11 de novembro de 2024

Pesquisa da Fiocruz revela que 92% dos indígenas de 9 comunidades Yanomami estão contaminados com mercúrio

Exames clínicos feitos pelos pesquisadores mostram que 25% das crianças menores de 11 anos têm anemia e 80% altura abaixo da ideal para a idade. Pesquisa mostra que quase todos indígenas de nove comunidades na Terra Yanomami estão contaminados com mercúrio
Uma pesquisa da Fiocruz revelou que quase todos os indígenas de nove comunidades da Terra Indígena Yanomami estão contaminados com níveis muito altos de mercúrio.
As imagens feitas em outubro de 2022 mostram crianças passando por avaliações de pesquisadores da Fiocruz. Eles queriam saber o nível de contaminação por mercúrio entre os indígenas que vivem em aldeias próximas aos garimpos ilegais. Ao todo, os pesquisadores visitaram nove comunidades e coletaram amostras de cabelo de 287 indígenas do subgrupo Ninam.
As comunidades que participaram da pesquisa ficam às margens do Rio Mucajaí, um dos mais impactados pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami. O mercúrio é usado por garimpeiros para separar o ouro de outros sedimentos. Após isso, esse metal que é altamente tóxico é jogado nos rios e entra na cadeia alimentar dos animais, o que prejudica diretamente a saúde da população indígena.
O resultado da pesquisa, que contou com o apoio do Instituto Socioambiental, saiu agora e é preocupante:
94% indígenas estão contaminados com mercúrio;
84% deles com nível acima de 2 microgramas por grama;
10,8% acima de 6 microgramas por grama.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os níveis de mercúrio em cabelo não devem ultrapassar 1 micrograma por grama.
Os riscos à saúde causados pelo uso de mercúrio no garimpo
“Esse mercúrio não tem cura, não tem remédio. Então, agora imagina, para população yanomami, estão infectados, contaminados, porque as crianças estão morrendo de contaminação de mercúrio”, diz Dário Kopenawa, vice-presidente da Associação Hutukara.
Segundo a Fiocruz, essa contaminação impacta a capacidade cognitiva das crianças.
“Houve lesões neurológicas no cérebro dessas crianças que são irreversíveis e essas crianças vão se tornar adultos com deficiências também cognitivas, com déficit de inteligência”, alerta Paulo Basta, médico e pesquisador da Fiocruz.
Os pesquisadores também fizeram exames clínicos para identificar doenças crônicas não transmissíveis, como transtornos nutricionais, anemia, diabetes e hipertensão: 25% das crianças menores de 11 anos, por exemplo, tinham anemia e 80% altura abaixo da ideal para a idade.
“Esses indicadores revelam uma situação bastante preocupante sobre a qual o governo federal precisa se debruçar, precisa pensar em estratégias articuladas”, acrescenta Paulo Basta.
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, explicou os projetos do governo para essa população indígena:
“Essa é uma situação prioritária para o Ministério da Saúde. Colocamos vários pesquisadores que estudam esse tema e, através da Fiocruz e o do IEC – Instituto Evandro Chagas -, que fazem parte do Ministério da Saúde, estamos elaborando agora um protocolo clínico de acompanhamento dessas populações atingidas por intoxicação por mercúrio”.
LEIA TAMBÉM
Em 9 comunidades Yanomami, 94% dos indígenas têm alto nível de contaminação por mercúrio
Profissão Repórter acompanha a rotina dos profissionais de saúde na Terra Indígena Yanomami
Malária, fome, garimpo: Profissão Repórter mostra situação dos Yanomami um ano após ação do governo

Mais Notícias