26 de dezembro de 2024

‘Já cozinhei para os dois mundos’: chef que serviu Lula e Yoko Ono abre tenda em rua de Ceilândia, no DF


Karl Max Enock Ramos da Silva, 54 anos, chefiou cozinhas de hotéis cinco estrelas e serviu celebridades. Atualmente, ele recebe clientes na Praça da Bíblia, no P. Norte, com pratos de qualidade a preços populares. Chef Karl Max usando a técnica de flambagem para preparar o macarrão gourmet.
Guilherme Chaves/g1
Karl Max Enock Ramos da Silva, 54 anos, é um chef que já esteve à frente de cozinhas de hotéis cinco estrelas onde serviu a “alta sociedade”. Entre os que experimentaram a comida do brasiliense estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José de Alencar, Yoko Ono, Matheus Nachtergaele, Lázaro Ramos, Malu Mader e Tony Bellotto
Quando passou um período desempregado decidiu, com a esposa, abrir uma tenda para vender comida em uma rua de Ceilândia, no Distrito Federal, onde mora há 35 anos.
“Já cozinhei para os dois mundos”, diz o chef.
Na “Tenda do Chef” Karl Max vende pratos com preços populares. “O nosso intuito é trazer uma comida de qualidade para a comunidade que não tem acesso aos hotéis cinco estrelas que eu cheguei a chefiar, com um preço justo e acessível”, diz Karl Max.
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Como tudo começou …
Chef Karl Max vende comidas de alta gastronomia com preço popular em Ceilândia.
Em 1994, Karl tinha 24 anos e dava aulas particulares de matemática em Ceilândia. Um tio dele o convidou para levar um currículo em um restaurante que estava para inaugurar em Brasília, o Maison de France, do chef francês Dominique Gerard.
O jovem largou as aulas de matemática e passou a limpar o chão e lavar as panelas da cozinha de Dominique. Karl Max conta que prestava atenção no que os cozinheiros e o chef faziam e que anotava o passo-a passo em seu bloquinho.
Quando o chef estava de folga, os cozinheiros o colocavam na cozinha “treinar”, e as habilidades de Karl chegaram aos ouvidos do chef francês que se tornou seu mentor. O jovem que diz que “mal fritava um ovo em casa”, começou a se destacar e o chef Dominique pediu ele tomasse conta do restaurante.
Por dois anos ele chefiou o local onde servia ministros, deputados e senadores.
“Eu nunca fiz curso nessa área, sou um autodidata. Tive os ensinamentos do chef Dominique Gerard e o dom de Deus”, diz Karl Max.
Hotel Nacional 🏨
Hotel Nacional de Brasília
Wikimapia/Reprodução
Após fechar o Maison de France, Dominique conseguiu um emprego para Karl no renomado Hotel Nacional, um dos primeiros de Brasília. Lá o chef era o suíço Michel Reymond que, ao perceber o talento do jovem com os pratos, com o público e com a equipe o promoveu a sub-chef de cozinha.
Após dois anos, ele virou chef executivo de cozinha internacional. À época, o hotel inaugurava um restaurante de cozinha francesa, o Belle Époque, que atendia muitas celebridades.
Artistas que vinham ao Distrito Federal para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ficavam hospedados no Hotel Nacional e eram servidos pelo chef Karl Max.
“Para que eles (os hóspedes) pudessem ter aquela memória afetiva, aprendi a fazer pratos de basicamente o mundo todo. O único prato que eu não consegui fazer foi barbatana de tubarão”, lembra o chef.
Karl Max recebeu então o que chama de “um convite irrecusável” para chefiar a cozinha do restaurante La Fontaine, no Carlton Hotel. Aceitou a proposta e passou seis anos chefiando a cozinha.
A ‘Tenda’ em Ceilândia
Tenda do Chef Karl Max localizada na Praça da Bíblia, em Ceilândia
Guilherme Chaves/g1
Em 2015, o chef Karl foi demitido do restaurante La Fontaine. Para não ficar sem trabalho, em 2016, sua esposa teve a ideia de vender comida na rua.
Eles começaram vendendo churrasco grego e escolheram a Praça da Bíblia, em Ceilândia, por ser perto de casa. Depois de um tempo, eles perceberam que o churrasco grego estava “batido” e começaram a vender pratos mais refinados, como massas gourmet e arroz à grega.
A Tenda do Chef Karl Max se popularizou e logo pessoas de várias partes de Brasília estavam indo até a Praça da Bíblia experimentar o cardápio.
“O nosso intuito é trazer uma comida de qualidade para a comunidade que não tem acesso aos hotéis cinco estrelas que eu cheguei a chefiar, com um preço justo e acessível”, diz Karl Max.
Cardápio do Chef🧑🏽‍🍳
Macarrão Gourmet
Risoto
Arroz à Grega
Sanduba da Praça
Omelete
Salada Fitness
Sobremesas
A Tenda do Chef é atualmente um ponto de referência no P. Norte e Karl Max uma espécie de líder comunitário. As pessoas procuram o chef para falar sobre os problemas que afetam a região, e ele brinca dizendo que “é uma espécie de ouvidoria do GDF”.
Entre tantos que passam por lá, Karl se comprometeu a ajudar, por dois anos, um jovem que precisava de apoio para custear um curso profissionalizante. Para isso, nas quartas-feiras, o chef vende a “baguete solidária”, que serve duas pessoas – 20 centímetros de pão com um recheio diferente a cada semana, por R$ 30.
Uma vez por ano, ele e outros chefs de diferentes lugares assam costelas em fogo de chão para a comunidade. Para degustar, os clientes entregam um quilo de alimento não perecível. As doações são distribuídas na região do Sol Nascente.
Chef Karl Max mostrando a baguete solidária que serve até duas pessoas.
Guilherme Chaves/g1
‘Karl Max’ ou ‘Karl Marx’❓
O chef tem um nome parecido com o do filósofo alemão, o “pai do comunismo” Karl Marx. Ele conta que o nome foi ideia de sua mãe, que estudava na Escola Industrial de Taguatinga (EIT) e tinha um colega chamado Karl Marx, que era uma pessoa querida por ela e pelos outros colegas.
“Ela não conhecia a origem do nome e acreditava que se colocasse o mesmo nome do colega, ele cresceria e seria parecido com ele”, conta o chef. Karl nasceu em 1970, em plena ditadura militar.
Seu pai, que era bombeiro militar, foi ao cartório registrar o filho com o mesmo nome do criador da teoria do marxismo, que analisa a sociedade através da luta de classes e propõe a transição do capitalismo para o comunismo. Foi uma longa negociação.
“O funcionário do cartório não queria colocar o meu nome, tentou trocar para ‘Carlos Marques’, mas meu pai quis igual o do filósofo, Karl Marx, M-A-R-X”, conta Max.
Por fim, o oficial de cartório disse que registrou como o pai pediu. No entanto, quando chegou em casa para mostrar a certidão, estava faltando a letra R.
O pai de Karl voltou ao cartório, fardado, para pedir para trocar e adicionar a letra. O processo na época era muito demorado, então, ele decidiu manter do jeito que estava, conta o chef.
Karl Max diz que “sofre um pouco por causa do nome”. Nas redes sociais, ele recebe muitos comentários sobre Marx, alguns criativos, outros maldosos, mas diz que não se importa.
“Levo muitas vezes na brincadeira, acho até engraçado alguns comentários”, diz Karl Max.
Tenda do Chef Karl Max 🥘
📍 LOCAL: Praça da Bíblia – P. Norte, Ceilândia-DF
🕖FUNCIONAMENTO: Abre às quartas, quintas, sábados e domingos, das 19h às 0h
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