Além da sala de aula: conheça as novas metodologias que estão transformando a educação A força e a velocidade das tecnologias e as constantes transformações climáticas, políticas e econômicas vêm moldando o século XXI de forma radical, exigindo que as instituições de ensino preparem os indivíduos para realidades que ainda estão em construção.
E, se ainda estamos em meio a transformações, o grande desafio colocado é o de como preparar os jovens para um futuro ao qual temos mais suposições do que dados concretos? Como formar profissionais capazes de equilibrar inteligência artificial e inteligência emocional, competências técnicas e habilidades comportamentais?
A resposta pode estar na reformulação do próprio conceito de escola, que precisa ir além do ensino tradicional e se transformar em um espaço de construção de cidadãos globais, autônomos e protagonistas de sua própria aprendizagem. Nessa linha, o coordenador geral da Escola Dinâmica, em Florianópolis, Jorge Nogared, avalia que a educação escolar de alunos, para atender às demandas do século XXI, precisa continuar em seu processo de transformação, uma vez que o mundo atual exige habilidades muito além do conhecimento técnico ou puramente acadêmico. “Vivemos em uma era de constante evolução tecnológica, globalização, e desafios socioambientais complexos. Dessa forma, o foco não está mais apenas na transmissão de conteúdo, mas no desenvolvimento de competências como pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas e colaboração”, diz.
Assim, a missão da Educação, no século XXI, não é apenas formar bons profissionais, mas criar pessoas preparadas para atuar em um mundo conectado, interdependente e em constante mudança. Para isso, diferentes abordagens pedagógicas e metodologias vêm sendo aplicadas, visando desenvolver tanto competências técnicas quanto socioemocionais.
Entre essas estratégias, podemos destacar a aprendizagem baseada em projetos, a pedagogia em sintonia com a arquitetura dos ambientes, o bilinguismo, o desenvolvimento de soft skills e a prática do mindfulness.
Juntas, essas metodologias não apenas promovem o aprendizado, como também transformam o papel do aluno e da escola na sociedade contemporânea.
A aprendizagem baseada em projetos promove autonomia e protagonismo
Uma das principais mudanças necessárias no processo educacional é deslocar o foco do ensino passivo — onde o professor é o centro e o aluno o receptor — para um modelo de aprendizagem ativa. A aprendizagem baseada em projetos (ABP) é uma estratégia que vai ao encontro dessa necessidade. Nela, os estudantes são estimulados a desenvolverem projetos que tragam soluções para problemas reais, aplicando os conhecimentos adquiridos, de forma prática e integrados às demandas sociais.
Ao permitir que os alunos atuem de maneira ativa e criativa no próprio processo de aprendizado, a ABP desenvolve habilidades como a resolução de problemas, o pensamento crítico e a colaboração. Assim, no lugar da simples memorização e reprodução de teorias e conceitos de forma isolada, os alunos são instigados a investigar, planejar e executar soluções, muitas vezes em conjunto com seus colegas.
“A metodologia também ajuda a despertar o interesse por áreas como Ciências da Natureza ou Tecnologia, ao mesmo tempo em que torna mais relevantes aos conteúdos, por inseri-los na lógica do letramento científico, com exercícios de recorte de temas, de elaboração de hipóteses, de pesquisa de campo apoiada em coletas de dados/informações reais e de consolidação dos resultados”, avalia o coordenador Jorge Nogared.
Esse formato também promove uma visão global, pois, frequentemente, os projetos envolvem questões de impacto social e ambiental, preparando o jovem para pensar de forma sistêmica e atuar em uma sociedade cada vez mais conectada.
Oferta de espaços de aprendizagem flexíveis
Outro aspecto importante para a Educação atual é o ambiente onde o processo de ensino-aprendizagem acontece. Hoje, não basta apenas mudar a pedagogia, é preciso repensar e recriar os espaços físicos educativos. Nesse sentido, as escolas precisam ser projetadas para promover interação, criatividade e flexibilidade, permitindo que os alunos se movimentem e colaborem de forma mais dinâmica.
Escolas que adotam o design arquitetônico como parte do processo pedagógico oferecem ambientes de aprendizagem mais abertos, com salas flexíveis, espaços ao ar livre e zonas de convivência colaborativa. São os chamados ambientes “terceiros educadores”, espaços pensados com intencionalidade e organizados de forma a tornar o aprendizado ativo, oferecendo diferentes possibilidades e materiais que enriquecem este processo.
“O espaço interage, modifica-se, toma forma de acordo com projetos de interesse, sequências investigativas e experiências, num diálogo constante entre a arquitetura e a pedagogia”, explica Nogared.
Essa mudança reflete uma transformação na forma como vemos a educação: não mais confinada a quatro paredes e com cadeiras enfileiradas, e sim como uma experiência imersiva, integrada com o ambiente, que favorece a exploração e a inovação.
Além disso, ambientes acolhedores promovem bem-estar emocional, o que tem impacto direto na capacidade de aprendizagem e na saúde mental dos alunos.
Bilinguismo prepara cidadãos globais
Em um mundo onde as barreiras geográficas e o individualismo cultural estão, cada vez mais, dando lugar ao múltiplo e global, a proficiência em outros idiomas é uma habilidade essencial. O bilinguismo, além de proporcionar uma vantagem competitiva no mercado de trabalho, desenvolve a capacidade de pensar de forma mais flexível e integrada.
A educação bilíngue prepara os alunos para serem cidadãos globais, com a habilidade de transitar por diferentes culturas e contextos. Quando expostos a diferentes idiomas, os estudantes também desenvolvem uma visão mais empática e tolerante, o que é determinante para o convívio em sociedades multiculturais.
“Para tanto, faz-se necessário investir em diferentes atividades que desenvolvam a socialização do conhecimento, sejam elas por meio de plataformas digitais, viagens acadêmicas de imersão, nacionais e internacionais”, esclarece o coordenador.
Aprender uma nova língua ainda estimula o cérebro de diversas maneiras, promovendo o desenvolvimento cognitivo e melhorando a capacidade de resolução de problemas.
Ética, flexibilidade, empatia e criatividade estão entre as soft skills mais desejadas
Até o século XX, a Educação tinha como objetivo principal formar profissionais tecnicamente qualificados. Já, no século XXI, é preciso mais do que conhecimento técnico para se destacar. As soft skills — ou habilidades socioemocionais — são tão importantes quanto o domínio das ferramentas e teorias específicas de cada área.
Habilidades como comunicação eficaz, colaboração, liderança, empatia, adaptabilidade e inteligência emocional estão entre as mais valorizadas no mundo do trabalho. Elas permitem que os indivíduos circulem em ambientes profissionais e sociais complexos com capacidade de inovação para lidar com os desafios.
Ao focar também no desenvolvimento dessas competências, a Educação passa a formar profissionais mais completos, capazes de atuar de forma eficiente em equipes, de gerir conflitos e de se adaptar rapidamente a novas situações, e ser, tanto profissional quanto pessoalmente, mais realizados.
Educação para o bem-estar e a consciência plena com mindfulness
A prática do mindfulness, ou atenção plena, é uma estratégia que tem ganhado força nas escolas, como um reforço nas atividades curriculares e extracurriculares.
Sabemos que nem sempre é fácil manter a atenção e o foco em meio a tantas distrações, e essa estratégia ajuda os jovens a desenvolverem autocontrole, concentração e gestão emocional. A prática regular de mindfulness nas escolas tem mostrado resultados positivos no aumento da capacidade de foco, na redução da ansiedade e do estresse.
Entender como gerenciar emoções e pensamentos de forma mais consciente, auxilia os alunos a lidarem melhor com as pressões acadêmicas, e eles acabam levando essas habilidades desenvolvidas na escola para a vida adulta. O mindfulness contribui para uma educação integral, que considera o ser humano em sua totalidade e complexidade.
O papel transformador da escola neste século
A escola do século XXI precisa ser um espaço de formação integral, que prepare os alunos não apenas para serem bons profissionais, mas também cidadãos globais e indivíduos plenos.
Cada vez mais, é necessário que a educação seja vista como um processo contínuo de construção de conhecimento e de habilidades para a vida. O desafio de educar para o futuro é grande, mas as oportunidades para formar cidadãos engajados, críticos e inovadores são ainda maiores. Afinal, o futuro pertence àqueles que estão preparados para aprender e se adaptar.