22 de setembro de 2024

Perto de ser vendida, Avibras vive crise financeira há pelo menos dois anos; relembre

Com funcionários em greve e salários atrasados, a companhia bélica brasileira informou nesta semana que está em tratativas avançadas para ser vendida a uma empresa australiana. Avibras em Jacareí, SP
André Luís Rosa/ TV Vanguarda
Em ‘tratativas avançadas’ para ser vendida a uma empresa australiana chamada DefendTex, a Avibras – uma companhia bélica brasileira – tem vivido uma grave crise financeira que se arrasta há pelo menos dois anos.
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A possibilidade de venda da empresa sediada em Jacareí, no interior de São Paulo, foi revelada na noite da última segunda-feira (1°). Ainda não há previsão do negócio ser concluído – leia mais detalhes abaixo.
O primeiro grande sinal da crise que atinge a Avibras aconteceu em março de 2022, quando cerca de 400 trabalhadores foram demitidos. Desde então, a situação piorou.
O último relatório de atividades da empresa aponta para uma dívida de quase R$ 640 milhões. Desse valor, mais de R$ 74 milhões são por salários e rescisões em atraso até dezembro de 2023. O Sindicato dos Metalúrgicos afirma que os funcionários estão há 11 meses sem receber salário.
Imagem de arquivo – Trabalhadores da Avibras protestam contra atrasos de salário
Divulgação
Relembre abaixo os principais pontos da crise da Avibras:
Demissões
Em 18 de março de 2022, a empresa demitiu cerca de 400 trabalhadores na fábrica em Jacareí. Na época, o Sindicato dos Metalúrgicos informou que não houve nenhum comunicado prévio ou tentativa de negociação sobre medidas para evitar as demissões, como adoção de um layoff (suspensão de contratos), por exemplo.
A fábrica alegou que teve de adotar “ações de reestruturação organizacional da empresa, mantendo as atividades essenciais para o cumprimento dos compromissos contratuais assumidos junto aos seus clientes”.
Imagem de arquivo – Trabalhadores da Avibras protestam contra atrasos de salário
Divulgação
O Sindicato dos Metalúrgicos recorreu à Justiça do Trabalho e conseguiu reverter o corte, mas a situação na companhia nunca mais foi a mesma. Com a readmissão, a empresa colocou funcionários em layoff (modelo de suspensão temporária dos contratos de trabalho), que foi prorrogado diversas vezes.
Os trabalhadores, então, entraram em greve em setembro daquele ano, reivindicando a garantia de estabilidade de trabalho, pagamento dos salários atrasados e também para que a empresa adotasse um sistema de trabalho rotativo, no qual os grupos se revezem entre o layoff e o trabalho na fábrica.
Atualmente cerca de 800 trabalhadores estão em greve e outros 400 funcionários estão em layoff.
Recuperação judicial
Ao mesmo tempo em que fez o corte, a Avibras pediu à justiça a recuperação judicial alegando dívida de R$ 600 milhões, no dia 22 de março de 2018. Em julho de 2023, credores aprovaram o plano de recuperação judicial da empresa. Em fevereiro deste ano o pedido foi homologado.
A recuperação judicial serve para evitar que uma empresa em dificuldade financeira feche as portas. É um processo pelo qual a companhia endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça.
Imagem de arquivo – Trabalhadores demitidos da Avibras fazem passeata por pagamento de verbas rescisórias
Roosevelt Cássio/ Sindicato dos Metalúrgicos de SJC
Salários atrasados
Ainda segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, os funcionários da Avibras estão há 11 meses sem receber salário da empresa.
Após o comunicado de que a empresa pode ser vendida à uma companhia internacional, a associação que representa a categoria informou que seguirá mobilizando os metalúrgicos pela regularização dos salários.
Graves e manifestações
Toda essa situação provocou diversos protestos por parte dos funcionários da empresa. No último dia 14 de março, trabalhadores fizeram uma manifestação em frente à empresa. O ato reuniu cerca de 100 funcionários e aconteceu para reivindicar o pagamento de salários atrasados.
Imagem de arquivo – Trabalhadores da Avibras fazem protesto na Rodovia dos Tamoios em São José dos Campos
Danilo Ferrara
Antes disso, diversas outras ações foram realizadas, como por exemplo a greve.
Em abril de 2023, trabalhadores bloquearam uma pista da Rodovia dos Tamoios. O protesto durou cerca de uma hora e os funcionários caminharam por aproximadamente dois quilômetros cobrando o pagamento dos salários atrasados.
Dias depois, no início de maio, os trabalhadores fizeram uma manifestação em frente à sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro.
Imagem de arquivo – Trabalhadores da Avibras fazem manifestação em frente ao BNDES, no Rio de Janeiro
Cris Cunha/Divulgação/Sindicato dos Metalúrgicos
Negociação para venda
A empresa DefendTex, da Austrália, negocia a aquisição da Avibras, indústria brasileira do setor de Defesa que enfrenta uma crise financeira há pelo menos dois anos.
Segundo a Avibras, que está em processo de recuperação judicial, a negociação está avançada e visa a sua recuperação econômica. Confira trecho do comunicado publicado pela Avibras:
“A Avibras Indústria Aeroespacial e a DefendTex comunicam que vêm mantendo tratativas avançadas para viabilizar um potencial investimento que visa a recuperação econômico-financeira da Avibras, de forma a manter suas unidades fabris no Brasil, retomar as operações o mais breve possível e manter o fornecimento previsto nos contratos com o governo brasileiro e demais clientes.”
O comunicado diz ainda que as duas companhias estão empenhadas “para finalizar os termos e condições específicas do investimento e manterão o mercado informado”.
Empresa australiana negocia aquisição da Avibras, companhia bélica brasileira
Histórico da Avibras
Maior indústria bélica do país, a Avibras Aeroespacial foi fundada em 1961 por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP).
É uma das primeiras empresas nacionais a atender o setor aeroespacial e desenvolve tecnologia para as áreas de Defesa e Civil. A organização foi uma das primeiras no Brasil a construir aeronaves, desenvolver e fabricar veículos espaciais para fins civis e militares.
A empresa tem sede em Jacareí, no interior de São Paulo. A Avibras está presente no mercado nacional e internacional. Desenvolve diferentes motores foguetes para a Marinha do Brasil e para a Força Aérea Brasileira, além de produzir sistemas fixos ou móveis de C4ISTAR (Comando, Controle, Comunicação, Computação, Inteligência, Vigilância, Aquisição de Alvo e Reconhecimento) e Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) – o Falcão.
Avibras
Reprodução/ TV Vanguarda
De acordo com o professor da Unicamp e especialista em indústria aeronáutica Marcos José Barbieri Ferreira, a crise da Avibras é consequência da falta de incentivos do Governo Federal para exportação de produtos de Defesa fabricados no país.
“O que é destinado ao investimento em Defesa no Brasil é insuficiente. Um volume de recursos muito pequeno. Além disso, é um volume irregular. Há uma variação muito grande de investimentos de um ano para o outro”, avalia Marcos.
Fábrica da Avibras em Jacareí
Reprodução/TV Vanguarda
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