facção criminosa do Rio de Janeiro fazendo armazenamento dessa droga e fazendo a oportunidade de escara essa droga para o exterior”, explica.
“Depois das mudanças na geopolítica do crime nacional, guerras entre fações, houve uma ruptura e um redimensionamento, principalmente pra rota do Rio.. Ela é a mais importante em termos de fornecimento de armas e drogas”, explica o delegado Gustavo Rodrigues, que foi diretor do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR).
Policial Rodoviário Federal encontra droga no interior de carro
Reprodução
Tecnologia
Os policiais têm percebido que os traficantes investem cada vez mais em tecnologia. A apreensão com o carro que tinha um compartimento secreto aberto só com cartão magnético ocorreu no início do ano, na Rodovia Presidente Dutra, praticamente na frente da Superintência da Policia Rodoviaria Federal.
Quando o policial aproximou o cartão magnético, um compartimento se abriu e a droga foi localizada. “Há pessoas especializadas que fazem modificações em veiculos. Tem toda uma quadrilha atuando, mas na preparação desses veiculos, carga e passeio”, diz o porta-voz da PRF, José Hélio.
Vídeos feitos pela Polícia Rodoviária Federal no Paraná, na fronteira com o Paraguai, mostram o caso de carros com esconderijos para contrabando na lanterna do carro, embaixo do banco ou até atrás do rádio. Os agentes se transformam em mecânicos e precisam desmontar os carros para fazer as apreensões.
Aeroporto
As drogas e armas também chegam ao rio de janeiro por outro caminho. Só no primeiro semestre deste ano, a Receita Federal apreendeu o equivalente a mais de R$ 740 mil em drogas nas bagagens de passageiros.
“Tem algumas rotas que são mais utilizadas pelos traficantes de drogas e armas. É um jogo de gato e rato, quando começamos a fazer mais apreensões em uma rota, eles mudam, desde voos diretos até conexões. Temos que ficar alterando, fazendo fiscalização dinâmica”, diz Paulo Angelito, auditor da Receita.
Outro local é ainda mais sensível: o armazem dos Correios no Aeroporto do Galeão. Todas as remessas internacionais passam por lá. Segundo a Receita, cada vez mais os criminosos tentam enivar armas através dos Correios para o Rio.
A maior parte das peças apreendidas têm origem em dois países: Estados Unidos e Alemanha.
“Aqui tem varios carregadores, partes e peças de armas, são produtos controlados pelo Exército. Se a pessoa tiver legalização, ela pode trazer, mas na maioria dos casos estão trazendo ilegamente”, explica Patrícia.
“Com o avanço da tecnologia, acabou aquela história de [trazer] pistola inteira. Trazem desmontadas, às vezes chegam em varias peças de foram pulverizada e no final eles montam em alguma oficina, algum armeiro”, explica Paulo.
Entre os itens usados para disfarçar as armas estão kits de ferramentas e até brinquedos. O contrabando de drogas também tenta ocultar as remessas ilegais dentro de produtos legalizados.
Nos seis primeiros meses de 2024, as apreensões de drogas no setor de remessas postais do aeroporto internacional somaram quase seis milhões de reais (R$ 5,8 milhões).
Peça de arma encontrada em dinossauro de brinquedo
Reprodução/RJ2
Peça de arma é encontrada em estojo de ferramentas
Reprodução/RJ2