21 de setembro de 2024

‘É difícil atender rigorosamente 5 ou 10 minutos de intervalo’, admite diretor da SPTrans sobre atrasos nos ônibus da cidade de SP

Usuários narram que espera por ônibus chega a mais de 50 minutos diariamente e tem gerado revolta e quebra-quebra. Mas Wagner Chagas Alves, diretor de operações da SPTrans, afirma “ser normal” os usuários de todas as regiões reclamarem: “Trabalhador pega 5h, 6 horas da manhã. Para ele ficar cinco, dez minutos no ponto é difícil”. Diretor da SPTrans admite que empresa não consegue reduzir intervalos de ônibus para 5 ou 10 minutos na cidade de SP
Pressionado pelo aumento constante das reclamações sobre atrasos e superlotação de ônibus na cidade de São Paulo, o diretor de operações da SPTrans, Wagner Chagas Alves, admitiu nesta quinta-feira (5) que a empresa não consegue reduzir os intervalos entre os coletivos da capital.
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Em entrevista ao SP2, Chagas afirmou “ser normal” os usuários de todas as regiões reclamarem da longa espera por um coletivo, especialmente nas periferias e nos horários de rush da manhã.
“É normal eles reclamarem, eu também reclamaria, né? Eu também reclamo quando vou tomar o ônibus, porque, o que que acontece, você tem uma cidade que é difícil… difícil atender rigorosamente cinco minutos de intervalo, 10 minutos de intervalo [entre os ônibus]. Você não consegue fazer isso. É muito difícil”, afirmou (veja vídeo acima).
“E o trabalhador pega 5h, 6 horas da manhã. Para ele ficar cinco, dez minutos no ponto é difícil. A gente sabe disso. Mas a gente procura fazer o melhor possível para que ele tenha um transporte de qualidade, transparência para ele reclamar. (…) E a gente sempre dá atenção em todas as reclamações, todas sem exceção”, completou.
Reclamações sobre a frota de ônibus na capital atingem todas as regiões
O SP2 vem mostrando há dois dias que as reclamações sobre as linhas de ônibus da capital têm crescido e irritado os usuários (veja vídeo acima).
O estopim foi o quebra-quebra ocorrido no Terminal Varginha, na Zona Sul, na noite de 21 de março.
Naquela ocasião, passageiros cansados da espera de quase duas horas por um ônibus da linha 6072/10 Jd. São Nicolau – Term. Varginha se irritaram e quebraram um balcão do fiscal da empresa Transwolff, que cuidava da linha.
Durante a manhã, na ida para o trabalho, a espera supera os 50 minutos, segundo contam os passageiros:
“Às vezes eu chego a ficar esperando 50 minutos, até 1 hora. Não gosto não. Por vezes prefiro pegar um Uber do que pegar o ônibus, mas não tem o que fazer, porque não dá pra pegar Uber todo dia, né?”, disse a estudante Beatriz Sales, moradora da Zona Sul.
Passageiro promove quebra-quebra por causa da demora dos ônibus no Terminal Varginha
Desculpas e pouca mudança
Após a confusão de março, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) pediu desculpas aos usuários e prometeu solução para o caso em até 24 horas.
Um dia depois do quebra-quebra, a SPTrans transferiu seis linhas que operam na Zona Sul para outras empresas, com o objetivo de desafogar o atendimento da Transwolf na região.
Mas na noite de quarta-feira (3), o SP2 voltou ao Terminal Varginha e constatou que o problema persiste na maior parte das linhas transferidas para as empresas Mobibrasil e Viação Grajaú.
Na linha 6072/10 Jd. São Nicolau – Term. Varginha, alvo do quebra-quebra no fim de março, os usuários afirmaram que no período da noite ao menos cinco filas diferentes se formam para conseguir pegar um ônibus da linha, que continua sendo administrada pela Transwolff (veja vídeo abaixo).
Linhas da zona sul ainda são alvo da reclamação de passageiros
Somente após a chegada da reportagem, novos ônibus da empresa foram surgindo para atender os usuários. Alguns dos veículos foram tirados de outras linhas, para evitar o registro das longas filas no Terminal Varginha.
Como as reclamações dos ônibus vem de toda a cidade, não só da zona sul, o prefeito Ricardo Nunes admitiu nesta quinta (4) que a fiscalização da SPTrans precisa melhorar.
“Uma das vezes eu cheguei lá, na SPTrans de surpresa, pedi o relatório e não me deram o relatório, evidentemente fiquei muito bravo e a partir dali eles passaram a fazer a contratação de um sistema, um software mais avançado que vai nos dar muito mais assertividade nessa fiscalização”, afirmou Nunes.
O prefeito de SP, Ricardo Nunes (MDB), durante coletiva de imprensa no Terminal Pinheiros, na Zona Oeste, nesta quinta (21).
Reprodução/TV Globo
Troca de empresas na Zona Sul
A SPTrans anunciou em 21 de março que trocou a empresa operadora de seis linhas de ônibus que operam nos terminais Varginha e Parelheiros, na Zona Sul.
As seis linhas eram operadas pela empresa Transwolff e vinham sendo alvo de muita reclamação da população. A decisão sobre a troca aconteceu justamente após o quebra-quebra observado no Terminal Varginha, após os usuários da região esperarem mais de duas horas por um veículo.
Passam a ser operadas pela Viação Mobibrasil:
695D/10 Jd. Sta. Bárbara- Metrô Jabaquara
6002/10 Cid. Dutra – Hosp. Pedreira
677V/10 Jd. Alpino – Est. Grajaú
6110/10 Conj. Hab. Palmares – Aeroporto
Passam a ser operadas pela Viação Grajaú:
6026/10 Jd. Icaraí – Term. Sto. Amaro
637V/10 Pq. América – Term. Sto. Amaro
“Com a mudança, as linhas operadas pela Transwolff que atuam nas regiões dos Terminais Varginha, Parelheiros e Grajaú, terão uma nova programação operacional para garantir a boa qualidade do serviço, envolvendo rapidez, conforto, regularidade e segurança, conforme exigido pela SPTrans”, disse a SPTrans em comunicado.
“A operação também terá ônibus maiores, haverá a substituição de ônibus menores (Midônibus e Básicos) por modelos com maior capacidade (Padron)”, declarou a gestão Nunes.
Desculpas do prefeito de SP
Nunes pede desculpas aos usuários por atrasos nos ônibus na Zona Sul e chama empresa de ‘irresponsável’
Por causa da confusão no terminal, o prefeito de São Paulo pediu desculpas aos passageiros da Zona Sul e chamou o atraso da empresa de “inaceitável e irresponsável”.
“É absolutamente inaceitável o que fizeram com os usuários e eu vi as imagens do terminal ontem. O Levy já convocou os responsáveis da empresa para poderem ir na SPTrans e apresentarem soluções para essa situação”, disse o prefeito na época.
“Não vou aceitar isso em hipótese alguma. Deixo aqui meu pedido de desculpas àquelas pessoas que ficaram horas esperando o ônibus por uma ação irresponsável de uma empresa que tem a concessão do transporte em SP. Nós vamos tomar atitudes, seja de multas, seja de suspensão, seja de adequação de linhas, seja de algum problema operacional da nossa parte que precisa acontecer”, completou.
Passageiro promove quebra-quebra no Terminal Varginha, na Zona Sul de São Paulo, na noite desta quarta-feira (20).
Reprodução
O que disse a empresa de ônibus
Por meio de nota, a concessionária Transwolff disse que “lamenta o ato de vandalismo no Terminal Varginha na noite desta quarta, dia 20 de março” e disse que registrou boletim de ocorrência da ação.
A empresa, entretanto, admitiu que não está prestando os serviços de forma adequada para a população.
“Essa manifestação de duas pessoas, e não da população, corrobora como suspeita. Admitimos que a operação não está no padrão Transwolff, mas isso não justifica essa cena lamentável de destruição do patrimônio público. Pedimos desculpas para a população e vamos resolver estas questões muito em breve”, declarou a empresa.
Subsídio de R$ 5,3 bilhões
Vale lembrar que durante todo o ano de 2023, a Prefeitura de SP gastou R$ 5,3 bilhões do orçamento municipal para subsidiar as empresas de ônibus e manter a tarifa congelada em R$ 4,40. Apesar disso, o número de reclamações dos usuários cresceu 51% em um ano (veja vídeo abaixo).
Cresce número de reclamações de ônibus
Para 2024, os cálculos da SPTrans apontam que a cidade vai gastar cerca de R$ 7,2 bilhões para o subsídio do transporte ea capital, já que o prefeito Ricardo Nunes optou por manter a tarifa congelada pelo quarto ano seguido, em virtude do ano eleitoral.
“Desde 2020 houve aumento real nos preços dos insumos que definem o valor do custo do sistema de transporte, o que ocasiona aumento na necessidade de investimento. Ao mesmo tempo, desde então a tarifa de ônibus tem sido mantida no valor de R$ 4,40 para garantir o acesso da população ao transporte público, sem impactar no orçamento das famílias”, disse a gestão Nunes.

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