♫ CRÔNICA
♩ Hoje Cida Moreira faz 73 anos. Não, isso não é uma notícia. Há três anos, quando a cantora paulistana festejou 70 anos, a data era redonda e gerou texto nesta coluna. Mas hoje não tem efeméride, não tem o que chamamos de “gancho” no jargão do jornalismo cultural.
Só que Cida Moreira é cantora tão importante na minha vida que não resisto e faço mais um texto sobre a artista, motivado pelos 73 anos que não são noticia. Um texto pessoal, sem razão, como quase nunca os leitores da coluna encontram por aqui, pois gosto de me pautar pela formalidade jornalística das notícias e das críticas de discos e shows.
Mas tem cantoras que (me) mobilizam. Gal Costa (1945 – 2022), Maria Bethânia, Marisa Monte, Clara Nunes (1942 – 1983)… Cida Moreira faz parte desse panteão desde os anos 1980. De lá para cá, nunca mais a perdi de vista. Ao contrário: como jornalista, documento cada passo da artista com paixão.
Cida também é atriz, faz cinema, passou pelo teatro… É o que chamamos de intérprete. Uma senhora intérprete. Uma dona do dom de cantar cada verso com a precisão alcançada somente por quem, mais do que cantar, sabe interpretar uma música. E sabe escolher repertório com rigor, longe dos trilhos da trivialidade.
Se Bethânia me abriu as portas para a poesia de Fernando Pessoa (1888 – 1935), Cida me abriu os ouvidos para a música de Bertolt Brecht (1898 – 1956) e Kurt Weill (1900 – 1950), compositores alemães aos quais possivelmente eu nunca teria chegado sem ela. Sem falar em Tom Waits, compositor norte-americano que aprendi a admirar vendo os shows de Cida.
E, sim, eu sempre dou um jeito de ver um show de Cida Moreira. Quando ela vem ao Rio se apresentar no Manouche, a charmosa casa-cabaré tão ao jeito da digna dama, para mim é feriado municipal. Gosto de todos os shows de Cida. Mas gosto mais daqueles em que ela se acompanha sozinha ao piano.
Cida se basta com a voz, o piano, a alma sensível e a imensa habilidade para imprimir no canto os sentimentos do mundo. Em tempos idos, a voz aguda tinha alcance operístico. Em anos mais recentes, a voz ficou mais grave, mais encorpada, mais maturada, mais plena de sentidos.
Resumindo, Cida Moreira é a diva que muitas queriam copiar. Mas inexiste cópia de Cida Moreira. Cida Moreira é única. É gigante no palco. E hoje essa senhora da cena faz 73 anos sob aplausos do séquito fiel que a reverencia com devoção.
Não, isso não é notícia (e quem lê tanta notícia?). Mas também é importante e, no coração do colunista, merece manchete ou, ao menos, uma crônica como essa que você acabou de ler.