18 de novembro de 2024

Motorista de app é banido de plataforma após ser sequestrado por falso passageiro: ‘Me senti um lixo’


Vítima foi abordada após aceitar a corrida em Bertioga (SP) e acabou amarrada em uma árvore em Boracéia (SP). Uber afirma que a desativação da conta aconteceu após uma violação do código da comunidade da empresa e não teve relação com o crime. Motorista de Bertioga (SP) alega ter sido banido de plataforma após sequestro
Arquivo pessoal
Um motorista de aplicativo foi sequestrado e teve o carro roubado por um criminoso que fingiu ser um passageiro em Bertioga, no litoral de São Paulo. Ao g1, Eneas Santos Dias, de 42 anos, alegou que, além do susto, acabou banido da plataforma dez dias após o ocorrido e sem explicação.
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Segundo Eneas, o sequestro aconteceu no último dia 5 de setembro. Ele disse ter sido abordado em Bertioga (SP) por três homens, sendo dois comparsas do suposto passageiro, e obrigado a conduzir o carro até uma área de mata em Boracéia (SP), onde foi amarrado em uma árvore. Apenas um suspeito foi preso.
De acordo com ele, o banimento da plataforma aconteceu dez dias depois. Em nota, a Uber informou que a desativação do ‘motorista parceiro’ aconteceu após uma violação do código da comunidade da empresa e não teve relação com o crime (confira o posicionamento completo abaixo).
“Por que não me bloquearam antes? Deixaram acontecer um fato tão gravíssimo, que eu quase perdi a minha vida […]. Me senti um lixo”, lamentou Eneas, que prestava serviços à empresa há aproximadamente quatro anos.
Sequestro
Eneas disse ter sido acionado para uma corrida por volta de 1h30 da manhã. Ele esperava que a cliente fosse uma mulher, como aparecia no aplicativo, mas acabou encontrando um homem no local de embarque, no bairro Guaratuba, em Bertioga (SP).
O motorista explicou que não suspeitou no momento, uma vez que as pessoas costumam solicitar viagens umas para as outras. Ele relatou, porém, ter notado uma alteração no destino da corrida de São Paulo para Praia Grande (SP).
“Aí eu já desconfiei porque não dá para uma pessoa chamar para São Paulo e mudar tão de repente. Eu falei isso [que não iria] para ele, ele já sacou e encostou o revólver na minha cabeça”, lembrou o motorista.
Motorista de aplicativo de Bertioga, SP, é descredenciado da plataforma após sequestro
O motorista disse que foi obrigado a conduzir o carro até dois homens que estavam parados com uma bicicleta na via. De acordo com ele, o falso passageiro alegou que iria assaltar a dupla, mas ela entrou no veículo. “Eles estavam acomunados, era só para eu não saber que estavam juntos”, complementou.
Eneas afirmou ter sido levado pelo trio até uma área de mata em Boracéia (SP), onde foi deixado amarrado em uma árvore. Os criminosos fugiram com o carro, dois celulares, R$ 1,2 mil em dinheiro, um relógio e documentos.
“Ali eu vi a morte”, afirmou o motorista.
Prisão
Suspeito foi preso após se envolver em acidente com carro roubado durante perseguição
Arquivo pessoal
Eneas contou que conseguiu se desamarrar sozinho e andar até um totem de segurança da Guarda Civil Municipal (GCM) de Boracéia. Os agentes foram até o motorista e o levaram para um posto da Polícia Militar Rodoviária (PMR).
Mais tarde no mesmo dia, segundo o Boletim de Ocorrência (BO) obtido pelo g1, a PM localizou o carro do motorista pelo sistema de radar. Durante a perseguição, os criminosos colidiram com um caminhão na Rodovia Ayrton Senna, em Guarulhos (SP).
Ainda de acordo com o registro policial, dois criminosos desceram do carro. Um deles foi preso em flagrante com um revólver e o outro conseguiu fugir pelo matagal às margens da rodovia. Não há informações sobre o terceiro envolvido.
Prejuízo
De acordo com Eneas, a lataria foi destruída e o carro sofreu ‘perda total’, ou seja, quando o custo de reparos e troca de peças de um veículo é superior a 75% do valor de mercado. O motorista, que não tinha seguro, avisou sobre o ocorrido à plataforma e alugou um automóvel para continuar o trabalho.
Aproximadamente dez dias depois do sequestro, Eneas teve a conta desativada no aplicativo. Sem entender o motivo, ele disse ter ido até o escritório da empresa em São Paulo para descobrir o que tinha acontecido, mas não conseguiu nenhuma informação no local.
“Não acredito que eu tenha feito nada, e mesmo que tivesse feito, eu teria todo o direito de me defender”, disse. “Agora, eles não podem me bloquear como se: ‘Ah, você não serve mais. Você é um lixo'”.
Eneas afirmou que está sem trabalhar e morando de favor na casa de parentes. Diante da situação, o motorista acionou advogados para entrar com um processo na Justiça. Ele quer que a empresa pague uma indenização para cobrir os gastos do carro, do tempo sem serviço e do veículo alugado.
Motorista foi até o escritório da empresa entender o motivo do bloqueio
Arquivo pessoal e Reprodução/TV Tribuna
Uber
Em nota à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo, a empresa lamentou o sequestro de Eneas e casos em que ‘motoristas parceiros’ são alvos de violência. A companhia afirmou que está à disposição das autoridades para auxiliar nas investigações, nos termos da lei.
Segundo a empresa, a conta de usuário utilizada para solicitar a viagem foi desativada assim que tomou conhecimento do episódio. Ela destacou que foi colocado à disposição do motorista um seguro, que cobre despesas médicas e odontológicas de todas as viagens pelo aplicativo.
Sobre a desativação, a companhia disse que não teve relação com o sequestro e ressaltou que ocorreu dias depois do crime por conta de uma violação do Código da Comunidade. “É importante destacar que a Uber toma com absoluta seriedade a decisão de desativar uma conta da plataforma”, finalizou.
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