20 de setembro de 2024

Após 14 anos de obras, ministra da Saúde anuncia inauguração de fábrica da Hemobrás na véspera de visita de Lula a Pernambuco

Fábrica de Fator VIII Recombinante, medicamento usado no tratamento de hemofilia A, contou com investimentos de R$ 1,2 bilhão. Presidente participa de inauguração, na quinta (4). Ministra da Saúde, Nísia Trindade, em entrevista coletiva sobre a Hemobrás, no Recife
Reprodução/TV Globo
O governo federal vai inaugurar, na quinta-feira (4), a nova fábrica de Fator VIII Recombinante da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). Feita sob a promessa de tornar o Brasil autossuficiente na produção de hemoderivados, a construção do complexo fabril, localizado no município de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, se arrasta desde 2010 e foi alvo de investigação, chegando a ser paralisada em 2016.
A fábrica de Fator VIII Recombinante, que contou com investimentos de R$ 1,2 bilhão, foi concluída no fim do ano passado e será inaugurada seis meses depois do previsto. Ela é uma das duas unidades que faltam para que todo o complexo industrial seja entregue, o que deve acontecer em 2025 (saiba mais abaixo).
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O anúncio foi feito nesta quarta-feira (3) pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, em entrevista coletiva no Recife, um dia antes da visita do presidente Lula (PT) a Pernambuco.
Além da fábrica em Goiana, o presidente participa de eventos em Arcoverde, no Sertão do estado, onde inaugura a estação elevatória de água bruta da Adutora do Agreste, e na capital pernambucana, onde sanciona a lei que cria o Sistema Nacional de Cultura.
De acordo com a Hemobrás, a nova fábrica tem capacidade para produzir, anualmente, 1,2 bilhão de unidades internacionais (UIs) do medicamento, utilizado no tratamento de hemofilia tipo A.
A previsão é que, após um processo de qualificação junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os medicamentos de produção 100% nacional comecem a ser distribuídos no Sistema Único de Saúde (SUS) no final de 2025.
“Ela [a fábrica] tem uma importância estratégica porque nós não podemos ser dependentes de produtos que são tão especiais em várias situações de problemas de saúde, desde doenças raras, como é o caso da hemofilia, até problemas de queimaduras (…). Do ponto de vista econômico, significa autonomia frente a medicamentos essenciais, domínio de uma tecnologia e capacidade de expansão até para novas tecnologias, além da redução de custo”, explicou a ministra Nísia Trindade.
Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadêlha, com o funcionamento da fábrica, o valor dos medicamentos repassado ao SUS deve ser reduzido em torno de 30%.
“Consequentemente, a gente vai ter um aumento na oferta desse medicamento, o que se traduz em qualidade de vida. Para o hemofílico, significa exatamente isso: quanto mais ele consome esse medicamento, melhor fica a condição orgânica dele de enfrentar o dia a dia”, afirmou o secretário. De acordo com o ministério, cerca de 12 mil pessoas no país têm hemofilia A.
Obra da Hemobrás foi paralisada em novembro de 2016
Reprodução/TV Globo
O que aconteceu com a fábrica da Hemobrás
A Hemobrás é uma empresa estatal vinculada ao Ministério da Saúde, com sede em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco;
Foi criada em 2005 com o objetivo de reduzir a dependência do Brasil em relação ao mercado externo no setor de hemoderivados – medicamentos que têm como matéria-prima o plasma humano, um dos componentes do sangue;
Com a fabricação dos hemoderivados, a expectativa é que o país seja capaz de produzir por conta própria medicamentos que hoje são importados para serem distribuídos no SUS, tornando as medicações mais acessíveis para a população;
O primeiro módulo da fábrica da Hemobrás entrou em operação em setembro de 2012, dois anos depois do início das obras, na cidade de Goiana, a 63 quilômetros do Recife. O projeto prevê, ao todo, 19 blocos, distribuídos numa área de 48 mil metros quadrados;
O empreendimento conta com um investimento de R$ 1,4 bilhão. Segundo a Hemobrás, até este ano, já foram gastos R$ 1,1 bilhão com as obras;
A construção foi interrompida em 2016 — ano em que a unidade deveria ter ficado pronta — após o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrar irregularidades no contrato com a empreiteira responsável pelas obras, cancelando o contrato. A investigação começou em 2015, como parte de operação da Polícia Federal (PF);
Na época, agentes da PF flagraram maços de dinheiro sendo arremessados de uma das janelas do prédio onde morava o então diretor-presidente da Hemobrás, Rômulo Maciel Filho, no Recife;
A diretoria da Hemobrás foi afastada por determinação da Justiça, após recomendação do Ministério Público Federal (MPF);
Em setembro de 2022, a Justiça Federal condenou três réus por envolvimento em fraudes na construção da fábrica;
Entre os condenados, estão dois ex-funcionários da Hemobrás e um representante da construtora Concremat Engenharia e Tecnologia S/A;
Segundo a Justiça, os três “agiram em conluio” na licitação para favorecer a construtora e desviar recursos públicos, incluindo no projeto e no edital para a contratação da empresa “cláusulas excessiva e injustificadamente restritivas”;
A fábrica de Fator VIII Recombinante era uma das duas unidades que faltavam para que a estrutura ficasse pronta completamente. A última é a unidade de hemoderivados, cujas obras devem ser concluídas em dois anos.
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