A pesquisa mais recente do IBGE aponta que 70 mil moradores do Vale do Paraíba se enquadram no grupo de não alfabetizados. Nesta quinta-feira (14), dia em que é comemorado o Dia Nacional da Alfabetização, o g1 conversou com a aposentada Maria Alice Gomes, de São José dos Campos (SP), que na terceira idade decidiu dar os primeiros passos para realizar um sonho de infância: aprender a ler e escrever. Aos 69 anos, aposentada inicia os estudos para aprender a ler e escrever e já sonha em entrar na faculdade: ‘A educação é a base de tudo’
Arquivo pessoal
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), neste ano, apontam que mais de 71 mil moradores do Vale do Paraíba e região são analfabetos. A aposentada Maria Alice Gomes, de 69 anos, que é moradora de São José dos Campos (SP), fazia parte da estatística, até que recentemente decidiu começar os estudos e iniciou o processo de alfabetização.
Nesta quinta-feira (14), data em que é comemorado o Dia Nacional da Alfabetização, o g1 conversou com a aposentada Maria Alice Gomes sobre sua jornada de aprendizagem na terceira idade.
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Para Maria Alice, a idade não foi um empecilho para começar a estudar. Mesmo enfrentando desafios, ela queria realizar o sonho de infância de se alfabetizar e buscar a própria independência, para acabar com as dificuldades que enfrentava no dia a dia, por não saber ler e escrever. Por isso, ela ingressou no Programa de Educação de Jovens e Adultos em São José dos Campos.
Maria conta que sempre teve o sonho de se alfabetizar e que para ela nunca é tarde para iniciar os estudos.
“Não tem idade pra aprender a ler e escrever, só basta querer. Diga pra você mesmo: ‘eu quero, eu posso e eu consigo’. E com respeito, carinho e humildade, com todos os nossos professores, chegamos muito longe”, declarou.
Maria conta que nasceu na Paraíba, mas que aos 16 anos se mudou com a família buscando melhores condições de vida no interior de São Paulo. De acordo com ela, o que a impediu de se alfabetizar enquanto era jovem foram os estigmas da época, marcada por uma cultura machista, em que a educação de mulheres não era uma prioridade.
“Naquela época, em que eu era criança, a maioria das pessoas vindas do nordeste, e que hoje têm a minha idade, eram analfabetas. Os meninos estudavam, pois tinham que servir ao exército, mas as meninas só tinham que aprender a lavar, passar e cozinhar pra poder casar”, contou.
Analfabeta, Maria Alice conseguiu um emprego como camareira em um hotel de São José dos Campos, que foi onde construiu sua vida. Ela se casou, se divorciou e então assumiu a árdua missão de cuidar da filha sozinha. Mesmo cercada de dificuldades, Maria Alice conseguiu sua casa própria e sua filha hoje é formada na área da educação.
“Sou paraibana de sangue, joseense de coração. Mesmo analfabeta, eu consegui emprego, consegui a minha casa própria, tenho minha filha estudada, então acho que posso dizer ser uma vencedora no Vale do Paraíba”, disse.
Aos 69 anos, aposentada inicia os estudos para aprender a ler e escrever e já sonha em entrar na faculdade: ‘A educação é a base de tudo’
Arquivo pessoal – Maria Alice Gomes
Agora, estudando no EJA, a aposentada acredita que a alfabetização está dando uma nova oportunidade para ela, podendo ser independente em pequenas tarefas diárias, já que antes precisava de ajuda sempre que precisava escrever seu endereço, por exemplo.
Nessa jornada de aprendizagem, ela conta que foi acolhida pelos colegas de sala e pelos professores, que a incentivam a se dedicar cada vez mais.
“No EJA eu encontrei uma família, uma casa de apoio onde somos muito bem recebidos pelos gestores que são meus ‘filhões’, por terem a idade da minha filha. Lá eu recebo carinho, educação, autoestima e tudo que se pode receber de bom”, afirmou.
“A educação é a base de tudo, então precisamos estudar para ser um cidadão de bem, porque uma pessoa que não tem leitura sofre muito, é dependente dos outros pra tudo, pra perguntar, pra escrever um endereço, pra tudo”, completou.
Agora, a nova meta de Maria Alice é cursar uma faculdade de direito. Para ela, as mulheres nordestinas ainda são subjugadas por seus maridos, e formar-se em direito será uma forma de se igualar e ajudar outras mulheres.
“Se Deus quiser, se me der forças, e a cabeça que eu tenho por mais uns 10 anos, minha meta é direito, isso eu tenho na cabeça desde jovenzinha. Eu quero estudar muito pra debater de igual pra igual, em defesa das mulheres nordestinas. Hoje, mulheres e homens têm direitos iguais”, finalizou.
Aos 69 anos, aposentada inicia os estudos para aprender a ler e escrever e já sonha em entrar na faculdade: ‘A educação é a base de tudo’
Arquivo pessoal – Maria Alice Gomes
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