14 de novembro de 2024

Delator do PCC executado no aeroporto em SP: saiba quais são os próximos passos da investigação


Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi morto com 10 tiros na sexta (8). Até a última atualização desta reportagem, ninguém foi preso. Secretaria da Segurança vai criar força-tarefa para investigar o caso. Antonio Vinícius Gritzbach
Reprodução/TV Globo
As investigações sobre a execução de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, delator da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), na sexta-feira (8) em Guarulhos, será realizada por uma força-tarefa a ser criada pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP).
Nesta segunda (11), o secretário da pasta, Guilherme Derrite, afirmou que o grupo terá a participação de seis membros das forças de segurança do estado e será coordenado pelo secretário-executivo da SSP, delegado Osvaldo Nico Gonçalves.
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Gritzbach fechou em março um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo para delatar crimes da facção e de policiais. Ele chegou a pedir mais proteção aos promotores, em virtude de ter sido jurado de morte.
Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso.
Polícia tenta identificar assassinos que executaram o delator do PCC
Confira abaixo os próximos passos da investigação e o que se sabe sobre o caso:
Quem vai fazer parte da força-tarefa?
Como a força-tarefa vai funcionar?
Por que a Polícia Federal entrou no caso?
O que a GCM de Guarulhos está apurando?
Por que ele não tinha uma escolta oficial?
Os seguranças estão sendo investigados?
Por que a Corregedoria da PM já investigava os seguranças de Gritzbach?
Por que ele denunciou policiais civis à Corregedoria?
1. Quem vai fazer parte da força-tarefa?
A coordenação será feita pelo secretário-executivo da SSP, delegado Osvaldo Nico Gonçalves. Os seis integrantes serão:
Caetano Paulo Filho – delegado de polícia, diretor do DIPOL;
Ivalda Oliveira Aleixo – delegada de polícia, diretora do DHPP;
Pedro Luís de Souza Lopes – coronel da PM, chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar;
Fábio Sérgio do Amaral – coronel da PM, corregedor da Polícia Militar;
Karin Kawakami de Vicente – perita criminal de Classe Especial.
2. Como a força-tarefa vai funcionar?
O colegiado obedece a um pedido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para as forças policiais darem uma resposta rápida sobre a execução.
O objetivo da força-tarefa, segundo o decreto que a criou, é fazer uma cooperação direta com o Ministério Público para o “compartilhamento de informações necessárias ao cumprimento de suas atribuições e, caso necessário, colaborando de forma complementar com autoridades federais, sem prejuízo da condução principal das investigações pelo estado”. O grupo também deverá informar Derrite do rumo dos trabalhos periodicamente, com relatórios semanais.
3. Por que a Polícia Federal entrou no caso?
Além da força-tarefa, a Polícia Federal também vai investigar o assassinato, por ordem do Palácio do Planalto. A avaliação é a de que a forma como o crime ocorreu, o suposto envolvimento de facção criminosa e de agentes públicos, além do local do homicídio no aeroporto mais movimentado do país durante o dia, demandam também uma investigação federal.
Por segurança, o inquérito será tocado por uma equipe de fora de São Paulo. Há uma suspeita de que o empresário pode ter sido morto por ordem e com envolvimento de agentes de segurança, e não necessariamente por ordem direta do PCC.
4. O que a GCM de Guarulhos está apurando?
A Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos, na Grande São Paulo, vai investigar por que não havia nenhum agente na base da corporação no Aeroporto Internacional de São Paulo no momento em que um delator do PCC foi executado com dez tiros. O crime aconteceu na tarde do dia 8, bem em frente ao micro-ônibus da GCM que fica estacionado no aeroporto, mas nenhum guarda estava no local para prestar suporte ou intervir na ação dos atiradores.
Segundo o comando da Guarda, naquele mesmo horário, os agentes da corporação, que andam armados, atendiam outra ocorrência na Delegacia da Polícia Civil de Cumbica. Fontes ligadas à gestão municipal querem saber se a ocorrência foi “plantada” para desviar a atenção dos guardas na hora do tiroteio ou se foi só uma coincidência. A sindicância foi aberta no sábado (9).
5. Por que ele não tinha uma escolta oficial?
Gritzbach pediu mais segurança ao Ministério Público. A TV Globo teve acesso a um trecho da reunião do empresário com os promotores, cuja data não foi informada (veja vídeo).
“Tenho comprovantes de pagamento, tenho contrato, tenho matrícula, tenho as contas de onde vinham o dinheiro, então dá pra gente fazer o caminho inverso. Tenho as conversas de Whatsapp com os proprietários. Eu apresento, doutor, mas cada vez mais eu preciso de mais segurança. Então, eu precisava de um amparo de vocês também do que eu vou ter. Se não, vocês estão falando com um morto-vivo aqui”, disse, na reunião.
À GloboNews, o promotor Lincoln Gakiya disse que ele recusou as ofertas de segurança feitas a ele. Alegava que podia bancar a própria segurança e não queria abrir mão do estilo de vida que levava. Ao entrar no programa, ele precisaria mudar de casa e deixar de conviver com a família e amigos.
Para se proteger, o empresário contratou cinco policiais militares para fazerem sua escolta particular: Quatro deles, Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima, estavam em terra, mas não estavam com Gritzbach quando ele foi morto. Disseram que um dos carros usados para buscar o empresário teve um problema na ignição.
O quinto, soldado Samuel Tillvitz da Luz, viajava com o empresário, mas disse que, quando ouviu o barulho de disparos, se escondeu atrás de um ônibus estacionado e “partiu em deslocamento a pé por seu lado direito, subindo por um barranco e acessando a via que dá acesso ao pavimento superior do aeroporto”. À Corregedoria, ele explicou que estava em desvantagem, por isso decidiu proteger a própria vida.
7. Os seguranças estão sendo investigados?
Sim. Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima são investigados pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e foram afastados de suas funções no sábado (9). A investigação está refazendo os passos deles, seguindo o trajeto antes de o carro supostamente quebrar, além de extrair dados dos celulares dos PMs.
8. Por que a Corregedoria da PM já investigava os seguranças de Gritzbach?
A Corregedoria da Polícia Militar havia instaurado um inquérito para apurar o suposto envolvimento dos seguranças dele com a facção criminosa. Os cinco seguranças de Gritzbach são praças da PM (soldados, cabos e sargentos) e foram indicados pelo mesmo tenente, Garcia, do 23° Batalhão Metropolitano.
Depois do assassinato, os corregedores revisitaram o Inquérito Policial Militar (IPM) e verificaram que os nomes dos seguranças de Gritzbach já apareciam na investigação. Agora, vão juntar informações que constavam no IPM com os novos elementos, obtidos principalmente após a apreensão dos celulares dos PMs.
9. Por que ele denunciou policiais civis à Corregedoria?
Gritzbach foi ouvido em 31 de outubro, oito dias antes de ser executado, na Corregedoria da Polícia Civil sobre a denúncia de que policiais civis estavam cometendo extorsão. Segundo Derrite, ele citava, na delação feita ao MP, “nomes de policiais civis que teriam, de alguma maneira, participado de extorsão contra ele”. Ele foi o primeiro a ser ouvido e o inquérito, instaurado na Corregedoria, “para que ele pudesse apontar os nomes e quais desvios de conduta, esses policiais civis teriam cometido”.
Veja, abaixo, o que mais se sabe sobre o caso:
Quem era Antônio Vinícius Lopez Gritzbach?
Por que Gritzbach estava em Guarulhos?
Como ele foi morto?
O que diz a namorada do delator do PCC?
O que os PMs que faziam a proteção de Gritzbach alegaram?
O carro dos PMs que faziam a segurança do empresário estava quebrado mesmo?
Alguém foi preso pela execução no aeroporto?
Alguém mais ficou ferido?
1. Quem era Antônio Vinícius Lopez Gritzbach?
Gritzbach tinha 38 anos e era corretor de imóveis no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Há alguns anos, ele passou a fazer negócios com Anselmo Bicheli Santa Fausta. Conhecido como Cara Preta, Santa Fausta movimentava milhões de reais comprando e vendendo drogas e armas para o PCC.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, Gritzbach teria atuado para lavar R$ 30 milhões em dinheiro proveniente do tráfico de drogas. De acordo com fontes da Polícia Federal, a maior parte dessas operações de lavagem foi feita com a compra e venda de imóveis e postos de gasolina.
Cara Preta e o motorista dele, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, foram assassinados, e Gritzbach começou a ser investigado como responsável pelas mortes.
Em março, o empresário fechou um acordo de delação premiada com o MP com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro do PCC e crimes cometidos por policiais.
Gritzbach acusou um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de exigir dinheiro para não implicá-lo no assassinato do Cara Preta. Além disso, forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que trabalharam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
2. Por que Gritzbach estava em Guarulhos?
O empresário e a namorada estavam voltando de uma viagem de Maceió para São Paulo. No domingo (10), viajariam para Vitória.
3. Como Gritzbach foi morto?
Gritzbach foi executado na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, por volta das 16h.
Câmeras de segurança registraram toda a ação. Nas imagens, o empresário aparece carregando uma mala na área externa, onde há uma fila de carros, quando dois homens encapuzados descem de um veículo preto e efetuam ao menos 29 disparos.
Gritzbach tenta fugir e pula a mureta que divide a via, porém cai logo em seguida. Ele foi atingido por 10 tiros: 4 tiros no braço direito, 2 no rosto, 1 nas costas, 1 na perna esquerda, 1 no tórax e 1 no flanco direito (região localizada entre a cintura e a costela).
Infográfico mostra áreas do corpo de Antônio Vinicius Grizbach atingidas por tiros
g1
4. O que diz a namorada do delator do PCC?
Maria Helena Antunes contou, segundo a TV Globo apurou, que estava meio brava com o empresário porque ele está à sua frente e teriam “uma DR [discussão de relacionamento] no carro”. Ao ouvir os tiros, ela disse que se assustou e correu, voltando para dentro do saguão do aeroporto, quando encontrouo Samuel, o segurança que tinha viajado com o casal. Ela disse que o segurança não deixou que ela voltasse para ver o namorado e a levou embora.
5. O que os PMs que faziam a proteção de Gritzbach alegaram?
PMs que faziam a segurança de Gritzbach afirmaram que um problema com um dos carros impediu a chegada deles ao aeroporto de Guarulhos antes da execução. Segundo depoimentos à Polícia Civil feito por dois deles, o grupo foi chamado para buscar o empresário e a namorada dele no aeroporto. Eles se dividiram em dois carros. Em um, estavam os policiais Adolfo e Leandro. No outro, foram os policiais Jefferson e Romarks, o filho e um sobrinho do empresário.
Ainda de acordo com os depoimentos, por volta das 15h, eles pararam em um posto Ipiranga próximo ao aeroporto para fazer um lanche. Foi quando o filho de Gritzbach informou aos seguranças sobre a chegada do pai. Um dos veículos, entretanto, teve problema na ignição e não estava mais ligando, segundo os policiais. O outro veículo já estava a caminho, mas, como estava com quatro pessoas, fez meia-volta e retornou ao posto para deixar um dos policiais lá e abrir espaço para o empresário e a mulher.
Quando esse veículo – com o policial Jefferson, o filho e o sobrinho do empresário – estava se aproximando do portão de desembarque, ocorreram os disparos. Investigadores desconfiam desta versão (leia mais). Uma das linhas de investigação do DHPP é que os seguranças teriam falhado de forma proposital.
6. O carro dos PMs que faziam a segurança do empresário estava quebrado mesmo?
Segundo apuração da TV Globo, o carro em que os seguranças estavam realmente teve um problema mecânico. Não se sabe ainda se o problema foi involuntário ou provocado, para justificar a ausência da escolta no momento do ataque.
7. Alguém foi preso pela execução no aeroporto?
Até a última atualização da reportagem, ninguém havia sido preso. Os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, usado pelos atiradores, foram apreendidos, assim como os celulares dos policiais que faziam a segurança e da namorada do empresário.
Na tarde de sábado (9), a Polícia Civil ainda localizou duas armas: um fuzil e uma pistola. Elas estavam próximo ao local em que o carro foi abandonado, a pouco mais de 7 km do aeroporto, ainda em Guarulhos. Segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), são as armas usadas no crime.
Armas apreendidas após o assassinato de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach no Aeroporto de Guarulhos.
Divulgação
7. Alguém mais ficou ferido?
O ataque resultou na morte, ainda, de Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos, atingido nas costas por um tiro de fuzil.
Um funcionário terceirizado do aeroporto, que teve ferimentos na mão, e uma de 28 anos, atingida por um tiro de raspão no abdômen, foram socorridos e receberam alta.
Celso chegou a ser socorrido e internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Guarulhos, mas não resistiu. Ele foi enterrado na segunda (11) em um cemitério de Guarulhos. Deixou a esposa, Simone, e três filhos, de 20, 13 e 3 anos.
Veja o que se sabe sobre dinâmica do atentado
Arte/ g1

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