20 de setembro de 2024

Após dois meses, Conselho de Ética da Alerj escolhe relator do processo de cassação de Lucinha

Relator será o deputado Felipinho Ravis (Solidariedade). Em dezembro, Lucinha foi alvo da ‘Operação Batismo’, da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio, que apura a participação e a articulação política dela para beneficiar a milícia de Zinho. Deputada Lucinha (PSD)
Divulgação Alerj
O relator do processo que poderá culminar na cassação do mandato da deputada Lucinha (PSD) será Felipinho Ravis (Solidariedade). A escolha foi feita na manhã desta quarta-feira (3) durante uma reunião secreta com os sete membros do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que instaurou o processo ético-disciplinar contra a parlamentar.
A instauração do processo ocorreu dois meses após o plenário determinar a abertura da investigação na Casa. Na ocasião, os deputados decidiram que ela poderia retomar seu mandato, mas deveria responder um processo disciplinar no Conselho.
O prazo de 120 dias para o procedimento já começou a contar desde a última semana quando o presidente do Conselho de Ética, o deputado Júlio Rocha (Agir), recebeu o inquérito da qual Lucinha é investigada.
Os sete deputados do Conselho de Ética são: o presidente Júlio Rocha (Agir), a vice-presidente Martha Rocha (PDT), Jorge Felippe Neto (Avante), Felipinho Ravis (Solidariedade), Dani Monteiro (PSOL), Renato Miranda (PL), Cláudio Caiado (PSD). Também foram convocados os suplentes Dionísio Lins (PP) e Andrezinho Ceciliano (PT).
Deputada foi alvo de operação
Em dezembro, Lucinha foi alvo da Operação Batismo, da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio (MPRJ), que apura a participação e a articulação política dela para beneficiar a milícia chefiada por Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho.
De acordo com a investigação, ela seria o braço político da organização e teria o apelido de “madrinha”.
Lucinha nega participação na milícia. No seu retorno à Alerj, no fim de fevereiro, ela usou a tribunal do plenário da Alerj para dizer que não interferiu na política de segurança pública do RJ.
“Nunca tive qualquer envolvimento com nenhuma organização criminosa. Nunca fui braço da milícia, como dito por aí. Também nunca utilizei meu mandato para interferir na política de segurança pública. Todos sabem que sou uma deputada de oposição e como tal, não tinha acesso à cúpula da segurança do Estado”, destacou a parlamentar, afirmando que “no livro da minha vida não há espaço para o crime organizado”.
Preocupação em favorecer milícia
Lucinha foi flagrada em um áudio perguntando sobre como uma medida da Prefeitura do Rio poderia impactar nos negócios do grupo criminoso que controla parte da Zona Oeste da cidade.
A Polícia Federal interceptou uma troca de mensagens entre a deputada e o miliciano Domício Barbosa de Souza, o Dom, que é apontado pela polícia como o responsável financeiro da quadrilha de Zinho.
Nas mensagens gravadas em 2021, Lucinha tenta saber o que era melhor para a milícia em dos pontos mais lucrativos do grupo criminoso: o transporte alternativo. A deputada tenta saber se a milícia é a favor ou contra a liberação de vans da Zona Norte rodarem na Zona Oeste.
Lucinha: “Então você coloca um desses aí para poder explicar isso direitinho porque eu não consegui entender se isso é bom para vocês ou não é”.
Dom: “Se o prefeito acabar com a P5 já era. Os carros legalizados vão ter que voltar para as linhas de origem. Tem muito carro lá da Zona Norte rodando aqui.”
Lucinha: “Isso na hora ‘h’ eu fiquei meio em dúvida entendeu, Dom? (…) Se isso é bom ou se isso é ruim. (…) É ruim van da zona norte rodar na área da zona Oeste? Eu entendi que o cara falou então. Queria que você me explicasse.”
Brecha a favor da milicia
P.5 no diálogo significa ap5, ou seja, Área de Planejamento 5, que é como a prefeitura classifica administrativamente a parte da Zona Oeste do Rio, segundo divisão feita em 2012 pelo Instituto Pereira Passos.
As investigações da Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público, apontam que a milícia considerava bom que a prefeitura mantivesse a permissão para que vans da Zona Norte circulassem na Zona Oeste. Dessa forma, a quadrilha lucrava mais com as extorsões.
Nas conversas com Lucinha, o miliciano Dom afirma que o grupo criminoso quer que a permissão continue valendo.
“Essa brecha pra nós é ótima. Ele tem que manter”, disse Dom.
O diálogo entre a parlamentar e o miliciano ocorre um dia antes de uma visita do prefeito Eduardo Paes (PSD) à Zona Oeste, em setembro de 2021, durante a campanha eleitoral. Na época, Paes era candidato.
PF indica parceria
De acordo com as investigações da PF, a conversa entre Dom e Lucinha deixa claro que eles agiram juntos.
Em determinado momento do diálogo interceptado, quando ela pergunta se estava tudo providenciado para a visita de Eduardo Paes à região dominada pela milícia, Dom responde que iria providenciar um café da manhã para os convidados.
“Mandei botar o café da manhã e as lonas cadeiras. Acho que vão resolver lá quem vai falar os dois motoristas e também não tem como falar para senhora com exatidão as linhas que vão. Vai pegar um pouquinho de cada para falar porque senão vai dar ruim nas linhas”, explica Dom.
Ainda segundo os investigadores, Lucinha chega a orientar o miliciano sobre como devem agir os motoristas de van no local do encontro de campanha. Ela diz sobre como eles deveriam bater palmas no evento.
“Orienta também pra quando eu falar defendendo o transporte alternativo para baterem palmas. Pra eles saberem que nós estamos juntos. (…) Sempre lembrando que sem transporte alternativo o povo fica sem trabalhar”, orientou a deputada.
Em um diálogo com a assessora de Lucinha, Ariane de Afonso Lima, Dom também perguntou a data em que o prefeito iria à Zona Oeste.
Segundo a denúncia, Ariane respondeu imediatamente, e essa informação permitiu que o miliciano pudesse “se programar” e “retirar das ruas sua tropa armada”, impedindo, assim, a atuação do poder público na identificação e prisão dos integrantes do grupo.

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