21 de setembro de 2024

Saga de um Cabloco da Amazônia: conheça a história do empresário santareno Manoel Ivair Chaves

Ivair Chaves deixou um legado de homem visionário, empreendedor e defensor incansável do progresso social na Amazônia. Manoel Ivair Chaves durante um passeio pelo rio Tapajós
Arquivo Pessoal
Nascido em Santarém, no oeste do Pará, Manoel Ivair Chaves enfrentou desde cedo as adversidades da vida. Órfão de mãe Nazaré Paiva Chaves ainda bebê, foi obrigado a enfrentar os desafios da vida sem o conforto materno, moldando assim sua resiliência e determinação desde os primeiros anos.
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Ivair Chaves nasceu em 7 de abril de 1939 e faleceu em 18 de março de 2024, deixando um legado de homem visionário, empreendedor e defensor incansável do progresso social na Amazônia. A morte aos 84 anos, se deu por uma complicação de aneurisma, segundo o filho dele, Alexandre Chaves, informou ao g1.
Foi casado com Veleida Chaves por mais de 64 anos, e com ela o empresário construiu uma família com 7 filhos. “Eu sou o caçula de seis irmãos, e além deles, tenho um irmão adotivo, o Moisés. Meus pais, mesmo com mais de 50 anos e seis filhos criados, decidiram adotar um bebê recém-nascido, o Moisés. Agora, somos uma família de sete irmãos”, contou Alexandre Chaves.
Ivair Chaves e esposa
Arquivo Pessoal

Infância
Com uma infância marcada pela falta de oportunidades educacionais, Manoel Ivair não teve acesso a uma educação formal, limitando-se 4ª série no grupo escolar Frei Ambrósio. No entanto, sua sede de conhecimento e sua vontade de superar as dificuldades o levaram a buscar outras formas de aprendizado, tornando-se um autodidata em muitas áreas.
“O papai cresceu aqui no Centro, na 15 de Novembro, depois que minha avó morreu e meu avô teve outra família, era muito grande, eram muitos filhos, e aí o papai tinha que trabalhar e estudar e acabou não avançando nos estudos, só fez o que hoje é equivalente ao ensino médio”, destacou Alexandre.
Ivair vendeu jornal, foi engraxate, empacotador nas lojas Pernambucanas, carregador de barro em olaria. Também foi aprendiz e trabalhou como torneiro mecânico na oficina do Sr. João Pereira e na tornearia de José Esteves (o mestre Cazuzinha)
Depois atuou como maquinista, vendedor ambulante e gerente do barco Celeste, sendo responsável pelas viagens da embarcação aos 17 anos. Foi para Belém, onde trabalhou em posto de combustível antes de ingressar no serviço militar.
Manoel Ivair Chaves deixa lacuna no segmento empresarial de Santarém
Reprodução / Redes sociais
Nascido em uma família com tradição naval, Ivair Chaves viu desde cedo o chamado do serviço militar. Ao se alistar na Marinha, seu destino parecia traçado para seguir os passos de seu avô e de seu pai Chico Chaves, que também serviram na Marinha. Determinado e ambicioso, ele avançou em sua carreira, tornando-se fuzileiro naval e sendo designado para o Rio de Janeiro.
“Outra história curiosa também, ele se alistou na Marinha, foi para Belém, era marinheiro com meu avô. Papai seguiu a profissão e tornou-se marinheiro também. Se alistou na Marinha, foi avançando, ele era fuzileiro naval, já estava no Rio de Janeiro como fuzileiro naval e desertou, e para não ser preso, na época, ele também serviu o Exército”, relembrou o filho.

Da Fazenda ao Comércio
Tudo começou quando o pai de Ivair Chaves se aposentou, deixando uma vaga que ele prontamente assumiu, a pedido do próprio patrão, Dr. Lauro Correa. Ivair assumiu o posto de capataz de duas fazendas. Logo, ele expandiu os horizontes, embarcando em empreendimentos comerciais ao lado do Dr. Lauro, parceiro de negócios.
Ele percebeu também a necessidade de explorar novas oportunidades na cidade, e foi então que montou seu próprio comércio. Sua visão o levou a buscar fornecedores em regiões distantes, como o Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus, onde encontrou produtos a preços acessíveis, impulsionando seus negócios na cidade de Santarém e na região ribeirinha.
Ivair Chaves investiu em caminhões e se tornou um dos pioneiros na importação de mercadorias via terrestre para Santarém. Assim foi expandindo seus horizontes empresariais. A habilidade em negociar diretamente com as fábricas evidenciou sua sagacidade empresarial e sua capacidade de adaptação às mudanças do mercado. Ele não apenas adquiriu produtos de qualidade a preços competitivos, mas também estabeleceu parcerias duradouras, garantindo o crescimento contínuo de seus negócios.
“Daí o papai viu a necessidade de sair do interior para a cidade, porque ele já tinha um comércio, umas tabernas bem sortidas, mas ele achava que os comerciantes da época ganhavam muito, ainda vendiam muito caro para ele, e aí ele teve a ideia de vir para Santarém procurar outros fornecedores, e aí como ele já conhecia o Rio de Janeiro, lá no sudeste, falaram que em Manaus ou em São Paulo tinha muita mercadoria para vender barato. Naquele tempo Santarém tinha pouca oferta, década de 60, então papai teve a ideia, com um grupo de amigos que já faziam esse roteiro”, contou Alexandre.
Mulheres empresárias
Por sua visão empreendedora, Ivair Chaves ocupou muitos cargos de liderança, entre eles, o de presidente da Associação Comercial de Santarém. Em seu mandato, ele promoveu iniciativas para fomentar o emprego e criar oportunidades tanto para jovens quanto para mulheres empresárias. Em 1999, foi criado o Conselho da Mulher Empresária de Santarém.
“Isso criou muita oportunidade”, afirmou Rose Fonseca, atual presidente do Conselho.
Rose enfatizou a importância de Ivair Chaves como um líder visionário que percebeu o talento das mulheres e os benefícios de sua inclusão ativa no mundo dos negócios. “Ele dizia assim: ‘Eu vou aprender com vocês’. A mulher tem realmente essa capacidade de resolver vários problemas ao mesmo tempo. Então, a gente só faz agradecer”, compartilhou Rose.
Essa abertura de oportunidades e reconhecimento do potencial feminino com a instalação do Conselho da Mulher Empresária em Santarém, não apenas beneficiou as mulheres individualmente, mas também impulsionou a economia e a sociedade como um todo. Hoje, Rose olha para trás com gratidão pelo progresso alcançado.
Cargos que ocupou
Além das atividades empresarias, com destaque para os segmentos de concessionária de veículos e máquinas, pecuária e empreendimentos imobiliários, Ivair Chaves desempenhou muitas funções ao longo de sua vida em Santarém. Foi um dos fundadores e também presidente do Sindicato Rural de Santarém (Sirsan); presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (Aces); presidente, vice-presidente e conselheiro da Fundação Esperança; também presidiu a Associação de Menores e Amigos Dom Tiago (Amandoti), entidade sem fins lucrativos, que atende crianças em situação de vulnerabilidade; foi vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Pará.
Sempre foi envolvido com ações sociais
Arquivo Pessoal
O empresário foi uma grande uma referência de doação, empenho e incentivo ao desenvolvimento econômico do município, sendo exemplo de abnegação de seus próprios interesses por causas coletivas.
A Saga de um Caboclo da Amazônia
Em 7 de abril de 2009, na festa em comemoração ao seu aniversário de 70 anos, Ivair Chaves lançou a o livro autobiográfico “Saga de um Caboclo da Amazônia”, em que conta parte do desenvolvimento do município de Santarém a partir dos anos 60.
Após a morte do empresário, o pesquisador Cristóvam Sena prestou homenagem a Ivair Chaves com um texto que destaca justamente a autobiografia do empresário. Veja abaixo:
“Ao escrever sua autobiografia Saga de um caboclo da Amazônia narrando a história da sua fantástica vida, fica a impressão, pra quem não o conheceu, que ele estava delirando.
Na introdução, Ivair explica que não escreveu apenas para os amigos mais próximos, mas também para os seus filhos, netos e bisnetos saberem como foi difícil conseguir algumas coisas na vida com honestidade e trabalho. E Ivair passa a narrar a história de sua odisseia improvável, desde quando era um jovem em busca de sua identidade até se tornar próspero empresário.
Sua visão social o levou a empreender em parceria com a Dra. Clara Takaki Brandão, o projeto Casulo, hoje denominado Creche SEARA (Associação Santarena de Estudos e Aproveitamento dos Recursos da Amazônia), entidade criada em 1978 que até hoje atende crianças de 1 a 5 anos de idade, localizada no bairro de Santana, em Santarém.
Além de receber os filhos dos pais com dificuldade e carência em saber onde deixar os filhos durante o tempo de trabalho, a Creche educa e combate a desnutrição das crianças. Dra. Clara revolucionou a alimentação na Creche com a criação da famosa multimistura, um pó que no início era produzido com folha de taioba, folha de macaxeira e farelo de arroz.
Ivair fundou a “Associação de Menores e amigos de Dom Tiago”, que acolhe crianças de quatro a oito anos, oferecendo aulas de reforço escolar, cidadania, recreação e alimentação, com a finalidade de formar crianças cidadãs ensinando-lhes direitos e deveres, funcionando hoje em prédio próprio.
Foi um dos fundadores do Sindicato dos Produtores Rurais de Santarém. Como presidente deu apoio aos universitários participantes do Projeto Rondon, alunos que vinham de Florianópolis fazer intercâmbio em Santarém. Sua fazenda Santana do Ituqui servia de base de treinamento para a última aula prática dos estagiários do Projeto Rondon.
Como presidente da Associação Comercial de Santarém no período de 1999/2000, Ivair promoveu o 1º Seminário de Geração de Emprego e Renda, realizou a climatização do auditório Mário Mendes, criou o Conselho da Mulher Empresária e deixou encaminhado a criação do Conselho de Jovens Empresários.
Em dezembro de 2019 recebi a visita do Ivair Chaves no ICBS, tinha assistido na televisão a reportagem sobre o lançamento da 4ª edição do livro Tupaiulândia do Paulo Rodrigues dos Santos, veio para adquirir um exemplar.
Conversamos bastante, ele não conhecia o Instituto, elogiou nosso trabalho e aproveitou para falar de um livro que estava escrevendo sobre a sua experiência vivida nas últimas seis décadas, com foco no agronegócio, extrativismo e mineração na região do Oeste do Pará.
Ficou de me trazer o texto para eu trabalhar e preparar a boneca para ele ver. O tempo passou, envolvido por seus afazeres pessoais, Ivair acabou esquecendo. Uma pena!
Se no livro ”Saga de um caboclo da Amazônia” Ivair nos conta sua história de vida, nesse inédito e anônimo livro que pretendia publicar, tudo leva a crer que fala sobre uma das bases econômicas da região numa visão não acadêmica, mas fruto do seu conhecimento prático, daqueles que colocam a mão na massa.
Manoel Ivair Chaves nasceu no dia 07 de abril de 1939 e faleceu dia 18 de março de 2024″, escreveu Cristóvam Sena.
A saga de Ivair Chaves é sem dúvida daquelas histórias que inspiram gerações…
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