Termo engloba ações para prevenir ou favorecer a ocorrência de uma gravidez. Para especialistas, falar sobre maternidade é tão importante quanto discutir métodos de prevenção. Ainda que algumas mulheres possam hoje acessar formas de controlar a gravidez, como seria se a escolha fosse absoluta?
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Ao falar em planejamento reprodutivo é comum vir à mente temas como métodos contraceptivos e maneiras de evitar uma gravidez. No entanto, o termo também se refere à escolha de ter filhos e deve ser discutido ainda na juventude em consultas de rotinas com ginecologistas.
Ainda que o tema englobe também os homens, na maioria das vezes, é atrelado apenas à mulher, já que, fisicamente, é o grupo mais afetado por uma gravidez.
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Garantido pela Lei 9.263/1996 aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento reprodutivo ou familiar é definido como um conjunto de ações de regulação de fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole, pela mulher, pelo homem ou pelo casal.
O direito é conferido para adultos, jovens e adolescentes com vida sexual, com ou sem parcerias estáveis, bem como aqueles que se preparam para iniciar atividades sexuais.
A médica e presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), Paula Navarro, que também atua como professora e pesquisadora na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP), esclarece a importância do tema na vida da mulher.
“Ele é uma pertença do ginecologista geral e o que geralmente os ginecologistas fazem ‘você não quer engravidar, qual método vai usar pra prevenir?’. Só essa parte, e a outra? Que é tão importante quanto”, questiona.
Apesar de garantido por lei, a médica afirma que, na prática, ainda não há medidas em nível nacional implementadas pelo Sistema Único de Saúde.
Nesta matéria você vai ver as seguintes informações:
O que é?
Quais ações englobam?
Quem deve orientar?
Quando o tema deve ser abordado?
Qual a importância?
Imagem de ilustração de uma consulta com ginecologista
Getty Images/Via BBC
O que é?
O planejamento reprodutivo é compreendido como um conjunto de ações personalizadas, tanto para quem deseja uma gravidez, quanto para quem deseja evitá-la.
“Ele é um conjunto de ações para evitar uma gravidez quando você não quer engravidar ou pra favorecer a ocorrência da uma gravidez quando você quer engravidar. Isso é o planejamento reprodutivo”, explica a médica.
Visto como uma política pública de saúde, o planejamento reprodutivo está ligado aos direitos reprodutivos do indivíduo.
Segundo Paula, as pessoas devem ter o direito de fazer escolhas e ter acesso a informações qualificadas e seguras, além de métodos de prevenção ou de favorecimento a uma gravidez.
Planejamento reprodutivo é compreendido como um conjunto de ações personalizadas, para quem desejar engravidar ou evitar uma gravidez
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Quais ações englobam?
Organização dos serviços e dos processos de saúde no desenvolvimento do planejamento reprodutivo, com atividades educativas e atividades clínicas que possam dar conta de questões relacionadas à pré-concepção, à investigação inicial e abordagem da infertilidade são fundamentais.
Veja as ações que contemplam o planejamento:
Ações de contracepção
Fornecimento de medicamentos contraceptivos pelo governo
Fortalecimento dos direitos sexuais e reprodutivos
Ações clínicas, preventivas e educativas ligadas à reprodução
Atendimento a pessoas que necessitam de ajuda pra procriar, como tratamento de reprodução assistida
Tratamento de infertilidade
Quem deve orientar?
Para a médica, que também é palestrante em oficinas e congressos, quanto mais cedo o tema for abordado, melhor para os pacientes.
“Os ginecologistas têm um papel fundamental na orientação do planejamento reprodutivo da mulher. O médico que tem contato com a mulher desde o início da sua vida reprodutiva, desde a sua juventude, é o ginecologista”.
É importante que o tema seja iniciado ainda na juventude para que a mulher, ao longo dos anos, pense sobre o tema e entenda o cenário da sua fertilidade.
“Tem que fazer parte da consulta perguntar ‘você pensa em ter filhos, quantos filhos você pensa em ter, um ou mais de um?’, porque, dependendo do número de filhos que a pessoa pensa em ter, para ela conseguir naturalmente, precisaria tentar mais cedo ainda”, explica Paula.
Planejamento reprodutivo deve ser abordado desde a juventude
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Quando o tema deve ser abordado?
As mulheres nascem com a chamada reserva ovariana, que representa a quantidade de folículos, estruturas que contêm os óvulos, durante toda a vida. Com o passar do tempo, quantidade e também qualidade dos óvulos diminuem, o que acarreta na dificuldade de engravidar.
Nesse cenário, é ideal que o planejamento reprodutivo seja abordado desde cedo na vida da mulher, para que, com o tempo, ela pense se quer ou não ser mãe, a idade que deseja engravidar e também a quantidade de filhos que pretende ter.
“É algo que devia ser discutido por ginecologista desde o início da juventude, ter essa conscientização de que a reserva ovariana decresce com a idade, independentemente do quão jovem a mulher pareça, é essencial”, afirma Paula.
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Entender sobre a própria fertilidade desde jovem impede que a mulher, já em uma idade avançada, procure ajuda em um momento reprodutivo com maiores obstáculos. O planejamento dá à mulher a chance de pensar ao longo da vida as condições que deseja uma gravidez.
“Vejo com muita frequência no consultório pacientes já com uma idade mais avançada, muitas acima de 38 ou 40 anos, deixando para procurar nesse momento, quando elas têm uma certeza maior”, aponta a especialista.
A médica afirma ainda que é preciso desmistificar a fertilidade, que muitas vezes com casos de mulheres que engravidam mais tarde, principalmente atrizes e modelos, passa a falsa sensação de a fertilidade permanece intacta independentemente da idade.
Qual a importância?
A falta de informação na juventude pode tornar inviável o sonho da maternidade para a mulher.
“A partir dos 40 anos, a taxa de nascido vivo por óvulo é muito baixa, em torno de 2%. Quando a gente explica a realidade para as pacientes, com muita frequência, elas ficam extremamente frustradas e falam ‘nossa, se soubesse disso, teria procurado antes'”, relata Paula.
Com o avanço da medicina, métodos de reprodução assistida, como a fertilização in vitro e o congelamento de óvulos, dão à mulher a possibilidade de engravidar mais tarde, mas ainda não são garantia.
“O ideal seria você tentar ter seus filhos naturalmente. Se, por algum motivo, não for possível ou você não quiser, uma possibilidade que não é uma garantia é o congelamento de óvulos. Isso tinha que ser tudo dito no consultório do dia a dia, né?”
A médica ginecologista Paula Navarro, de Ribeirão Preto, SP, fala sobre planejamento reprodutivo
Arquivo Pessoal
*Sob supervisão de Larissa Vieira
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