20 de setembro de 2024

Artesão do Sertão de Sergipe com apenas o 1º grau é o mais novo ‘doutor honoris causa’ da UFS

Foi defendendo sua origem que Cícero Alves dos Santos virou doutor, aos 77 anos. Artesão do Sertão de Sergipe com apenas o 1º grau é o mais novo ‘doutor honoris causa’ da UFS
Jornal Nacional/Reprodução
Um artesão que conquistou admiração e carinho ao longo de anos de trabalho acaba de ser reconhecido também em um ambiente que é absolutamente novo para ele.
Cícero Alves dos Santos nunca tinha pisado em uma universidade. A academia sempre esteve distante deste homem do Sertão.
“A caatinga é a maior fonte de inspiração minha, é onde eu aproveito para criar o meu trabalho. E junto à natureza, da qual elas criam também, a gente faz uma espécie de associação”, conta Cícero.
Foi defendendo sua origem que o artesão virou doutor, aos 77 anos, com apenas o primeiro grau completo. Doutor honoris causa. A maior honraria concedida pela Universidade Federal de Sergipe.
“Sua obra é muito genuína, e uma obra muito inovadora que deixa o ‘véio’ realmente como algo que pode ser levar por um mundo inteiro como sendo uma representação importante da cultura popular do povo sertanejo e do Brasil”, diz Adriano Antunes de Souza Araújo, diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UFS.
Cícero nasceu e vive em Nossa Senhora da Glória, Sertão de Sergipe. O Sertão sempre foi a casa de “véio”. Ali, ainda na infância, por gostar de estar sempre entre os mais velhos, ganhou apelido que virou sua marca e, de tanto admirar essa vegetação, aprendeu sozinho a transformar em arte os galhos e troncos da caatinga. A arte está no caminho que faz todos os dias na caatinga.
“Quando eu vejo, por exemplo, um galhinho desse aqui, se eu quiser eu transformo ele em uma porção de obras onde quem vai dizer o que é a própria madeira”, diz o artesão.
A madeira que ia virar lenha é talhada com firmeza. A forma vai surgindo com um pouco de técnica e muito de inspiração.
“Eu sou um parceiro da natureza, então ela cria e muitas vezes deixa para o término. É como você pegar uma pedra diamante que você vai deixar ela brilhando da cor que você quiser”, explica Cícero.
A obra do artista já atravessou o oceano. Estados Unidos, França, Suíça, Inglaterra têm um pedacinho da arte do agora doutor “véio”.
“Até hoje o que eu fiz e o que eu faço é com essa razão. Amo aquilo que eu tenho e aquilo que eu faço. Arte é isso é você despertar a curiosidade de quem entende e de quem não entende”, afirma ele.
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