Espécie estava em cabo de vassoura e chamou a atenção pelas cores; gravação ocorreu por acaso, depois de observação de morador, em casa. Cigarra foi flagrada durante processo de transformação
Edney Bento
Você presta atenção à vida que se revela no seu quintal? Foi justamente por observar os animais que vivem por perto que Edney Bento, de 51 anos, foi presenteado sem sair da área de chácara onde mora, em São Bernardo do Campo (SP). Desde muito jovem ele tem uma relação de amor e admiração pela natureza. Por isso, sempre registra os animais que encontra pelo caminho.
Recentemente ele notou, por acaso, a casquinha de uma cigarra no cabo de uma vassoura que estava do lado de fora de casa. “Resolvi colocar para dentro, porque estava ventando, ameaçando chover”, conta o morador.
Edney aproveitou para pegar o celular e fazer o chamado “timelapse”, que é quando a captação da imagem dura muitas horas para registrar todo um processo (veja vídeo).
Vídeo mostra momento exato de transformação de cigarra
“Foi uma correria porque eu queria pegar todo o processo”, relembra.
O resultado de duas horas de gravação pôde ser conferido num “timelapse” de cerca de 45 segundos. A cigarra, da espécie Carineta diardi, se revelou cheia de cores. Ela também é conhecida como cigarra-formosa e basta ver sua transformação para compreender o nome.
Cigarra da espécie Carineta diardi é também conhecida como cigarra-formosa
Edney Bento
Esta espécie é relativamente pequena, com cerca de 2,5 cm de comprimento e 6 a 7 cm de envergadura.
“Ela tem uma distribuição restrita a alguns países da América do Sul, como Brasil, Paraguai e Argentina, sendo no Brasil mais comum no Sudeste e Sul”, explica o biólogo Pedro Álvaro Neves, que apelidou a espécie de “turistinha”, por emitir som semelhante a um disparo de máquina fotográfica.
Após fazer a gravação, Edney levou a vassoura de volta para a parte externa da casa e depois só viu a casquinha. “Ela pôde concluir o trabalho com tranquilidade”, conta.
Ela tem uma distribuição restrita a alguns países da América do Sul, como Brasil, Paraguai e Argentina, sendo no Brasil mais comum no Sudeste e Sul
Edney Bento
Observador da natureza
Edney Bento mora nesta área desde 2004. Ele conta que na chácara aparecem muitas aves e por isso ele e o irmão, Aléssio Bento, têm investido em câmeras para os registros. A última aventura foi ajudar um casal de tucano-de-bico-verde no processo reprodutivo com a colocação de uma caixa-ninho, uma história que você verá em breve no Terra da Gente.
Edney mora em área de chácara e têm contribuído com várias espécies, com caixas-ninho
Edney Bento
Edney atua como guarda ambiental em toda a área de São Bernardo do Campo no combate a crimes ambientais.
“Eu sempre registrei e não compartilhava, mas agora acho importante para que as pessoas tenham um momento de leveza no dia e também despertem para a conscientização. Na correria nem todo mundo consegue contemplar, então quero mostrar isso para as pessoas”, completa.
Filhote de veado foi resgatado em São Bernardo do Campo (SP)
Edney Bento
O morador conta que tem vários registros dos animais que resgatou, como um filhote de veado, o urutau, bicho-preguiça, coruja, entre outros.
“As pessoas se preocupam com os animais. Já vi pessoas chorarem ao ver o resgate e ficam extremamente gratos pelo nosso trabalho”, compartilha Edney.
Os animais resgatados são encaminhados para o zoológico da cidade, onde recebem atendimento veterinário.
Corujinha-do-mato também está entre os animais resgatados
Edney Bento
As cigarras
É durante a primavera que as cigarras garantem uma trilha sonora exclusiva não só na mata, mas também na cidade, nos mais diversos ambientes. O som estridente é inconfundível. Para entender o que é essa fase da vida das cigarras é preciso relembrar o ciclo completo do inseto. Acontece assim:
– Entre a primavera e o verão, os machos adultos atraem as fêmeas emitindo um som alto, que pode chegar a 120 decibéis, algo comparável à decolagem de um avião;
– Ao acasalarem, as fêmeas põem seus ovos em troncos de árvores e morrem em seguida. Esta etapa de vida adulta dura cerca de um mês;
– Dos ovos surgem os insetos jovens (ou ninfas) que caem no chão para entrar na terra. É neste mundo subterrâneo, sugando a seiva das raízes das árvores, que as ninfas vão permanecer de um a 17 anos, dependendo da espécie;
– Após o longo período sob a terra, já com o exoesqueleto formado, as cigarras cavam túneis e chegam à superfície, procurando árvores para se fixarem. Nesta fase adulta, as carapaças se rompem e os insetos iniciam a reprodução. E assim, o ciclo de vida se completa.
Em todo o mundo existem cerca de 1.500 espécies de cigarras.
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