20 de setembro de 2024

Motorista de Porsche dirigia em alta velocidade, tinha sinais de embriaguez, voz pastosa e estava cambaleando, dizem testemunhas

Homem e mulher contaram à polícia que estavam em outros carros e viram automóvel de luxo ultrapassá-los e acelerar até bater no veículo do motorista de aplicativo, Ornaldo Viana, que morreu. Condutor do Porsche, Fernando Filho, e amigo não prestaram socorro à vítima, segundo testemunhas. Testemunha contou que Fernando Sastre de Andrade Filho dirigia Porsche em ‘alta velocidade’ e estava com ‘sinais de embriaguez’
Reprodução/TV Globo
O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, condutor do Porsche Carrera de mais de R$ 1 milhão que, na madrugada do último domingo (31), matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, após bater no carro dele, dirigia em alta velocidade, tinha sinais de embriaguez, voz pastosa e estava cambaleando, segundo testemunhas ouvidas pela Polícia Civil.
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Um homem e uma mulher que viram o acidente prestaram depoimentos nesta terça-feira (2) no 30º Distrito Policial (DP), Tatuapé.
Eles relataram que trafegavam pela Avenida Salim Farah Maluf, na Zona Leste, quando o Porsche azul os ultrapassou e depois acelerou até bater na traseira do Renault Sandero branco.
O homem contou que um veículo o ultrapassou em alta velocidade. Na sequência, ouviu um forte barulho de colisão e viu o Porsche e o Sandero parados na via.
Ele parou o carro e foi tentar ajudar Ornaldo, que tinha “sangue no rosto” e estava “inconsciente”.
Além de confirmar que o Porsche ultrapassou o automóvel onde ela estava em alta velocidade, a mulher falou também que Fernando “aparentava sinais de embriaguez, cambaleando, voz pastosa e não sabia dizer o que estava acontecendo. Só pedia para sair da frente dele”.
Ela ainda contou que Fernando e o amigo, que também estava no Porsche, “em nenhum momento” prestaram “socorro” à vítima do Sandero.
As duas testemunhas ainda afirmaram que a namorada e a mãe de Fernando, mais outras mulheres que compareceram depois do acidente, queriam retirar o motorista do Porsche e o amigo do local. A testemunha afirmou que ela, além outras pessoas que foram ver o que aconteceu, não deixaram.
“Só vão sair daqui após o outro motorista ser atendido pelo resgate”, falou à polícia a testemunha sobre o que disse naquela ocasião.
O acidente
Motorista de Porsche que fugiu após matar motorista de app se apresenta à polícia
Reprodução/TV Globo
Por volta das 23h de 30 de março, um sábado, Fernando foi com seu Porsche azul 911 Carrera GTS, ano 2023, a uma casa de poker na Rua Marechal Barbacena, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo.
Ele estava com um amigo, de 22 anos. Os dois deixaram o local depois das 2h do dia 31, quando o empresário acelerou e bateu na traseira do Renault Sandero EXP branco, ano 2017, que era dirigido por Ornaldo.
Câmeras de segurança gravaram a batida que ocorreu na Avenida Salim Farah Maluf, que tem limite de velocidade de 50 km/h (veja vídeo abaixo). As imagens mostram o Sandero passando, o motorista pisando no freio para reduzir a velocidade, e depois surge o Porsche.
Em seguida ocorre a colisão traseira: o automóvel de luxo ainda ergue o carro do motorista de aplicativo, que bate num poste e é lançado na calçada. O Porsche também para depois. Ornaldo estava sozinho no carro. Ele chegou a ser socorrido com parada cardiorrespiratória e fraturas por uma ambulância dos Bombeiros, mas morreu ao chegar ao Hospital Municipal do Tatuapé. Tinha 52 anos.
Motorista não fez bafômetro
Vídeo mostra momento da batida de Porsche em carro de motorista de aplicativo
O amigo do motorista do carro de luxo foi levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital São Luiz do Tatuapé. As autoridades não informaram se ele ficou ferido. O jovem de 22 anos deverá ser ouvido pela investigação.
A Polícia Militar (PM), que atendeu a ocorrência, informou que liberou Fernando do local do acidente após a mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, dizer aos policiais que levaria o filho para o Hospital São Luiz do Ibirapuera, na Zona Sul, porque o rapaz estaria com um ferimento na boca.
Mas quando a PM foi depois ao hospital para tentar fazer o teste do bafômetro em Fernando, para saber se ele dirigia sob efeito de álcool, e ouvir sua versão para o acidente, não encontrou ele e nem a mulher. Por esse motivo, a Polícia Civil entendeu que ele fugiu.
Motorista de Porsche que matou motorista de aplicativo se apresenta à polícia
O 30º Distrito Policial havia registrado o caso inicialmente como homicídio culposo (sem intenção de matar), lesão corporal e fuga do local do acidente.
Fernando passou a ser procurado pelos policiais, mas acabou se apresentando na segunda-feira (1º), um dia após o acidente, na delegacia, onde acabou indiciado por homicídio por dolo eventual (quando se assume o risco de matar), lesão corporal e fuga.
Testemunhas que estavam em outros carros contaram à PM que o Porsche estava em alta velocidade, os ultrapassou, e o motorista perdeu o controle e bateu no Sandero.
Justiça negou prisão
Motorista de Porsche que matou condutor de Sandero e fugiu se apresenta em delegacia de SP
O 30º DP chegou a pedir à Justiça a prisão temporária do motorista do Porsche, mas a solicitação foi negada. A delegacia alegou que Fernando havia fugido do local do acidente, estava em alta velocidade e que precisaria ser preso porque a sociedade pedia sua prisão.
Mas a Justiça negou o pedido argumentando que o motorista já havia se apresentado na delegacia e dado depoimento. E que “gravidade” e “clamor público” não podem justificar a decretação para prender alguém. A polícia pretende pedir a prisão preventiva de Fernando após a conclusão do inquérito.
Em seu interrogatório, Fernando negou que tenha bebido e afirmou que trafegava seu Porsche “um pouco acima do limite” de 50 km/h para a via quando ocorreu o acidente. Disse que “viu a luz de freio de um veículo à frente acender e ao tentar desviar”, colidiu com ele.
O empresário não soube dizer aos policiais, no entanto, qual era a velocidade em que estava: “porém, não chegava ser muito acima também”.
A Polícia Técnico-Científica vai analisar as imagens para determinar qual era a velocidade do Porsche no momento da batida com o Sandero. O laudo pericial do Instituto de Criminalística (IC) irá informar se o carro de luxo estava em velocidade acima do limite para o trecho.
Fernando negou ainda que tenha fugido do local. Sua mãe, Daniela, a mãe de Fernando, também foi ouvida pela investigação. Ela confirmou que pediu autorização a PM para tirar o filho do local do acidente porque ele estava ferido e não havia ambulância para levá-lo. Mas que desistiu após receber ameaças por causa do acidente envolvendo seu filho.
A Polícia Militar informou ainda que irá apurar se os policiais militares erraram ao permitir que Fernando deixasse o local do acidente com a sua mãe para ir supostamente a um hospital, o que não ocorreu. A Ouvidoria da Polícia pediu para a Corregedoria da PM apurar o caso e também quer saber se os agentes usavam câmeras corporais para pedir as imagens.
A Polícia Civil, por sua vez, analisa se irá indiciar Daniela pelo crime de fraude processual pelo fato de a mãe de Fernando, segundo a investigação, ter impedido o motorista do Porsche de fazer teste do bafômetro e ter mentido ao dizer que o levaria a um hospital, mas não o fez.
Defesa cita ‘fatalidade’
Câmera de segurança gravou momento que Renault Sandero branco é atingido na traseira por Porsche Carrera azul em São Paulo
Reprodução/Redes sociais
A defesa dele, feita por um escritório particular de advocacia, divulgou nota à imprensa informando que seu cliente não bebeu e que o acidente foi uma “fatalidade”.
Fernando é sócio de uma construtora e estudou engenharia numa universidade particular em São Paulo. Ele tem seu nome citado no quadro de sócios de uma das empresas da sua família, a incorporadora Sastre Empreendimentos Imobiliários. E também aparece como único sócio da FF Andrade Serviços Administrativos.
Há cinco anos, Fernando foi aprovado em uma universidade privada da capital paulista, o Mackenzie, onde cursou engenharia civil por algum tempo. Segundo a instituição de ensino, ele não está matriculado lá desde 2021.
“Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim”, escreveu nesta segunda em seu Instagram, Luam Silva, filho de Ornaldo. Ele foi velado e sepultado no Cemitério Bonsucesso, em Guarulhos, Grande São Paulo.
Fernando Sastre Filho responderá pela morte de Ornaldo Viana
Reprodução/Redes sociais
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