22 de setembro de 2024

Ziraldo morre aos 91 no RJ; velório será aberto ao público no domingo

O velório vai ser no domingo(7), às 10h da manhã, no Museu de Arte Moderna do Rio. O sepultamento será no Cemitério São João Batista. Ziraldo morre aos 91 no RJ; velório será aberto ao público no domingo
Morreu neste sábado (6), no Rio, aos 91 anos, o cartunista e escritor Ziraldo.
O nome – diferente – era uma combinação criativa dos pais: dona Zizinha e seu Geraldo. Assim surgiu Ziraldo, o mais velho de sete irmãos.
E logo descobriu que tinha talento.
“Quando eu era menino, eu lembro que eu estava fazendo alguma bagunça ou fazendo alguma arte, mamãe dizia ou meu pai: vai desenhar, menino, vai desenhar, menino, porque quando eu desenhava eu ficava sossegado”, contou o cartunista em uma entrevista.
E assim Ziraldo Alves Pinto, mineiro de Caratinga, desenvolvia a habilidade que o tornou famoso e reconhecido.
A carreira começou nos anos 50 em jornais e revistas como o Jornal do Brasil, O Cruzeiro, a Folha de Minas.
E explodiu na década de 60 com o lançamento da primeira revista brasileira em quadrinhos feita por um só autor: a ‘Pererê’.
Ziraldo morreu aos 91 anos, em sua casa, no Rio de Janeiro
Reprodução
Ziraldo foi um dos fundadores do ‘Pasquim’ durante a ditadura militar. O semanário combatia e driblava a censura do regime com bom humor, malícia e inteligência.
“Todo esse pessoal que está aparecendo nas páginas do Pasquim, todo mundo começou a sua profissão fazendo charge política. Ninguém fez cartum sobre costumes, piadinhas vazias, não. Todo mundo fez coisa política e virou uma missão, né? Uma coisa assim: vamos lutar, virou uma espécie de guerrilha pelo humor, uma coisa assim”, contava Ziraldo.
Ele foi preso pelos militares, um dia depois da edição do AI-5, em 1968. Por suas publicações e por proteger colegas perseguidos, enfrentou a prisão mais duas vezes.
Ziraldo nunca foi de medir as palavras, nem a ironia nos traços.
“Uma imagem, quando ela vai fundo e toca, ela vale por mais de mil palavras”, afirmava.
Morre Ziraldo, criador de ‘O Menino Maluquinho’, aos 91 anos
Ziraldo foi ‘pai’ do Menino Maluquinho, fundou jornal ‘O Pasquim’ e publicou primeiro desenho aos seis anos
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No último programa do Jô, levou de presente uma série de caricaturas criadas pro amigo ao longo dos anos.
“Essa aqui é minha eterna. Essa aqui que fiz, liguei pra você e disse: Jô, eu fiz assim pá, depois só liguei pra você de noite. Rapaz, fiz caricatura sua, não posso fazer outra de novo. Dá uma mão de obra fazer caricatura sua, porque você é bonito”, brincou no último programa.
Em 1967, o mestre das imagens criou uma pintura de quase 200 metros quadrados no Canecão, tradicional casa de shows do Rio de Janeiro. Cenas bíblicas num cenário carioca, onde os personagens celebram com os copos cheios.
Mas no decorrer da vida, a literatura infantil acabou virando a grande paixão.
“O meu negócio, com relação aos meus bonecos infantis, é procurar a forma mais simples de desenhar um menino, uma menina, todos eles tem a carinha redondinha, eu só mudo as feições, os tracinhos da cara, o penteado no cabelo, mas a estrutura é a mesma pra todos, isso é a busca de simplicidade mesmo”, afirmou.
‘Flicts’, seu primeiro livro pra crianças, foi publicado em 1969. Contava a história de uma cor diferente, que não se encaixava em lugar nenhum.
Mas foi nos anos 1980 que veio o grande sucesso: ‘O Menino Maluquinho’, um dos maiores fenômenos editoriais no Brasil de todos os tempos. O livro vendeu milhões de exemplares e foi adaptado pro teatro, pros quadrinhos, pra internet. Virou ópera infantil, videogame e dois filmes.
“Mudou a minha vida aos 50 anos, aos 48 anos, quando eu fiz O Menino Maluquinho, a minha vida mudou completamente, porque eu virei essencialmente um autor infantil”, diz.
O menino que vive com uma panela na cabeça, sapeca e aventureiro, emocionou crianças e adultos nas telonas.
Ziraldo publicou mais de 180 títulos. Teve livros traduzidos em sete idiomas e lançados em onze países.
“Tem um amigo meu que fala, que eu não vim à vida para me divertir. Eu vim à vida a serviço. Eu trabalho muito, eu trabalho muito, mas eu tenho a sorte de fazer as coisas que eu faço”, contou Ziraldo.
E era muitos: pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista, escritor. Mas, acima de tudo, perfeccionista.
“Eu acho que eu sou ótimo, enquanto todo mundo não achava que eu sou ótimo, igual eu acho, eu tenho que lutar para poder provar. Cara, você não está vendo que eu sou ótimo? Não, você é mais ou menos. Então eu vou fazer de novo”, brincava.
Esforço reconhecido no mundo todo. Ziraldo ganhou prêmios internacionais como o Hans Christian Andersen, o mais importante da literatura infanto-juvenil. E o Oscar do humor em Bruxelas, na Bélgica.
“Eu acho o negócio da palavra uma coisa sensacional, então, uma frase… E escrever tem um negócio de desafio, você nunca está garantido que a sua frase está perfeita, nem Shakespeare”, afirmava.
Os traços coloridos e o alto astral de Ziraldo foram parar nos sambódromos – do RJ e de SP. Ele foi enredo da Tradição e da Nenê de Vila Matilde.
A ligação do artista com o carnaval é antiga. Ziraldo foi um dos fundadores de um blocos mais tradicionais do rio: A Banda de Ipanema.
Em 2018, sofreu um AVC hemorrágico e ficou quase um mês internado.
Em 2021, ganhou uma homenagem na comemoração dos 100 anos do Museu Histórico Nacional. Uma exposição dedicada aos mais de 70 anos de carreira. Foi a primeira vez que Ziraldo saiu de casa desde o AVC.
Um artista que soube caminhar junto com as mudanças dos tempos. E nunca desistiu de defender um Brasil melhor.
Ziraldo morreu no sábado (6) à tarde, na zona sul do Rio. Estava em casa, dormindo.
O adeus desse desse menino de 91 anos, que vai deixar saudade. E um vazio enorme no coração de milhões de admiradores que aprenderam, com ele, a ver o mundo com humor e simplicidade. Basta usar todas as cores que existem na nossa imaginação.
“Eu acredito no imponderável. Acredito em energia, que você pode ajudar o outro com seu amor, essas coisas todas. Acho que a vida é cheia de energia”, dizia.
O velório vai ser no domingo(7), às 10h da manhã, no Museu de Arte Moderna do Rio. O sepultamento será no Cemitério São João Batista.

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