Obra dividiu críticos, gerou debates e virou símbolo de desigualdade. Criador não lucrou com a venda da peça, que foi devorada. O feirante que cobrou centavos pela banana que virou obra de arte, arrematada a R$ 36 mi
Tudo começou numa banquinha de frutas em uma esquina de Nova York.
Foi dela que saiu a banana de 35 centavos de dólar que se tornaria a mais cara do mundo… depois de ser colada na parede com uma fita adesiva.
Na sexta-feira (29), ela foi devorada em uma coletiva de imprensa, realizada em um hotel de luxo em Hong Kong, pelo empresário chinês que pagou 6 milhões de dólares (o equivalente a R$36 milhões) por ela.
A valorização astronômica aconteceu em apenas 30 passos — a distância entre a banquinha de frutas e a Sotheby’s, uma das principais casas de leilões de arte e luxo do mundo, onde a banana foi exposta e arrematada.
Quando deixou a barraquinha, a banana era apenas uma fruta. Depois que cruzou as portas da casa de leilões, tornou-se uma obra de arte.
Esses 30 passos foram suficientes para valorizar a fruta em 1.200.000.000% (1 bilhão e 200 milhões por cento). Mas essa história não segue uma linha reta; ela passa por muitos lugares.
O primeiro deles é Miami. Em 2019, o artista italiano Maurizio Cattelan — conhecido por esculturas controversas e satíricas — apresentou a obra, que incluía um manual de instruções sobre como fixar a banana com fita adesiva e autorização para substituí-la quando apodrecesse.
Página do leilão Sotheby’s
leilão Sotheby’s
A obra, chamada Comedian, gerou debates acadêmicos sobre o valor e o humor na arte.
O consultor David Norman, que recentemente participou da venda de pinturas do impressionista Claude Monet, destacou:
“É uma grande piada… As pessoas sabem quanto vale uma banana. Mas, no mundo da arte, cultura e intelectuais, há outra escala de valores para atribuir a um objeto.”
Não é a primeira vez que a banana vira arte.
Carmen Miranda a levou para Hollywood na metade do século passado, transformando-a em uma marca icônica.
Em 1967, o artista pop Andy Warhol estampou uma banana na capa do álbum The Velvet Underground & Nico, considerada até hoje uma das mais importantes da história da música.
Nesta semana, artistas anônimos espalharam bananas coladas por Nova York.
Artista come banana que vale US$ 1 milhão
Ironia ou não, apesar da popularidade da obra, Cattelan, seu criador, não ganhou nada com o último leilão. A Sotheby’s vendeu a peça de um colecionador anônimo. Em cinco minutos, sete compradores disputaram o item, até que o empresário Justin Sun arrematou a banana por 6 milhões de dólares.
“Hoje, quanto mais dinheiro é pago por uma obra, mais importância ela parece ter… Há também uma grande crítica e tristeza pela desigualdade e pelo uso desse dinheiro em vez de ser destinado a outros fins”, pontuou David Norman, consultor de arte.
O empresário que venceu o leilão anunciou nas redes sociais que compraria cem mil bananas da mesma banquinha. Mas, segundo o jornal The New York Times, o dono do pequeno comércio não recebeu nenhuma proposta.
Na banquinha de frutas, Shah Alam, um imigrante de Bangladesh que vive em Nova York há 15 anos, aluga um quarto em um bairro pobre, não fala inglês fluentemente e ganha 12 dólares por hora. Ao descobrir o valor pago pela banana que havia vendido horas antes, Alam chorou.
“A cabeça desse homem não deve estar funcionando direito para pagar tudo isso”, disse ele ao Fantástico.
Talvez a banana não seja apenas uma crítica bem-sucedida ao funcionamento do mundo da arte. Talvez ela também seja um irônico troféu da desigualdade.
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