27 de dezembro de 2024

Galípolo sinaliza ‘juros elevados por mais tempo’


Futuro presidente do BC ressaltou que a desancoragem das expectativas de inflação é um incômodo ‘há muito tempo’ para os diretores da autarquia e defendeu que o trabalho da autoridade monetária é justamente reancorá-las. Galípolo é sabatinado no Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira que o cenário econômico atual aponta para uma política monetária “mais contracionista” por parte da instituição, sinalizando “juros mais altos por mais tempo” no Brasil.
Falando em um evento organizado pela XP, ele disse ser “lógico” tal direcionamento para a taxa Selic diante de uma economia com maior dinamismo do que o esperado e uma moeda mais desvalorizada, mas se recusou a fornecer um guidance para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Parece relativamente lógico imaginar isso e (foi) em cima desse movimento que aconteceu ao longo do ano que o Banco Central foi migrando gradativamente de um ciclo de corte para uma pausa e (para) o ciclo de alta de juros”, disse o diretor do BC.
Ele disse que a autarquia iniciou um ciclo de cortes de juros em agosto de 2023, que levou a Selic a 10,50% ao fim do período de afrouxamento, por haver uma perspectiva de desaceleração da economia brasileira naquele momento, que tem se “frustrado sistematicamente”.
O Copom realizará seu último encontro do ano nos dias 10 e 11 de dezembro, com operadores especulando sobre se as autoridades optarão por elevar a Selic, atualmente em 11,25% ao ano, em 0,50 ou 0,75 ponto percentual, em meio a uma maior desancoragem das expectativas de inflação do mercado.
Galípolo assumirá a presidência do BC a partir de janeiro. O diretor ressaltou que a desancoragem das expectativas de inflação é um incômodo “há muito tempo” para os diretores da autarquia e defendeu que o trabalho da autoridade monetária é justamente reancorá-las.
Segundo ele, o BC tem os instrumentos necessários para perseguir o centro da meta de inflação — de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — e que qualquer discussão sobre uma mudança na meta é um “não tema” para os membros da autarquia.
“Sou da máxima que acho estranho que quem persegue a meta possa determinar a própria meta. Mas esse é um tema (com a) página virada”, afirmou.
Galípolo defendeu que a banda de tolerância é um mecanismo para “eventuais choques”, indicando também que o mais importante para o BC é definir a direção correta, uma vez que há “várias maneiras” de se atingir a meta de inflação.
Desafios globais
Galípolo nomeou uma série de desafios globais no atual cenário econômico, incluindo a desaceleração da economia da China e as incertezas sobre o futuro dos Estados Unidos com a iminência do governo do presidente eleito, Donald Trump.
No entanto, o diretor defendeu que o Brasil está em uma “posição robusta” para enfrentar tais desafios, apontando para o câmbio flutuante e as reservas internacionais como mecanismos de defesa “bastante relevantes”.
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