22 de setembro de 2024

Em ‘década de crises’, frota de Campinas envelhece e 7 em cada 10 veículos têm mais de 10 anos; entenda

Economista da PUC destaca que instabilidade do país desde 2014 impactou na compra de bens duráveis como veículos, e provocou ‘inversão’ na frota da metrópole no período; atual momento, no entanto, indica recuperação. Foto de arquivo do trânsito na Avenida Andrade Neves, em Campinas (SP)
Fernando Evans/G1
As crises poíticas e econômicas acumuladas nos últimos dez anos, aliadas com os impactos da pandemia da covid-19, deixaram marcas em diversos setores da sociedade brasileira, e um deles é perceptível nas ruas de Campinas (SP). Entre 2014 e 2024, a frota da metrópole “envelheceu” consideravelmente, e atualmente, sete em cada 10 veículos têm 10 anos ou mais de fabricação.
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Para efeito de comparação, em fevereiro de 2014, a proporção em Campinas era bem diferente: a parcela acima de 10 anos de fabricação representava 48,7% da frota, ou seja, a maioria dos carros, caminhões, motos, ônibus e utilitários era de modelos mais novos.
As informações fazem parte de um levantamento do g1 a partir de dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).

Entenda abaixo, na avaliação do economista Roberto Brito de Carvalho, da PUC-Campinas, os motivos que explicam a mudança no cenário na última década, e o que esperar dos próximos anos.
País ‘andou de lado’
Tentativa de recuperação
Perspectiva positiva

País ‘andou de lado’
Para analisar os números em Campinas, o economista contextualiza o cenário vivido pelo Brasil desde 2014, com uma série de crises políticas, financeiras e institucionais que fizeram o país “andar de lado”, criando um clima de instabilidade com “evidente impacto econômico”, e que transformou esse envelhecimento da frota uma consequência natural dado as circunstâncias.
Roberto Brito de Carvalho explica que o veículo como bem de consumo foi deixado de lado pelas famílias diante de dificuldades financeiras, e que a compra de bens duradouros, como são os veículos, dependem de uma cenário econômico mais favorável.
“O veículo como bem de consumo duradouro, ou seja, das famílias, acaba de certa forma também sendo negligenciado a aquisição em função das incertezas relacionadas ao mercado de trabalho. Se a gente olhar para esse período, período da pandemia, de muita dificuldade financeira, de queda da renda, isso dificultou muito a aquisição desse tipo de bem, que necessita de algum horizonte de tempo maior de aquisição”, pontua.
Carros novos em concessionária.
Fabio Tito/g1
O economista da PUC destaca também que a frota também é impactada por veículos comerciais, e que também foram impactados no período.
“Olhando sob a ótica da formação bruta de capital fixo, mais especificamente aqui, aqueles que são de frota de empresas, também sofreram queda de aquisição, porque além de nós termos esse cenário de insegurança, de dúvidas em relação à atividade econômica, a gente passou mais recentemente por um período muito duro de taxas de juros bastante elevadas”, explica Carvalho.
O economista Roberto Brito de Carvalho
Departamento de Comunicação PUC-Campinas
Tentativa de recuperação
Passado o período de instabilidade, os números do setor – e do cenário econômico em geral – começaram a reagir a partir de 2023. Em fevereiro do ano anterior, o percentual de veículos com mais de 10 anos de fabricação chegou a 72,7% na metrópole, e apresentou uma leve recuperação desde então.
“Olhando o horizonte do último ano, a gente tem uma série de situações que mudam bastante. Primeiro que de 2023 para 2024, a gente já se distancia um pouco mais da pandemia, o processo de retomada da atividade econômica já está completado, e a gente entra já em 2023 em outro cenário a partir de um novo governo que conseguiu garantir rapidamente algum nível de previsibilidade futura, com indicadores positivos, como queda da taxa de desemprego e queda da taxa de juros”, explica.
Um outro fator que entra na equação em 2023 é o programa de descontos para carros populares – a estimativa do governo federal é que 125 mil veículos tenham sido vendidos no período em que vigorou o incentivo.
“A gente pode chamar de uma política industrial verticalizada para o setor automobilístico, que incentivou a comercialização de veículos de baixa motorização, com selo verde e com alto nível de nacionalização ou com maior nível de nacionalização em prol de vendas. Isso, de uma certa forma, ajudou bastante algumas empresas que vinham com dificuldade de comercialização”, pontua o professor da PUC.
Planta da Toyota do Brasil em Indaiatuba
Toyota do Brasil / Arquivo Pessoal
Perspectiva positiva
O economista avalia que o atua cenário, com a frota envelhecida, mas uma condição econômica com indicadores mais favoráveis, cria uma perspectiva de longo prazo diferente, onde há condições mais adequadas para a compra desse tipo de bem, em geral, por meio de financiamentos.
“O índice de confiança do consumidor passa a influenciar a decisão. Quando ele olha para frente, ele acredita que vai ter emprego, acaba por assumir parcelas a serem pagas de longa duração, dois, três anos, em alguns casos cinco anos, e a perspectiva econômica de crescimento, como aconteceu ano passado, também impõe às empresas investimentos na frota, seja para o seu processo de renovação, seja para novas atividades econômicas”, analisa Roberto Brito de Carvalho.
Segundo a avaliação do professor da PUC, caso “as coisas permaneçam na direção que estão apontadas”, a tendência que é, que nos próximos anos, a idade da frota seja renovada e ocorra uma reversão desse percentual em Campinas.
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Reprodução/EPTV
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