g1 ouviu ‘From Zero’, álbum que a banda vai lançar na sexta-feira (15) com nova vocalista; veja primeiras impressões sobre o disco. Para uma banda de quase 30 anos, que teve seu auge na primeira metade dos anos 2000, já seria difícil fazer um retorno soar apropriado em pleno 2024. Imagine, então, sem um dos vocalistas, cuja morte trágica levou o grupo a um hiato sombrio de sete anos. Apesar de tudo isso, o Linkin Park conseguiu.
“From Zero”, álbum que a banda americana vai lançar na próxima sexta-feira (15), no dia de um show no Brasil, se equilibra bem entre a nostalgia dos velhos tempos e o frescor de sons novos. Talvez não leve o Linkin Park de volta ao topo das paradas globais, posição que chegou a ocupar nos anos 2000, mas consegue fazer um tipo de rock mais pesado se aproximar da música pop novamente. Esse, afinal, sempre foi o trunfo do grupo.
O g1 foi um dos primeiros veículos da imprensa brasileira a ouvir “From Zero”, novo álbum do Linkin Park. Veja, abaixo, as primeiras impressões sobre o disco.
Nova vocalista
O ponto de maior tensão na reestreia da banda é a entrada de Emily Armstrong, que chega para substituir Chester Bennington. O vocalista, que a partir de 1999 liderou o Linkin Park ao lado de Mike Shinoda, foi encontrado morto em sua casa na Califórnia (EUA) em 2017, aos 41 anos.
Chester Bennington canta em show do Linkin Park em Los Angeles, em 2014
Divulgação
Quem é Emily Armstrong, a nova cantora do Linkin Park; banda voltou e anunciou turnê
Armstrong é fundadora do grupo de hard rock Dead Sara e já cantou ao lado de nomes como Courtney Love, Beck, Demi Lovato e The Offspring. Apesar do histórico, seu nome é desconhecido do grande público.
No Linkin Park, coube a ela não apenas a dura missão de substituir um ídolo adorado pelos fãs, mas também a de fazer o público se acostumar a uma nova dinâmica entre os vocalistas. Nos 18 anos em que Bennington e Shinoda estiveram juntos, a cumplicidade musical entre os dois foi um ponto central do sucesso da banda — uma química que nenhum outro cantor poderia reproduzir.
Armstrong se encaixa nas músicas sem nunca tentar imitar o estilo de Bennington. No “From Zero”, ela constrói uma identidade própria à frente do grupo, baseada principalmente na versatilidade.
Sem esforço, a cantora é capaz de ir do vocal limpo e suave de “Over Each Other” ao canto rasgado de “The Emptiness Machine”, chegando finalmente ao gutural poderoso de “Casualty”.
Emily Armstrong, a nova cantora do Linkin Park
Reprodução/Instagram
Essa última, melhor faixa do disco, é um hardcore-punk em que as vozes flutuam na letra, ora soando mais próximas, ora mais distantes. A produção é enérgica, caótica e moderna, carregada de elementos de música industrial. Logo em seguida, vem o eletropop “Overflow”, com batida groovada e influência de dub. Ao ouvir a dobradinha, você sente que ela poderia estar num álbum de Billie Eilish, se a cantora pop se arriscasse num som mais feroz.
Passado e presente
O Linkin Park se tornou a banda de rock pesado mais popular do século 21 porque nunca se preocupou com purismos: nos álbuns “Hybrid Theory” (2000) e “Meteora” (2003), diluiu as já bastante diluídas fronteiras do nu metal, incorporando não apenas elementos do hip hop, mas também da música eletrônica, R&B e funk americano.
Os bons resultados dos dois trabalhos culminaram em um projeto em parceria com o rapper Jay-Z, o EP de remixes “Collision Course” que em 2004 chegou ao primeiro lugar da parada americana de álbuns e tocou em 100% das festas de debutantes.
O legado do auge atingiu artistas como The Weeknd, Halsey e a própria Billie Eilish — que ainda nem tinha nascido quando saiu o “Hybrid Theory”, mas já falou em entrevistas sobre a influência do Linkin Park em suas músicas.
No retorno, o grupo parece mais inofensivo — longe de provocar o mesmo alvoroço cultural que causou na música pop dos anos anos 2000. Mas consegue se mostrar renovado, ao usar elementos do presente para reforçar a identidade do passado.
Emily Armstrong e Mike Shinoda em show do Linkin Park em Paris
Reprodução/Instagram
“Heavy Is the Crown”, faixa já divulgada do “From Zero”, tem Shinoda fazendo rap e Armstrong gritando por 15 segundos sem parar. Poderia ser uma música do “Meteora”, mas também conversa com o trap, vertente mais lenta e pesada do rap, que cresceu a partir dos anos 2010. Mais melódica e sem tanta personalidade, “Stained” parece ter saído de um disco recente do Imagine Dragons.
Com transições que colam uma faixa na outra sem interrupções, o “From Zero” sempre entrega uma música mais pesada imediatamente depois de uma mais suave. “Stained” antecede “IGYEIH”, um típico nu metal com riffs de guitarra saltitantes. A letra parece falar de forma vaga sobre alguém tentando se livrar do vício em drogas.
As divagações sobre saúde mental completam a receita que fez do Linkin Park um fenômeno. Juntos, Shinoda e Bennington versaram sobre vícios, angústia, solidão, abusos e ideação suicida, numa época em que poucos se aventuraram a fazê-lo. Lidando com seus próprios traumas, ganharam a confiança profunda dos fãs — especialmente os mais jovens.
Mais de 20 anos depois, os temas continuam os mesmos, mas agora não são mais tabus. “Desisti de quem eu sou para ser quem você queria… Eu só queria fazer parte de alguma coisa”, diz Armstrong em “The Emptiness Machine”, numa letra que nos anos 2000 seria capaz de emocionar até o cara mais popular da escola. Ainda é cedo para dizer se, hoje, ela terá o mesmo efeito.