19 de setembro de 2024

Viúva de jovem que morreu após ser arrastada por enchente em Franca lamenta falta de obras 5 anos depois: ‘Não fizeram nada’

Justiça determinou que prefeitura pague indenização no valor de R$ 70 mil à família. Ao g1, Yasmin Hellen dos Reis falou sobre trauma de passar pelo local. A atendente Yasmin Hellen dos Reis e o ex-sogro, Jorge Gomes de Santana, em Franca, à época do acidente
Ronaldo Gomes/EPTV
Cinco anos depois de perder a mulher, arrastada por uma correnteza durante um temporal em Franca (SP), Yasmin Hellen dos Reis, de 24 anos, ainda evita passar pelo local do acidente, na Rua Alfredo Lopes Pinto, na Vila Teixeira.
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Segundo ela, a via segue da mesma maneira, sem quaisquer obras que evitem alagamentos quando chove forte na cidade.
“Continua da mesma forma, continua alagando do mesmo jeito. Eu entendo que é muito caro [fazer obra de contenção], mas já faz cinco anos. É muito difícil, é perigoso, até já foram arrastadas algumas pessoas depois da gente”.
Recentemente, uma decisão da Justiça determinou que a Prefeitura de Franca pague indenização de R$ 70 mil a título de danos morais à família de Joice dos Santos Teixeira.
Joice dos Santos Teixeira morreu após ser arrastada por uma correnteza durante temporal em Franca (SP) em 2019
Arquivo pessoal
Além do valor, a administração municipal também deve pagar uma pensão mensal à Yasmin até a data em que Joice completaria 79 anos e 9 meses. Ela morreu com 25 anos.
“Eles vão indenizar, vai ser para suprir contas, mas eles não aprenderam. Não fizeram nada para tentar melhorar”, lamenta Yasmin.
Em sua justificativa, o desembargador Renato Delbianco, relator do processo, disse que a indenização se fez necessária após provas juntadas aos autos que demonstraram serem recorrentes casos de alagamento e enxurradas no local do acidente.
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Segundo ele, laudo pericial apontou a necessidade de obras no local para solucionar ou, ao menos amenizar, as ocorrências.
“Daí constata-se que o Poder Público tinha plena noção da imprescindibilidade da realização das obras para dar vazão às águas das chuvas no local. Portanto, tivesse a administração municipal realizado as necessárias obras, a tragédia poderia ter sido evitada, ainda que sob intensa precipitação de chuvas”.
A Prefeitura de Franca pode recorrer da decisão. O g1 procurou a administração, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Trauma, saudade e sonho premonitório
Em conversa com o g1, Yasmin falou sobre a saudade de Joice e definiu a ex-mulher como uma pessoa alegre e animada.
“Essa indenização não vai vai suprir a saudade, porque ela não está aqui mais. Infelizmente a gente não tem ela mais. Eu lembro muito dela, das brincadeiras que a gente fazia. Estávamos juntas há um ano e meio, era muito animada. Quando a gente saia com amigos, todo mundo sempre muito animado”.
Desde o acidente, Yasmin evita passar pela rua onde as duas foram arrastadas e confessa que tem medo quando chove, por pensar na possibilidade de novos alagamentos e possíveis tragédias.
“Na rua mesmo, depois do acidente, passei só duas vezes. Travo muito. Dirigindo, nunca passei. Só com alguém. Mas na Avenida Presidente Vargas, que eu preciso passar geralmente cortando o caminho, é impossível não lembrar. Se começa a chover, já fico preocupada, porque sei o que passei e fico pensando nas outras pessoas”.
O acidente aconteceu no dia 21 de fevereiro de 2019. Ainda segundo Yasmin, um dia antes, Joice sonhou com uma enchente. Ela chegou a ser resgatada com vida, mas morreu quatro dias depois, após três paradas cardiorrespiratórias.
“Aquele dia foi um dia muito estranho. Lembro porque um dia antes ela sonhou com uma enchente e aí, no dia, de manhã, ela acordou com isso. De tarde aconteceu o acidente. A gente fica pensando o tanto que foi um aviso e o quanto é estranha essa situação”.
O caso
Yasmin e Joice tinham acabado de sair de uma agência bancária e seguiam de moto pela Avenida Hélio Palermo, quando se depararam com uma enchente causada pelo transbordamento do Córrego dos Bagres.
À época, a jovem contou à EPTV, afiliada da TV Globo, que Joice, que pilotava a moto, chegou a comentar que tinha medo de uma aquaplanagem e decidiu tomar outro caminho.
As duas, no entanto, foram surpreendidas por uma correnteza quando passavam pela Rua Alfredo Lopes Pinto. Elas caíram e a moto foi levada pelas águas.
Córrego dos Bagres transbordou e transformou a Avenida Antônio Barbosa Filho em um rio, em Franca, SP
Igor do Vale/G1
Uma onda formada por um carro que veio na sequência jogou o casal de volta na água e as duas foram arrastadas pela enxurrada e ficaram presas embaixo de um veículo.
“Eu só lembro do pessoal me tirando e tentando tirar ela. Teve que puxar um carro para conseguir pegá-la porque a moto bateu e fechou a passagem debaixo. Não tinha como ela passar. Na hora que o resgate veio, não demorou muito, foi rápido, eles conseguiram tirar e colocaram ela dentro do Samu”.
Yasmin sofreu ferimentos leves, passou por atendimento e foi liberada. Joice chegou a ser internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital do Coração. Ela morreu quatro dias depois.
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