20 de novembro de 2024

Onde está a história do povo negro em Presidente Prudente?


Apagamento da cultura afro causa impacto na valorização da população. Presidente Prudente
Cedida/Secom
O Brasil é conhecido por ser um país miscigenado, visto que foi construído por povos de todas as etnias. A população negra, em especial, contribuiu fortemente para a cultura brasileira e, principalmente, por grandes evoluções da sociedade. Em contrapartida, os historiadores atuais encontram dificuldades para contar os marcos deixados por eles. Em Presidente Prudente (SP), no interior oeste do Estado de São Paulo, não seria diferente.
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Segundo Sueyla Ferreira da Silva dos Santos, doutora e supervisora do Núcleo de Negro de Pesquisa e Extensão (NUPE) da Univerdade Estudual Paulista (Unesp), houve um apagamento da cultura afro tanto em grandes capitais do país, quanto em cidades menores, como é o caso de Presidente Prudente.
Diante desta ausência surgem diversos questionamentos: onde está o legado do povo negro em Presidente Prudente? Quais memórias e narrativas de lideranças negras que o município tem preservado e passado adiante? Por que a população não reconhece os marcos do povo negro?
“Eu fiquei muito curiosa quanto a isso. Recentemente a gente [NUPE] fez algumas buscas para tentar resgatar esse legado. Por exemplo, onde estão os movimentos da cultura afro no nosso país, no nosso Estado, no nosso município? Eu acho que isso precisa ainda ser resgatado ”, enfatizou a pesquisadora.
Mas o que fazer para obter as informações históricas diante da lacuna deixada pelo passado? É um caminho árduo, mas que pode ter solução.
“Você tem que buscar muito a fundo, tem que ir até as comunidades, ouvir os nossos mais velhos para poder identificar onde está o nosso legado. Você não vai encontrar um busto, você não vai encontrar num museu, você não vai encontrar numa galeria. Ou seja, não é reconhecido dentro da história de Presidente Prudente todas as contribuições do povo negro. Mas ela existiu”, afirmou.
Reunião do Núcleo de Negro de Pesquisa e Extensão, em Presidente Prudente (SP)
Cedida
Os responsáveis por tentar fazer a ressurreição de grandes marcos da cultura afro são os movimentos sociais. Conforme Sueyla, tais organizações não-governamentais estão tentando resgatar marcos históricos para que a população conheça o passado do povo negro e construa um futuro rico de diversidade.
Esta busca já está em andamento e pretende reviver as contribuições importantes deixadas pelos antepassados. A história não deve morrer.
“São esses movimentos sociais, são esses projetos que estão tentando resgatar para a gente ter o registro dessa história e que ela possa reescrever a história de Presidente Prudente”, disse a supervisora do Núcleo de Negro de Pesquisa e Extensão.
Ausência de história em São Paulo
Integrantes do NUPE em monumento no bairro Liberdade, em São Paulo
Cedida
Segundo Sueyla ainda há muito o que descobrir sobre a população negra não apenas no canto oeste do interior, mas em todo o Estado.
“Eu acredito que a gente desconhece muito ainda a história da população negra, porque ela foi silenciada e apagada em todo o Estado de São Paulo, em todo o nosso país. Eu não sou natural do Estado de São Paulo, mas a partir da minha vinda para cá eu fui me questionando um pouco sobre onde estavam os negros nesse Estado? Qual o legado que deixou? E o que eu fui percebendo é que esse legado foi apagado e os movimentos sociais é que têm tentado resgatar isso”, disse ao g1.
Tal apagamento também reflete em um bairro emblemático de uma das principais capitais do continente sul-americano. Apesar do povo negro ter ajudado a construi-lo, outra etnia é exaltada diariamente no local.
“Por exemplo, o bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo, que tem uma identidade negra fortíssima, lá é onde tem o Pelourinho, onde tinha o Largo da Forca, lá era onde os negros moravam e hoje é considerado um bairro que celebra o Japão e a cultura japonesa. E a origem dele não é japonesa, não foram esses imigrantes que construíram o bairro Liberdade”, pontua Sueyla.
A escultura de Madrinha Eunice foi instalada em 2022 no bairro da Liberdade
Lyllian Bragança/ Arquivo pessoal
Primeiro feriado nacional ✊🏽✊🏾✊🏿
Nesta quarta-feira, dia 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra. Apesar da data estar no calendário dos brasileiros desde 2011, este será o primeiro ano que será feriado nacional.
A data foi escolhida para homenagear Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, que é símbolo nacional pela resistência a escravidão e enfrentamento ao racismo. Ele morreu dia 20 de novembro de 1695.
Mais de 320 anos depois, o Congresso Nacional aprovou a lei que transformou o Dia da Consciência Negra em feriado nacional a partir de 2024.
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