19 de novembro de 2024

Saiba por que mulheres empreendem menos do que homens em Campinas


Apesar de possuir mais microempreendedores individuais (MEIs) homens, metrópole ocupa 10ª posição entre municípios com maior número de MEIs femininas ativas no Brasil. Fabíola Galvão é artesã e exemplifica os desafios enfrentados por mulheres que conciliam o empreendedorismo com a rotina doméstica
Fabíola Galvão/Arquivo pessoal
Apesar de representarem 51,5% da população de Campinas (SP), as mulheres empreendem menos do que os homens no município. De acordo com o Sebrae, dos 128.029 microempreendedores individuais (MEIs) na metrópole, 58.630 são do sexo feminino, correspondendo a 45,8% do total.
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👩 Ainda assim, Campinas ocupa a 10ª posição entre os municípios com maior número de MEIs femininas ativas no Brasil, um indicativo de que as mulheres estão conquistando espaço, mesmo diante de desafios estruturais.

A cidade, porém, segue na contramão da tendência regional: na região Sudeste, as mulheres já superam os homens em empreendedorismo, representando 44,4% contra 43%, segundo levantamento do Sebrae.
O g1 Campinas conversou com a gestora de empreendedorismo feminino do Sebrae Campinas, Joice Oliveira, para entender os fatores que dificultam a expansão das mulheres no mercado de negócios. Entre os principais entraves, ela destacou:
💼/🏠 Dupla jornada de trabalho
💰 Dificuldade no acesso a crédito
😕 Insegurança nas competências de trabalho
😕 Dificuldades e inseguranças
Segundo Joice, a realidade da dupla jornada é um dos maiores entraves para o crescimento das mulheres no empreendedorismo. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae revela que, enquanto os homens dedicam em média 1,6 horas diárias aos cuidados com a casa e a família, as mulheres gastam 3,1 horas com essas atividades.
Para a especialista, esta realidade impacta diretamente na diferença de tempo dedicado ao empreendedorismo por ambos os sexos e, consequentemente, na facilidade de progressão do negócio.
“Grande parte dessa dificuldades se dá muitas vezes com a questão de ter que equilibrar outras coisas, né? Então a maternidade é um dos pontos, quando a mulher é mãe e empreendedora ela tem menos horas dedicadas ao negócio do que o homem”, comenta Joice.
Outro desafio apontado pela gestora é o acesso ao crédito. Apesar de as mulheres terem menor índice de inadimplência, elas ainda enfrentam dificuldades para convencer agentes financeiros a liberar recursos. De acordo com Joice, a dificuldade está ligada à insegurança comportamental.
“As mulheres às vezes se sentem, mesmo que elas dominem aquilo que elas fazem, se sentem inseguras, e isso pode transparecer ali na hora da tomada de crédito, de apresentar essas informações”, aponta a gestora.
💅 Predominância no setor da beleza
Entre as áreas de maior concentração de MEIs femininas em Campinas, os setores de beleza – como cabeleireiros, manicures e designers de sobrancelhas – e o comércio varejista de roupas e acessórios se destacam.

Para a gestora, essa predominância reflete tanto questões culturais quanto a busca por áreas que demandem menor investimento inicial, um fator crucial para aquelas que empreendem por necessidade.
“A mulher tem muito cedo esse despertar por coisas relacionadas à beleza, seja cuidando do cabelo da mãe, da irmã ou do seu próprio cabelo, e tem também a facilidade de fazer cursos de orientação na área, com o conteúdo ‘mais técnicos’ […] A gente entende que é mais fácil ter acesso a esse conteúdo, às vezes até por observação mesmo”, afirma Oliveira.
Joice destaca que, devido à acessibilidade, o setor oferece uma entrada rápida no mercado, favorecendo a adesão do público.
“O empreendedorismo por necessidade abrange muito mais essas atividades da área da beleza, pela facilidade e pelo custo. Então, para eu montar o meu espaço para fazer unha, por exemplo, é um investimento menor do que se eu pensar em algum outro perfil de empresa voltado para a tecnologia”, comenta a gestora.
💼/🏠 O peso da dupla jornada
A história da artesã Fabíola Galvão, de Pedreira (SP), exemplifica os desafios enfrentados por mulheres que conciliam o empreendedorismo com a rotina doméstica. Durante a pandemia, ela iniciou sua trajetória produzindo máscaras de tecido enquanto cuidava da casa, de três crianças em idade escolar e do sogro idoso.
“Até hoje, todo dia é um pouco do atelier, um pouco das crianças, que não tem como. É a casa que tem que gerenciar, tem os cachorros também. Eu costumo dizer que é um dia de cada vez, todos os dias tem um desafio a ser enfrentado e superado. Hoje eu falo que é mais tranquilo gerenciar tudo isso porque já tá encaminhado, mas no início era bem exaustivo”, relembra a artesã.
Mesmo após formalizar a marca de costura criativa, Atelier Nha Chica, em 2021, a dupla jornada segue sendo um obstáculo constante para Fabíola, que frequentemente precisa transferir seu ateliê para a casa do sogro para continuar produzindo enquanto o auxilia nos cuidados diários.
“Como uma empreendedora que trabalha em casa, você é uma empresa sozinha, então você é todos os departamentos sozinha. Você é uma mulher ‘polvo’, digamos assim. Tem que ter braço para ser influencer, para ser o comercial, para ser o financeiro, a logística, é um desafio muito grande”, diz.
Boneca peso de porta produzida pela Fabíola
Fabíola Galvão/Arquivo pessoal
*Estagiária sob supervisão de Marcello Carvalho e Gabriella Ramos.
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